BENEFÍCIOS TERAPÊUTICOS DA AROMATERAPIA NO AUTOCUIDADO DE MULHERES E HOMENS COM ESTOMAS INTESTINAIS:
DA PERCEPÇÃO AO PROTAGONISMO EM ENFERMAGEM
Resumo
Introdução: O autocuidado é descrito como a capacidade do indivíduo de cuidar de si, bem como incluir habilidades para incorporar ou excluir coisas específicas, a partir da compreensão de seus significados em entender suas necessidades incluindo mudanças que possam trazer bem-estar e promoção de saúde(1). Segundo a Teoria do Autocuidado de Enfermagem de Dorothea Orem, as pessoas podem cuidar de si próprias, para sua reabilitação e cuidados primários, devendo ser estimuladas a serem independentes o máximo possível, sendo esse o principal objetivo da Enfermeira no processo de cuidar(2). Em relação a pessoa que convive com o estoma intestinal poderá enfrentar diversas modificações nos aspectos físicos, estéticos, emocionais e sociais, podendo levar ao desenvolvimento de sentimento de impotência, baixa autoestima, dificuldade no convívio social, restrição nas atividades de lazer e resistência na relação sexual, visto que a bolsa de colostomia é um dispositivo que modifica a fisiologia de eliminação intestinal, passando esta a ser involuntária e através da região abdominal. Em virtude dessa problemática, faz-se necessário incluir estratégias de autocuidado que auxiliem na autoaceitação, bem-estar e interação social(1,3). Neste cenário contamos com a aromaterapia, uma prática que utiliza os efeitos terapêuticos dos óleos essenciais para promover bem-estar de uma forma integrativa abrangendo os aspectos físicos, piscoemocionais e espirituais(3) Objetivo: descrever os efeitos terapêuticos da aromaterapia no autocuidado de mulheres e homens com estomas intestinais a partir dos autorelatos. Método: trata-se de um estudo exploratório e descritivo de abordagem qualitativa realizado em um Centro Especializado em Reabilitação de referência no estado da Bahia, Brasil. Participaram da pesquisa 11 pessoas com estomas intestinais, sendo seis mulheres e cinco homens, que passaram por entrevistas individuais em profundidade com realização da aromaterapia, as coletas ocorreram entre os meses de outubro de 2022 a janeiro de 2023, de forma remota, mediada através do aplicativo WhatsApp®, a partir dos recursos de áudio, vídeo e conversação. Quanto à inclusão dos participantes foi estabelecido os seguintes critérios: ser mulher ou homem, adultos, vivendo com estoma intestinal. Foram excluídos os participantes que desistiram durante uma das etapas do estudo. A utilização da aromaterapia como estratégia de cuidado para as mulheres e homens com estomas intestinais, se deu através do uso dos óleos essenciais via inalatória e tópico. No primeiro momento, a entrevista foi guiada por um instrumento semiestruturado, que explorou as características sociodemográficas, de saúde e relacionadas com experiências prévias de cuidado utilizando a aplicação da aromaterapia. No segundo momento, após a aplicação da aromaterapia os mesmos participantes responderam a questões relacionadas à experiência recente, a exemplo de: Conte-me a sua experiência de auto cuidar-se com o uso da aromaterapia; descreva-me como foi para você incluir a aromaterapia na rotina do seu autocuidado diário? Conte-me sobre sua experiência de cuidado com você usando a aromaterapia nestas últimas semanas? Para a etapa da vivência foram utilizados óleos essenciais de lavanda (lavanda – lavandula officinalis), peppermint (mentha piperita) e bergamota (citrus & bergamia). O desenvolvimento da pesquisa vinculou-se a um estudo de dissertação de mestrado em Enfermagem e Saúde, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Federal da Bahia, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil. Atendeu as normativas éticas em pesquisa, mediante a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, sob o parecer de número: 5.506.266/2022. Foram aplicados os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido em todos os participantes, sendo conferida a anuência dos mesmos para a participação nas etapas de pesquisa e de implementação. Os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo Reflexiva(5) e interpretados à luz da Teoria do Déficit de Autocuidado de Dorothea Orem. Resultados: Os participantes da pesquisa se identificaram como mulheres (seis) e homens (cinco), na faixa etária de 30 a 75 anos, heterossexuais, casados, na sua maioria com baixo nível de escolaridade, raça/cor pretos, solteiros e/ou separados. Apresentaram como principal motivo da implantação do estoma a neoplasia de intestino, com a confecção do tipo colostomia, de definição temporária, com apresentação de comorbidades associadas e queixas clínicas frequentes: insônia ou sono perturbado, ansiedade, tristeza, desânimo, dor abdominal, sintomas respiratórios (tosse, coriza), dor no corpo (muscular), isolamento social. A partir dos resultados foi estabelecido os seguintes temas para explicação do fenômeno: Tema 1 - Voltar a estar bem consigo próprio/a, Tema 2 - Dormir mais e melhor é restaurador, Tema 3 - Controlar as emoções leva ao alcance do bem-estar psicoemocional, Tema 4 - Reduzir os mal-estares físicos motiva a adesão do autocuidado, Tema 5 - Ampliar ações de autocuidado para controle de desconfortos físicos não relacionados ao estoma, Tema 6 - Contornar desconfortos gastrintestinais e alterar o cuidado apreendido. Esses temas foram estruturados a partir do Tema Gerador Inicial denominado de: “Autocuidado mediado pela aromaterapia”, associando aos pressupostos de autocuidado da Teoria de Orem. Por fim, evidenciou-se que a introdução da aromaterapia ajuda no autocuidado e bem-estar diários das pessoas com estoma intestinal, melhorando o ritmo e qualidade do sono, gestão emocional e relaxamento, redução da ansiedade e fadiga, redução de desconfortos abdominais com alívio da dor e diminuição da produção de gases e desconfortos intestinais. Conclusão: Foi demonstrado a adesão ao autocuidado a partir da aromaterapia com o emprego de óleos essenciais, refletindo sobre os padrões de bem-estar físico e emocional dos participantes e potencializando a sua capacidade criativa ao possibilitar que o autocuidado seja expandido para além do estoma intestinal. Em vista disso, a pesquisa trouxe avanços significativos a partir do conceito de “autocuidado” para a fundamentação teórica na produção do conhecimento científico de enfermagem, na identificação do autocuidado e dos seus requisitos na experiência humana de mulheres e homens em convivência com os estomas intestinais. Ademais, os resultados podem apoiar as ações de promoção e reabilitação à saúde, além de contribuir para uma assistência de enfermagem humanizada, holística e integralizada e para a incorporação de práticas integrativas no cotidiano do cuidado individualizado, além de colaborar no planejamento e aplicação do processo de enfermagem na prática de profissionais enfermeiras especialistas, estomaterapeutas, atuantes em unidades de atenção primária em saúde, ambulatoriais, centros especializados de reabilitação e assistência domiciliar.