COMPREENSÃO DO ESTIGMA VIVENCIADO POR MULHERES E HOMENS COM ESTOMAS DE ELIMINAÇÃO INTESTINAL:

ESTUDO DE CASO EM DESENVOLVIMENTO

Autores

  • ISABELLA FÉLIX MEIRA ARAÚJO UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • SORAIA DORNELLES SCHOELLER UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
  • OSCAR JAVIER VERGARA ESCOBAR UNIVERSIDADE JUAN N CORPAS EM BOGOTÁ
  • ANDERSON REIS DE SOUSA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • EVANILDA SOUZA DE SANTANA CARVALHO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Resumo

Introdução: Pessoas submetidas à confecção cirúrgica de estoma intestinal perdem o controle de produção das fezes através desse procedimento, e isso representa um fator limitante em sua qualidade de vida, podendo trazer repercussões negativas e estigmatizantes nas dimensões psíquicas, emocionais e sociais(1). Segundo Goffman, o estigma se caracteriza enquanto uma marca atribuída às pessoas, sendo construído através das relações sociais, no qual aquelas que não se enquadram aos padrões de normalidade da sociedade são excluídas, inferiorizadas e tomadas como não pertencentes a determinado grupo, dito superior(2). A literatura científica demonstra que o fenômeno do estigma se revela de maneira interseccional e dinâmica nas pessoas com estomas de eliminação intestinal, no qual se identifica que as características socioeconômicas, raciais, faixa etária, gênero e o tempo de permanência de estoma contribui para a vivência singular do estigma por cada indivíduo(3-4). Vivenciar esse processo de estigmatização gera alterações na autoestima, isolamento social, situações de constrangimento, baixa satisfação nas atividades de vida diária e transtornos psicoemocionais, além das dificuldades para buscar e aderir a tratamentos de saúde disponibilizados. O profissional de enfermagem se faz presente desde o período pré-operatório até os serviços especializados de reabilitação. Deve-se assistir essa pessoa de maneira individualizada, humanizada e integrada, buscando compreender suas singularidades, seus determinantes interrelacionais e atores sociais envolvidos no cuidado, no intuito de agregar ao processo de enfermagem a identificação da vivência do estigma, a partir de evidências objetivas e subjetivas, identificando os diagnósticos de enfermagem e construindo o plano de cuidados na perspectiva de ofertar suporte para a ressignificação dessa vivência e do enfrentamento da estigmatização(5). Objetivo: Compreender o fenômeno da estigmatização vivenciado por mulheres e homens com estomas de eliminação intestinal. Método: Trata-se de um estudo de caso único, de natureza qualitativa e caráter reflexivo e analítico derivado de um estudo de tese de doutorado em desenvolvimento, sendo realizado com vinte e cinco mulheres e homens com estomas intestinais, tendo um cenário híbrido de produção de dados: o cenário físico inicial - Serviço de Atenção à Saúde da Pessoa com Estomia, do Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação da Pessoa com Deficiência, localizado no município de Salvador – Bahia, e o cenário virtual, sob a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação. Foram incluídos a) mulheres e homens com estomas intestinais, b) adultos e/ou idosos e c) busca pelo SASPE do Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação da Pessoa com Deficiência e acessados pelas outras ambiências. Quanto aos critérios de exclusão, definiu-se: apresentar incapacidade clínica para realizar as entrevistas no momento da produção dos dados, dentre esses: a) sintomas gripais; b) presença de dor intensa e instabilidade hemodinâmica. Este processo se dará mediante ao suporte e a avaliação das enfermeiras do serviço. Foi utilizada a técnica de entrevista individual em profundidade norteada através de instrumento semi-estruturado para levantamento das características sociodemográficas, clínicas, laborais e de saúde, e a aplicação de questão norteadora, permitindo uma relação estreita entre as pessoas e para a definição do número exato de entrevistas a serem realizadas será considerado o critério de saturação, além de observação participante e construção de notas de campo, guiadas por um roteiro de observação. A produção e análise dos dados estão sendo norteadas segundo os pressupostos da Análise de Conteúdo Temático Reflexiva e todos os dados organizados e sistematizados sob o auxílio do Software NVIVO12®. No que se refere aos aspectos éticos e legais, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, pelo qual obteve parecer favorável sob o protocolo n.º 5.472.902. Conforme Resoluções 466/2012, 510/2016 e 580/2018 do Conselho Nacional de Saúde, o participante foi abordado com explicações a respeito do estudo, tendo sido garantido o anonimato e assegurado o caráter opcional de sua participação. Após estes esclarecimentos e a resposta positiva em participar do estudo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado em duas vias pela pesquisadora e os sujeitos. Resultados: A partir desse estudo têm-se revelado que as pessoas com estomas intestinais vivenciam o processo de estigmatização nas interações com seus familiares, pessoas em geral e profissionais de saúde. Assumem medidas de autopreservação, como o isolamento social, ocultamento da bolsa de colostomia, na tentativa de evitar exposição a situações estigmatizantes, privação de hábitos prazerosos e fragilidades no letramento em saúde. Ademais, o fenômeno do estigma nessas pessoas tem se mostrado mediado por marcas da doença e do tratamento, no qual os mesmos se percebem diferentes e experienciam o preconceito no seu ambiente de convivência. Faz elencar os componentes característicos do estigma como o afastamento, descrédito, perda do status, discriminação e a aplicação de rótulos e estereótipos. Outros aspectos são percebidos como dificultadores e consequentemente favorecem a estigmatização dessas pessoas, a exemplo das barreiras de acessibilidade aos serviços especializados e banheiros adaptados, déficit na ambiência e acolhimento dos profissionais das unidades, problemas nas ações integradas entre os diferentes níveis de atenção à saúde e dificuldades de garantia ao material de qualidade de equipamento coletor de fezes. Estas barreiras impactam negativamente o bem-estar biopsicossocial e dificultam o enfrentamento à estigmatização. Conclusão: Este estudo identifica características da vivência do estigma percebidas no cotidiano de mulheres e homens com estoma intestinal, evidenciadas pelo afastamento, descrédito, perda do status, rotulações e discriminação. A enfermagem, juntamente com a equipe multiprofissional, ao prestar assistência integral e possibilitar o acesso às orientações de qualidade, pode oferecer suporte para aceitação, reconhecimento e emancipação da pessoa com estoma intestinal em relação à sua condição, a fim de vencer a invisibilidade e as situações de depreciação, bem como sensibilizar a família e a sociedade quanto ao entendimento sobre a deficiência, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com estoma intestinal para garantia da inclusão social e à cidadania delas. Ressalta-se a lacuna na literatura científica sobre a temática e da importância da elaboração de mais estudos em âmbito nacional, no intuito de promover discussões sobre os processos de estigmatização e formas de enfrentamento, a fim de contribuir na melhoria da qualidade de vida das pessoas com estomas intestinais.

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Publicado

2024-01-02

Como Citar

FÉLIX MEIRA ARAÚJO, I. ., DORNELLES SCHOELLER, S. ., JAVIER VERGARA ESCOBAR, O. ., REIS DE SOUSA, A., & SOUZA DE SANTANA CARVALHO, E. . (2024). COMPREENSÃO DO ESTIGMA VIVENCIADO POR MULHERES E HOMENS COM ESTOMAS DE ELIMINAÇÃO INTESTINAL:: ESTUDO DE CASO EM DESENVOLVIMENTO. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/518