USO DE DISPOSITIVO DE INCONTINÊNCIA ANAL COMO ADJUVANTE PARA TRATAMENTO DE LESÃO POR PRESSÃO:
ESTUDO DE CASO
Resumo
Introdução: A pele do paciente internado em UTI torna-se suscetível a alterações e até injúrias, ocasionadas por fatores intrínsecos e extrínsecos como: idade, nutrição inadequada, uso de dispositivo, medicamentos, tempo de internação, forças mecânicas e a umidade.¹ Dentre as alterações de pele a Lesão por Pressão (LP) é um dano localizado na pele e/ou tecido mole subjacente, ocorrendo geralmente sobre proeminência óssea ou pode ainda estar relacionado a equipamento médico ou outro tipo de dispositivo.² A pele lesionada pode apresentar-se como intacta ou com perda da continuidade. Considerada como evento adverso, a LP pode causar dor e afetar a qualidade de vida do indivíduo, comprometendo-o clinicamente e preocupando gestores de saúde quanto aos índices de morbidade e mortalidade, relacionados a complicações associadas. Outros agravativos para regeneração do dano tecidual, principalmente em região sacra, são aumento do microclima, presença de urina e fezes por incontinências, aumentando a umidade e fragilizando a integridade tissular.3 Dessa forma, os cuidados de enfermagem a pacientes com LP e com incontinência anal, tornam-se mais complexos pois o aumento das eliminações fecais, implicará em trocas frequentes da roupa de cama, fralda e da cobertura utilizada para tratamento da lesão. Portanto, prevenir e tratar eficientemente as LPs é uma abordagem abrangente que inclui medidas como alívio da pressão, controle da umidade, nutrição adequada e uso de equipamentos de proteção.5 A este respeito, o dispositivo de incontinência anal é cada vez mais reconhecido como um adjuvante eficaz na gestão destas lesões, pois direciona as fezes por conduto fechado evitando o contato desse efluente com a pele perianal, perineal e Inter glútea, permitindo a manutenção da integridade cutânea nessas áreas.4 Assim, este estudo justifica-se pela importância em compartilhar a experiência exitosa de um paciente com LP estágio 4 e com incontinência anal que utilizou um dispositivo de controle fecal como adjuvante ao tratamento tópico da lesão e teve o tempo de cicatrização otimizado. A relevância do caso repercute na redução de insumos relacionados a troca de roupas, dispositivos de absorção e preservação da integridade da pele e quando há presença de lesões contribui para acelerar o processo de reepitelização , minimizando o risco de infecção e tempo de internação. Objetivo: Descrever o caso de um paciente com LP estágio 4 com incontinência anal com evacuações líquidas em uso de dispositivo para controle fecal. Metodologia: Trata-se de um estudo de caso definido como um método de pesquisa, que permite ao investigador estudar fenômenos individuais ou de grupo, em contexto real, com o objetivo de explorar, descrever e explicar um evento com base no problema de investigação compreendendo o fenômeno e recorrendo a várias fontes de evidência. Foi realizado de dezembro de 2022 a janeiro de 2023, iniciado na UTI com desfecho na internação clínica traumatológica de um hospital terciário referência em urgência traumatológica de Fortaleza, Ceará, Brasil. O estudo descreve o caso de um paciente idoso, restrito ao leito por um longo período de tempo, com LP estágio 4 apresentando incontinência anal. A colheita de dados foi realizada por meio da avaliação da estomaterapeuta mediante a anamnese e consulta ao prontuário do paciente. Para realização desse estudo obteve-se aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição tendo um CAAE nº 611.459.22.3.0000.5047. O responsável pelo paciente foi informado dos direitos na participação do estudo e obtido o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) antes da colheita de dados. Resultados/discussão: paciente, sexo masculino, idoso com 68 anos, admitido na emergência da referida instituição no dia 11/10/2022 com histórico de queda da própria altura, ao exame físico com pele íntegra, evoluindo com trauma cranioencefálico (TCE). No dia 20/10/2023, foi submetido a tratamento neurocirúrgico para drenagem do hematoma subdural agudo e abordagem da encefalocele e fístula liquórica, em seguida transferido para a UTI. Durante admissão na UTI, paciente com pele íntegra para LP e DAI e escore da escala de BRADEN igual a 9, sendo considerado risco severo para o desenvolvimento de LP. Mesmo o paciente com relato de evacuações diarreicas constantes desde o dia 16/10/2022, foi utilizado como medida preventiva o colchão pneumático, reposicionamento do paciente no leito, troca frequente das fraldas e o uso do spray barreira. No dia 25/10/2022, o primeiro relato, na evolução de enfermagem, de lesão da pele foi a DAI estágio 1A em ambos os glúteos, permanecendo com os mesmos cuidados preventivos e realizando reposicionamento do paciente quando o quadro clínico permitia. Visto que o paciente era grave, escore da Braden com risco elevado, em uso de ventilação mecânica, sedação e drogas vasoativas. Com a continuidade das fezes líquidas em grande volume e frequência, paciente de difícil manejo quanto ao reposicionamento, alguns dos fatores de risco para a evolução da DAI para LP. No dia 11/11/2022, a avaliação da estomaterapia a lesão nos glúteos era uma lesão por pressão não classificável secundária a DAI. Desde o início da internação diversas condutas com intenção de manter íntegra a pele do paciente foram realizadas. O principal problema relacionado causa de sofrimento da pele e dificuldade de manejo do tratamento eram as fezes líquidas, frequentes e em grande volume. Que colaborava com a umidade da pele, o risco de infecção e consequentemente retardando a cicatrização da LP. Diante da problemática foi sugerido pela equipe médica o desvio do trânsito intestinal, através da ileostomia temporária. Porém, o paciente que já possuía um quadro grave, submetê-lo a uma cirurgia que apesar do benefício em desviar as fezes da lesão, teria riscos durante o procedimento cirúrgico para o paciente. Como alternativa menos invasiva do que a ileostomia, a estomaterapeuta do serviço sugeriu a instalação do sistema de incontinência fecal. O dispositivo foi instalado por esta profissional no dia 06/12/2022. As orientações repassadas a equipe da UTI quanto aos cuidados e implementado o tratamento efetivo para a LP, que antes do controle da incontinência anal se dava conservador, sem ter intenções de desbridamento para não deixar os tecidos viáveis expostos as fezes líquidas. Assim, iniciou-se aplicação de hidrogel com trocas em dias alternados associado ao desbridamento instrumental conservador de forma progressiva e mantido cuidados preventivos com a pele perilesão . Um mês após instalação do dispositivo, a lesão estava plana com tecido de granulação e pontos de esfacelos difusos ao centro e a consistência das fezes estavam pastosas e menos frequentes. O estado geral do paciente havia melhorado. Este apresentava-se consciente, orientado, traqueostomizado em ar ambiente, com dieta mista (via oral e por cateter nasoenteral) e sentava ao leito com ajuda da fisioterapia. Paciente havia sido transferido para unidade de internação e retirou o dispositivo de incontinência anal em 06/01/2023. Conclusão: conclui-se ser fundamental o enfermeiro estomaterapeuta na inclusão da equipe multidisciplinar e que por meio da anamnese, pode realizar o diagnóstico e as intervenções a serem implementadas para gerar o melhor resultado relacionado a prevenção e tratamento das lesões de pele. A instalação do dispositivo de controle fecal como adjuvante ao tratamento da LP não classificável revelou diversas nuances como: evitar que o paciente fosse submetido ao tratamento invasivo, a ileostomia, acelerou o processo de cicatrização da LP, impediu a infecção da lesão relacionada as bactérias fecais, com isso reduzindo o tempo de internação em complicações que a LP poderia ocasionar se mal conduzida. Tem como limitações uma amostra reduzida por ser apenas um paciente abordado no caso descrito, o estomaterapeuta não estava diariamente no setor e apresentou uma fragilidade na busca de dados que ocorreu por meio da evolução de enfermagem que em alguns momentos apresentavam-se com dados incompletos. Complementa-se a inovação desta tecnologia no serviço, gerando dúvidas quanto ao manejo e cuidado implementado ao paciente. Assim, faz-se necessário novos estudos com o uso do dispositivo da incontinência fecal para manejo adequado de lesões por pressão na região sacro/glútea em pacientes incontinentes.