REPERCUSSÕES DO USO DO CATETER HIDROFÍLICO NA VIDA DE MULHERES E HOMENS COM HTLV:

UM OLHAR PARA O AUTOCUIDADO

Autores

  • RAYSSA FAGUNDES BATISTA PARANHOS UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • JULIANA BEZERRA DO AMARAL UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • ROSE ANA RIOS DAVID UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • ANDERSON REIS DE SOUSA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • VIVIANY ALVES SOARES ASSESSORA TÉCNICA CONVATEC
  • LARISSA SANTOS MACHADO UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
  • STEFANE SANTOS DE JESUS PITANGA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Resumo

Resumo Objetivo: Conhecer as repercussões do uso do cateter hidrofílico para o autocuidado de mulheres e homens que vivem com HTLV. Método: pesquisa qualitativa, exploratória com levantamento sociodemográfico, clínico e perguntas abertas semiestruturadas para mulheres e homens com disfunção neurológica do trato urinário inferior, apresentando incontinência pelo HTLV. Derivada de uma pesquisa matriz aprovada pelo comitê de ética sob o número do parecer de 5.883.662. A coleta ocorreu na Associação HTLVida e a complementação da pesquisa foi por meio de entrevista por telefone. Os dados, áudio-gravados no celular, foram catalogados no software Microsoft Excel, onde se codificou e catalogou os discursos, apresentando-os em categorias e analisados sob a luz da teoria do autocuidado. Resultados: entrevistado 8 mulheres e 4 homens, média de 60 anos, 83% já tiveram mais de uma infecção urinária, após o inicio de cateterismo. Tanto quem fez uso esporádico ou rotineiro do cateter, relataram que os benefícios deste dispositivo são superiores ao cateter convencional. As repercussões foram positivas, ajudando no autocuidado, facilitando no dia-a-dia, passando segurança, conforto e menos risco de infecção, contribuindo para a independência. Conclusão: o autocateterismo com o cateter hidrofílico ajuda no autocuidado e menor déficit de autocuidado. Descritores: Incontinência Urinária; Vírus Linfotrópico T Tipo 1 Humano; Cateterismo Urinário; Autocuidado; Estomaterapia Introdução O Vírus Linfotrópico de Células T Humana tipo 1 (HTLV-1) é transmitido sexualmente e muito prevalente no Brasil, especialmente na Bahia(1). Não tem cura e não há tratamento específico. Os sintomas ocorrem após a cronificação do vírus e as complicações neurológicas comuns são: alterações motoras, dificuldade de deambulação, dores musculares e neuropáticas, ressecamento ocular, alterações dérmicas, bexiga e intestino neurogênicos, são muito frequentes, inclusive nos casos de HTLV ainda não diagnosticados (2). Os sintomas de incontinência urinária (IU) por esforço, IU por urgência e por transbordamento podem levar a infecção de urina de repetição e o risco de lesão do trato urinário superior, nesse sentido, a enfermeira deve atuar implementando ações de cuidado visando o bem-estar desses pacientes(3,4). A implementação de ações como modificação na rotina diária, micção programada, controle dos líquidos ingeridos, eliminados pela micção, pela incontinência e pelo cateterismo vesical, fazem parte das ações de cuidado(5). O estímulo ao autocuidado e a definição em que nível de dependência a pessoas se encontra fazem parte do trabalho da enfermeira que ao implementar a teoria do autocuidado, desenvolvida por Dorothea Orem, consegue elencar as necessidades de seus pacientes(6). O cateterismo vesical intermitente limpo (CIL) é uma técnica de esvaziamento vesical programada e cabe à enfermeira realizar, explicar, ensinar e orientar a pessoas para o autocateterismo(7,8). Os cateteres disponíveis no mercado brasileiro são conhecidos como tradicionais e hidrofílicos. O avanço tecnológico permitiu a construção de cateter que saiu da constituição de PVC rígido para hidrofílico com camada de revestimento pré-lubrificada ou lubrificada na hora do uso que atrai e mantém as moléculas de água ao logo do cateter, permitindo uma lubrificação constante na passagem e na retirada do cateter, promovendo menos atrito, lesões uretrais, fissuras, falso trajetos e menor risco de infecção do trato urinário (ITU)(8,9). Os estudos que avaliam os cateteres tecnológicos e comparam com o tradicional, vêm mostrando vantagens, custo efetividade, aderência e melhor qualidade de vida dos usuários(10). Ao interagir com os usuários desse cateter, após a coleta dos dados de uma pesquisa maior, pensou-se em construir um estudo que investigasse quais as repercussões do uso do cateter hidrofílico para o autocuidado de mulheres e homens que vivem com HTLV? E saber se esse tipo de cateter realmente faz alguma diferença na vida dessas pessoas, se influenciou positivamente ou não no seu autocuidado. Sendo assim, tem-se como objetivo conhecer as repercussões do uso do cateter hidrofílico para o autocuidado de mulheres e homens que vivem com HTLV. Nesse sentido, ouvir essas pessoas sobre suas vivências, seu dia-a-dia precisando realizar o cateterismo e como isso repercute no próprio autocuidado, contribuirá, sobremaneira, para a definição de ações de enfermagem específicas para essa clientela e como as ações de autocuidado podem ser implementadas. Metodologia Esse trabalho é derivado de um projeto de tese intitulado “Protocolo de cuidados de enfermagem para mulheres e homens com incontinência urinária pelo vírus linfotrópico de células T humana: à luz da teoria do autocuidado” já em andamento e aprovado pelo comitê de ética sob o número do parecer de 5.883.662, CAEE: 66136322.9.0000.5531. A pesquisa matriz foi realizada na Associação HTLVida, sediada em Salvador, onde se ouviu mulheres e homens com incontinência urinária falando sobre seu autocuidado. Nesses depoimentos, surgiu o tema cateterismo e as falas dos participantes imprimiram suas experiências com esse procedimento, sobre os tipos de cateteres usados por eles. Sendo assim, surgiu a ideia em realizar um recorte para conhecer melhor as repercussões do CIL no autocuidado dessas mulheres e homens com HTLV. A presente pesquisa foi realizada pelo método qualitativo, exploratório com levantamento sociodemográfico, clínico e perguntas abertas semiestruturadas para o publico alvo mulheres e homens com disfunção neurológica do trato urinário inferior, apresentando IU pelo HTLV. A coleta de dados ocorreu posterior à coleta do projeto matriz com o objetivo de complementar as informações dessa pesquisa derivada. Sendo assim, feito contato telefônico com aqueles participantes iniciais para responderem a essa pesquisa. Os participantes incluídos foram aqueles que estavam na pesquisa matriz e que realizam cateterismo e que fizeram uso do cateter hidrofílico. A análise dos depoimentos áudio-gravados no celular, foram transferidos para o computador e tabulados no software Microsoft Excel, onde se codificou e catalogou os discursos, apresentando-os em categorias, conforme os assuntos e temas mais citados, na conversa telefônica. Esse material, passou pela análise baseada na proposta de análise de conteúdo de Bardin(11) e suas interpretações foram feitas à luz da teoria do autocuidado, desenvolvida por Dothotea Orem (6). Resultados Entrevistado 12 pessoas, 8 mulheres e 4 homens, média de 60 anos, 83,3% se autodeclararam pretas, 50% (6) possuem ensino médio completo e superior incompleto; 41,7% da religião católica; 50% solteiros; 83,3% são aposentados ou recebem auxílio governamental, 58,3% vivem com um salário mínimo. 10 possuíam limitações físicas. Realizam o cateterismo há 1 ano até há 23 anos, 75% usam o cateter uretral convencional, 75% já tiveram ITU, sendo 57% já tiveram mais de 4 infecções após o início do uso do cateterismo, 58% já tiveram afecções no canal uretral devido à passagem do cateter, 66,7% possuem queixa de urgência miccional, 50% (6) possuem queixa de esvaziamento incompleto. Quanto aos relatos sobre o uso do cateter convencional e hidrofílico, encontrado depoimentos negativos quanto ao convencional, como: “Cateter duro, rígido que machuca a uretra” (Sândalo) “Difícil de usar porque tem que pegar com uma mão e a outra passar a xilocaína” (Rosa) “Maior risco de infecção porque manipula muito” (Lírio). Quanto ao cateter hidrofílico, os relatos foram positivos: “Muito bom, prático, fácil uso” (Margarida) “Facilita para sair, usar em banheiros de rua” (Girassol) “Mantém a higiene, porque não pega no cateter” (Amarílis) “Estourar o saquinho e ver o cateter lubrificar, dá uma segurança e conforto” (Orquídea). A percepção que as pessoas têm dos tipos de cateteres, deixa claro que o hidrofílico repercute positivamente na vida das pessoas, ajudando no autocuidado, facilita o dia-a-dia, passa segurança, conforto e menos risco de infecção, contribui para a independência e menor risco de déficit do autocuidado. Entretanto um relato presente em todos os discursos foi o custo financeiro para adquirir o cateter hidrofílico e a falta de interesse dos gestores públicos em disponibilizar algo melhor. Discussão As ações de autocuidado desenvolvidas pela equipe de enfermagem perpassam em conhecer as necessidades individuais de cada paciente e desenvolver um plano de cuidados que contribua para maior independência e estímulo ao autocuidado(12). Para essas pessoas com HTLV que possuem outras alterações neurológicas, além da bexiga, como dificuldade de deambular e no caso das mulheres, dificuldade em firmar as pernas para acessar a uretra, ter um cateter que facilita o autocateterismo, repercute positivamente em suas vidas. Segundo Orem, o papel da enfermeira é cumprido quando ela ultrapassa o cuidado direto e contribui para a independência do paciente e família (6), nesse sentido, apresentar e poder proporcionar o uso de uma tecnologia que ajuda nesse autocuidado é função primordial, muito embora as ações não se resumem a isso. Dar voz aos usuários de cateteres urinários, conhecer as suas dificuldades, facilidades e anseios, orientam profissionais de saúde a selecionarem as melhores estratégias de ações de cuidado (10). Segura dessas ações assertivas, desenvolvidas pelos profissionais de saúde, esses devem dar um passo adiante, em prol da mobilização social, da instrução aos usuários de seus direitos e em seguida ir em direção de outro passo, que é da mobilização política (13), de apresentação dos resultados de pesquisas de satisfação dos usuários, de melhor tecnologia para evitar complicações de saúde e mostrar o custo efetividade aos gestores, sensibilizando-os quanto a necessidade de implementação de políticas públicas que venham melhorar a vida das pessoas. Conclusão Conclui-se que o autocateterismo com o cateter hidrofílico repercutiu positivamente vida e na qualidade de vida dos pacientes, melhorando o autocuidado e trazendo inúmeros benefícios para o dia-a-dia. Além de dar visibilidade a um tema ainda pouco explorado no Brasil.

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Publicado

2023-10-21

Como Citar

FAGUNDES BATISTA PARANHOS, R. ., BEZERRA DO AMARAL, J. ., ANA RIOS DAVID, R. ., REIS DE SOUSA, A. ., ALVES SOARES, V. ., SANTOS MACHADO, L. ., & SANTOS DE JESUS PITANGA, S. (2023). REPERCUSSÕES DO USO DO CATETER HIDROFÍLICO NA VIDA DE MULHERES E HOMENS COM HTLV:: UM OLHAR PARA O AUTOCUIDADO. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/772