ORQUIEPIDIDIMITE EM PACIENTE COM SÍFILIS E LASER DE BAIXA INTENSIDADE
RELATO DE CASO
Resumo
Introdução Dor escrotal aguda é uma queixa clínica recorrente que pode ser causada por anormalidades anatômicas, inflamação ou infecções bacterianas, sendo essas mais comuns e causadas por Escherichia Coli ou Clamídia e Treponema Pallidum. O diagnóstico diferencial é a orquiepididimite¹. A sífilis é transmitida principalmente por contato sexual (95%), pode ter diferentes formas clínicas categorizadas pela duração e localização da infecção. Mas, cerca de metade dos infectados não desenvolvam sintomas e são diagnosticados através de testes sorológicos². Na sífilis primária o principal sintoma é o cancro duro nos órgãos genitais, acompanhado ou não de ínguas³. Trata-se de uma infecção crônica, sistêmica, e curável que dentre as Infecções Sexualmente Transmitidas?é a de ?maior ?relevância?e?número?de? casos notificados4.???A orquiepididimite é uma condição urológica comum em homens, causando edema uni ou bilateral do epidídimo e/ou testículo, frequentemente causada por Infecções Sexualmente Transmissíveis. O tratamento medicamentoso consiste em analgesia e antibioticoterapia. Em situações de abscessos escrotais, a cirurgia é indicada5.? Em casos extremos, a orquiectomia é necessária. No caso que será apresentado, houve necessidade de drenagem de abcesso mediante procedimento cirúrgico, o que desencadeou uma ferida traumática no testículo afetado. Nesse caso, a resolução do quadro leva mais tempo. O desconforto pode persistir até que se complete todo o curso de antibióticos e o inchaço e a consistência endurecida podem levar meses até o retorno ao estado anterior. Objetivo Relatar caso sobre a utilização de Laser de Baixa Intensidade na adjuvância de tratamento tópico em paciente com ferida decorrente de orquiepididimite por sífilis. Método Estudo de caso acompanhado de novembro de 2022 a janeiro de 2023 em hospital público no sul do Brasil. Os dados foram coletados pela anamnese, revisão do prontuário, anotações de enfermagem, escala visual analógica de dor (EVA) e registros fotográficos. Todas as condutas foram compartilhadas com equipe médica, preconizando pelo cuidado holístico e integral. Paciente masculino DMQ, 39 anos, solteiro, chefe de cozinha. Obeso, sem comorbidades, vícios ou alergias. Sem diagnóstico prévio de sífilis, mas relata não utilizar preservativos durante relações e histórico de feridas genitais aos 17 anos com regressão espontânea. Admitido em 8/11/2022 em unidade de clínica cirúrgica, com intensa dor (EVA 10), edema escrotal e orquiepididimite. Em 9/11/2022 realizada cirurgia para drenagem de abscesso escrotal.? No 1º pós-operatório, paciente apresentava-se astênico, com dor moderada (EVA 7) em uso de opióde, restrito ao leito com dificuldade de mobilização até para mudanças de posicionamento. Sentia-se preocupado com o prognóstico, especialmente pelo local e extensão da ferida. Apresentava insônia, inapetência e crises de ansiedade há vários dias, ocasionada tanto pela condição clínica quanto pela ansiedade provocada pelas incertezas. Ainda no pós-operatório mediato, ferida operatória em testículo direito medindo 11,5cm de comprimento X 17cm de largura X 10cm de profundidade (Área 185,5cm² e Volume 1.995,0cm³). Perda tecidual total, com exposição de todo testículo direito. Leito tecidual com 85% de necrose de liquefação, exsudato purulento e espesso em grande quantidade. Bordas irregulares, não aderidas e maceradas. Tumefação em baixo ventre e púbis. Na ocasião a conduta foi limpeza da área perilesional com solução fisiológica 0,9% e clorexidina degermante; após remoção total; aplicação de polihexametileno biguanida (PHMB); fotobiomodulação; hidrofibra Aquacel®; creme barreira em perilesão. A fotobiomodulação foi realizada mediante aplicação de Laser de Baixa Intensidade com luz vermelha (660nm) em bordas (3 joules/ponto) e infravermelha (808nm) no leito (2 joules/ponto). Parâmetros: potência 0,1W, área de feixe 0,09842 cm, irradiância 1,016W/cm2, método pontual, na posologia semanal. No 2º pós-operatório, redução na exsudação, tumefação local e quadro álgico (EVA 3). Em virtude da melhora significativa, paciente sentia- se mais encorajado e animado, o que culminou na melhora do padrão de sono/repouso, alimentação e no seu bem-estar geral; inclusive permitindo banho de aspersão e saída do leito, permitindo seu autocuidado. Permaneceu internado durante 10 dias; mantendo os parâmetros terapêuticos. Após alta hospitalar foi dado seguimento de acompanhamento ambulatorial semanalmente, sendo essa a periodicidade de aplicação do laser.?No domicílio, paciente realizava as trocas conforme instruções; sendo o curativo secundário trocado conforme saturação e o primário a cada quatro dias. Tratamento finalizado em 7/1/2023, com total cicatrização. Os dados analisados de forma descritiva e os achados discutidos com revisão narrativa da literatura. Estudo aprovado pelo Comitê de ética sob parecer 3.520.261 e CAAE 12212519.2.0000.0121. Resultados Já após a primeira sessão de laserterapia, o paciente apresentou redução significativa do quadro álgico, da quantidade de exsudação e tumefação local; o que ocasionou melhora da qualidade e quantidade do sono, aumento da mobilidade e motilidade. Destaca-se que pela presença de infecção?bacteriana?em ferida?de?difícil?cicatrização como na apresentada, justificamos que as intervenções de adequada higiene da ferida; que comporta: limpeza da ferida, pele perilesional e remodelação da borda; além da seleção da cobertura ideal garantiram um ambiente propício para a cicatrização. Ainda, a laserterapia de baixa intensidade contribuiu significativamente nesse tratamento por intermediar os processos inflamatórios e ?modular?os?níveis? de?várias prostaglandinas, contribuindo não somente para o reparo, mas também na modulação da dor. Em uma média de sete dias a ferida começou a apresentar tecido de granulação e o reparo total foi em 59 dias. Para tanto foram realizadas oito sessões de Laserterapia, com posologia de aplicação uma vez por semana. Além disso, destaca-se a qualidade da cicatrização, sem surgimento de cicatrizes hipertróficas e/ou queloides; bem como ausência de restrições ou sequelas em relação ao órgão afetado. ? Conclusão A orquiepididimite resultante do processo inflamatório pode ser desencadeada pela sífilis e ocasionar uma série de complicações. A implementação da higiene da ferida e a fotobiomodulação contribuem melhorar a condição clínica do paciente e do processo de regeneração celular. O laser de baixa intensidade mostrou-se eficaz no tratamento traumático de tecidos moles em paciente com orquiepididimite desencadeada pela sífilis por acelerar o processo de cicatrização, reduzir a contaminação secundária, promover analgesia; configurando-se como uma ferramenta importante no tratamento desse paciente. Para além dos aspectos biológicos, evidencia-se o quanto o tratamento foi preponderante para o bem estar biopsico do paciente, uma vez que houve melhora significativa em seu estado geral após a terapia empregada. Destaca-se que não foram encontrados na literatura vigente trabalhos científicos com esse enfoque de tratamento utilizando a fotobiomodulação para a etiologia desse tipo de lesão. Portanto, sugere-se a realização de estudos clínicos nesse escopo.