GESTÃO DE INSUMOS E EDUCAÇÃO PERMANENTE SOBRE AVALIAÇÃO DO PÉ DA PESSOA COM DIABETES NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Autores

  • LUCIANA ROSA PORTO UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
  • ADRIANA ROSA SPADER PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
  • VANESSA SANTOS PRATES UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
  • CRISTINA ORLANDI COSTA UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
  • ROSANE MORTARI CICONET UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
  • PATRICIA TREVISO UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
  • SANDRA MARIA CEZAR LEAL UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

Resumo

INTRODUÇÃO: O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença com elevada prevalência durante os atendimentos na Atenção Primária à Saúde (APS). Aproximadamente meio milhão de pessoas no mundo vivem com diabetes. Em países de média e baixa renda a concentração de casos é ainda mais elevada.1 Dentre as complicações decorrentes do diabetes estão as neuropatias e isquemias periféricas, úlceras nos pés e amputações. A probabilidade de pessoas com diabetes desenvolverem úlceras ao longo de suas vidas pode chegar a 34%.2 A neuropatia diabética evidencia pés com sensibilidade diminuída ou ausente e impede a atuação efetiva do reflexo de proteção plantar na advertência de agressões. A avaliação adequada e as intervenções de enfermagem, no contexto da APS, reduzem os riscos de lesões, hospitalizações desnecessárias, amputações e mortes.2 Como ordenadora do cuidado e principal porta de acesso ao sistema de saúde3, a APS necessita estar preparada para acolher, avaliar e tratar usuários com diabetes atentando especialmente aos cuidados com os pés, de modo a identificar precocemente o desenvolvimento de ulcerações causadas pelo diabetes. Nas consultas de enfermagem sistematizadas para pessoas com DM, compete aos enfermeiros da APS identificarem a história pregressa de complicações vasculares; úlceras prévias, amputações ou cirurgias de revascularização; tempo de desenvolvimento do DM; hábito de tabagismo; avaliação da acuidade visual; dor ou desconforto nos membros inferiores; dinâmica da marcha; inspeção do calçado utilizado e os cuidados realizados previamente com os pés.4 Ainda, está indicado a utilização de testes específicos para verificar a sensibilidade protetora plantar existente, com auxílio de equipamentos como diapasão 128 Hz, martelo, palito, monofilamento de 10g (Semmes-Weinsten), doppler portátil vascular.1 No entanto, caso as Unidades de Saúde não disponham desses materiais, o cuidado não é inviabilizado. O histórico de enfermagem, a inspeção visual, a palpação, a utilização de equipamentos adaptados, a implementação de condutas e as reavaliações são de extrema importância para educação em saúde do usuário e para prevenção de lesões e mortes. Neste contexto, a capacitação para enfermeiros corrobora para aprimorar a avaliação e os cuidados com os pés de usuários com diabetes, com ênfase na anamnese, exame físico e prevenção de lesões. Iniciativas que possibilitam refletir quanto à importância de suas ações para ampliação da qualidade do cuidado ofertado aos usuários da APS. OBJETIVO: Relatar a experiência de realização de cinco minicursos e a confecção de kits para avaliação dos pés. MÉTODO: Relato de experiência sobre a realização de educação permanente sobre avaliação do pé da pessoa com diabetes, para enfermeiros da APS de uma capital brasileira. Os momentos educativos ocorreram entre os anos de 2021 a 2023. Em 2021 ocorreram dois minicursos com duração de 4h presenciais. Observou-se a necessidade de ampliação da carga horária para comportar as atividades teóricas e práticas, alterando- se para 8h. Em 2022 foram realizados dois encontros e em 2023 um encontro. RESULTADO: Os cinco encontros de educação permanente sensibilizaram 105 enfermeiros da rede básica, ministrados por enfermeiras da rede municipal, todas estomaterapeutas ou com especialização em cuidados com a pele. Os minicursos utilizaram abordagem teórico-prática, cuja estrutura foi baseada nas diretrizes do Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético (IWGDF)5, Sociedade Brasileira de Diabetes e Ministério da Saúde. A parte teórica abordou sobre o contexto epidemiológico da DM no Brasil e no mundo; classificações e conceitos da patologia; estratégias para captação dos usuários portadores de DM mais vulneráveis e identificação da demanda a ser avaliada; importância da consulta de enfermagem de forma sistematizada e global considerando estratégias para o controle glicêmico e avaliação do pé da pessoa com diabetes, com ou sem os equipamentos necessários para avaliação padrão-ouro; anamnese e exame físico; etapas da avaliação; aplicação dos testes neurológicos e de sensibilidade; prevenção de lesões nos pés, uso de calçados adequados; adaptações com órteses e próteses; identificação de doenças arteriais; realização de Índice Tornozelo Braquial (ITB); tempo oportuno das reavaliações; diagnósticos de enfermagem; planejamento de intervenções de enfermagem e registro em prontuário eletrônico. No bloco prático os participantes foram divididos em grupos, com participação alternada. Para o grupo 1 aplicou-se uma dinâmica para que observassem o calçado do colega, aspecto do pé e unhas, presença de doenças fúngicas e deformações nos pés. Foram incentivados a desenhar o contorno do pé com e sem calçado e refletir sobre a avaliação e a saúde dos pés. Foi exemplificada a execução dos testes de sensibilidades no pé, a turma praticou a avaliação de cada um dos testes: sensibilidade protetora dos pés, com uso do monofilamento de 10g; sensibilidade vibratória com uso do diapasão de 128 Hz; sensibilidade térmica, com cabo do diapasão e/ou outro instrumental metálico; sensibilidade dolorosa, com palito metálico e/ ou de madeira de uso único; sensibilidade tátil com uso do pincel ou algodão, e teste de reflexos com auxílio de martelo neurológico. Para o grupo 2 abordou-se a identificação dos pulsos pediosos e tibiais posterior, a prática do Índice Tornozelo Braquial e as avaliações sobre as características de Doença Arterial Obstrutiva Periférica com auxílio de um roteiro estruturado. Sugere-se que o início das avaliações seja com diabéticos que já possuem amputações prévias, tabagistas, hipertensos ou com baixa acuidade visual. A consulta de enfermagem sistematizada foi detalhada pelas facilitadoras pois observou-se dúvidas sobre a execução das etapas. Cada momento educativo foi avaliado pelos enfermeiros participantes, destacando-se os tópicos: programação e organização da atividade; qualidade dos facilitadores; avaliação geral do evento e a autoavaliação. O instrumento utilizado foi um questionário anônimo, com escala Likert de quatro eixos. Os pontos avaliados foram muito positivos, com sugestões de extensão da atividade para os técnicos de enfermagem e gestores. Sobre a aquisição dos kits de avaliação foram necessárias diversas reuniões de sensibilização junto à gestão local para abordar a importância da prevenção de complicações evitáveis por meio da avaliação dos pés das pessoas com diabetes, por enfermeiros na APS. Assim como, uma projeção das economias de verba pública com cuidados com feridas e o ganho de qualidade de vida dos usuários. Nesse ínterim, estratégias de gestão foram adotadas para aquisição dos equipamentos necessários para essa avaliação, assim como para execução, montagem e distribuição desses insumos para utilização pela equipe de enfermagem das unidades de saúde da APS. Para a compra dos materiais foi utilizada verba parlamentar recebida pelo município para aquisição de bens de consumo para APS. Os Kits foram compostos por um monofilamento de 10g cor laranja; um diapasão 128 Hz; um martelo neurológico do tipo Buck e um aparelho de doppler portátil vascular, acondicionados em uma caixa plástica. Para auxiliar na execução dos testes foi desenvolvido um card com os locais apropriados para aplicação do monofilamento, fixado na parte interna da caixa. Foi possível a montagem de 83 kits que foram distribuídos para 71 Unidades de Saúde (correspondendo a aproximadamente 54% do total de unidades de saúde da APS da cidade) e para os cinco ambulatórios da Atenção Especializada local, que atendem feridas. Algumas unidades receberam dois kits considerando a proporção de usuários cadastrados. CONCLUSÃO: Os momentos educativos foram válidos para sensibilizar os enfermeiros sobre a importância da avaliação do pé dos usuários diabéticos e no planejamento de ações envolvendo a equipe multiprofissional, auxiliando em reflexões sobre o processo de trabalho quanto à organização in loco para execução da avaliação e as adaptações necessárias para cada realidade. A temática sobre o pé diabético, sua avaliação e implicações para saúde são de grande relevância para os usuários que vivem com diabetes. A utilização dos recursos materiais/ equipamentos facilitaram a explanação da prática, e a manipulação desses materiais pelos enfermeiros foi válida para ampliar a assimilação do conteúdo. A importância dos estomaterapeutas em espaços de gestão foi observada durante a sensibilização dos gestores e no êxito na aquisição dos insumos, assim como no reconhecimento de suas ações na educação poderá qualificar a assistência direta ao usuário.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Downloads

Publicado

2023-10-21

Como Citar

ROSA PORTO, L. ., ROSA SPADER, A. ., SANTOS PRATES, V. ., ORLANDI COSTA, C. ., MORTARI CICONET, R. ., TREVISO, P. ., & MARIA CEZAR LEAL, S. . (2023). GESTÃO DE INSUMOS E EDUCAÇÃO PERMANENTE SOBRE AVALIAÇÃO DO PÉ DA PESSOA COM DIABETES NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/870