VOLUNTARIADO E AMOR: RELATANDO A GESTÃO NO AMBULATÓRIO DE ESTOMATERAPIA
Resumo
INTRODUÇÃO: Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o termo “voluntário” representa uma pessoa que, por meio do seu interesse pessoal, espírito social e afetivo, dedica parte do seu tempo para atividades diversas que visam o bem-estar da sociedade e seus indivíduos, sem necessariamente receber alguma coisa por isso. O dicionário Oxford diz que o trabalho voluntariado não é forçado, e que só depende da vontade de cada um. Para a Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST), o trabalho voluntário é uma atividade não remunerada, onde a pessoa dedica parte de seu tempo para compartilhar suas habilidades e conhecimentos em prol da sociedade, sendo uma oportunidade de reciprocidade e confiança entre pessoas, de troca de informações e experiências que trarão benefícios para os dois lados. No que tange ao gerenciamento do voluntariado, estudos mostram a falta de profissionalização da gestão do trabalho voluntário e a presença de aspectos assistencialistas e descompromissados, assim como relatos de escassez de recursos e necessidade de melhor qualificação. Entretanto, percebe-se que a gestão do cuidado voluntariado também têm aspectos positivos, a destacar: redução de custos operacionais, melhoraria na imagem do serviço, contribuição para a formação de pessoas, troca de experiências entre os voluntários, e principalmente, um atendimento prestado com amor, dedicação e cientificidade para pacientes, familiares e colaboradores. Ainda, a organização que apoia e recebe essa força de trabalho também se beneficia, melhorando sua coesão social, diretamente ligada à questão da responsabilidade social. Essas atividades são realizadas em diversos ambientes, como clínicas-escolas de centros universitários que funcionam por meio de ambulatórios e atendem diversas especialidades, dentre estas e como foco dessa pesquisa, destaca-se a Enfermagem em Estomaterapia. Assim, considerando a relevância do trabalho de gestão do voluntariado em um Ambulatório de Estomaterapia, este estudo procura responder o seguinte questionamento: “Como é realizada a gestão do voluntariado de um ambulatório em Estomaterapia?”. Tem-se como pressuposto que o trabalho voluntário é conduzido sob alguma forma de gestão, obedecendo a critérios organizativos, como processos e normas que conduzem sua atuação, buscando atender os objetivos estratégicos da organização. OBJETIVO: Relatar a gestão do voluntariado em um ambulatório de Estomaterapia. MÉTODO: Trata-se de um Relato de Experiência (RE) desenvolvido no ambulatório de Estomaterapia de uma universidade privada de Fortaleza-Ceará-Brasil entre março de 2019 a agosto de 2023 onde foram investigadas as práticas de gestão desenvolvidas. Como se trata de um RE, não foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa. Ressalta-se que os únicos relatos publicados nessa pesquisa foram da gestora e de duas voluntárias, ambas autoras do estudo. RESULTADOS: Os resultados foram organizados em temáticas, a destacar: 1) Organização do voluntariado, 2) Funções do Gestor do voluntariado, 3) Processos do gerenciamento do voluntariado, 4) Ações desenvolvidas pelos voluntários e 5) Relatos sobre a percepção da gestão no voluntariado. 1) Na Organização do voluntariado, o quadro conta com 23 pessoas, entre enfermeiros estomaterapeutas, alunos graduando em Estomaterapia e alunos de graduação em Enfermagem. 2) O coordenador é um enfermeiro estomaterapeuta docente da universidade que têm as seguintes atribuições, entre as quais se destacam: articular o envolvimento do voluntário na organização, desenvolver programas e objetivos, estabelecer as funções voluntárias, coordenar o planejamento de turnos com construção de escalas, determinar políticas e procedimentos, solicitar compra de materiais, gerenciar orçamento, desenvolver novos projetos como ações sociais em praças, igrejas e hospitais, realizar avaliação do desempenho pessoal e de resultados, entre outras atividades. 3) O gestor conta com os processos voltados ao/a: recrutamento, seleção, contrato, integrações, orientações, capacitações e palestras, bem como o reconhecimento por meio de uma declaração de tempo no serviço ao término do voluntariado. 4) As ações desenvolvidas pelos voluntários são diversas, a destacar: assistência em Estomaterapia nas três grandes áreas, treinamentos com os representantes das indústrias, ações sociais em igrejas, praças e hospitais, ações de educação em saúde nos corredores da universidade, no acolhimento dos pacientes e nas proximidades do ambulatório, teleconsulta em Estomaterapia, construção de materiais escritos de educação em saúde, com validação, publicação e aplicação, bem como construção de materiais de simulação realística para treinamento, organizações de Hands on e Exame Clínico Objetivo Estruturado (OSCE) enfermeiros e discentes de enfermagem, dentre outras. 5) Nos relatos sobre a percepção da gestão do ambulatório de Estomaterapia, destacam-se: “Nós temos compromissos com a formação dos voluntariados para que estes proporcionem um cuidado humanizado, ético e que seja embasado em conhecimentos científicos” (Gestora); "Sou voluntária desde o início, comecei ainda como acadêmica em 2019, hoje sou graduanda em Estomaterapia pela Universidade Estadual do Ceará e exerço uma função de consultoria técnica em uma empresa na área de Estomaterapia, e durante todo esse período tive a oportunidade de conhecer e apaixonar pela área. O que mais me surpreendeu foi a variedade de conhecimentos e oportunidades que a Estomaterapia nos proporciona. Além disso, um outro grande diferencial na minha vida, é o suporte que temos da gestão do serviço, pois a atenção e o cuidado com que somos tratados, nos trazem a segurança e a tranquilidade de realizar um cuidado em Estomaterapia com amor, ética e cientificidade (Autora 6). “Sou voluntária no ambulatório desde 2019 até os dias atuais. O encanto pela Estomaterapia aconteceu desde a graduação quando assisti a palestra intitulada Empreendedorismo em Estomaterapia, ministrada pela gestora do voluntariado, onde foi abordado os cuidados desempenhados no ambulatório. Fiquei encantada com o compromisso e com o zelo do trabalho realizado por ela e sua equipe. Logo que abriu a seleção, participei e fui aprovada. Em todo o tempo que estou lá, observei todas as ações desenvolvidas e conduzidas pela gestora, porém, o que mais me impressiona, é a sua dedicação, solidariedade e doação no cuidado em Estomaterapia. Ainda, hoje sou enfermeira graduanda em Estomaterapia pela Universidade Federal do Ceará, trabalho em uma instituição hospitalar, e penso que estamos na vida para dividir um pouco do nosso tempo, das nossas experiências, enfim, do que podemos fazer para tornar a vida melhor das pessoas com feridas, estomias e incontinências” (Autora 8). CONCLUSÃO: Acredita-se que a gestão do voluntariado em Estomaterapia vai muito além da gestão de pessoas, gestão participativa, resultados ou aspectos assistencialistas, envolve aspectos mais amplos, como dedicação, amor, compromisso e cuidado fundamento em evidências científicas.