SATISFAÇÃO E AUTOCONFIANÇA EM REFERÊNCIA A REALIZAÇÃO DO AUTOCATETERISMO INTERMITENTE

Autores

  • VITTÓRIA BRAZ DE OLIVEIRA ALVES PAX
  • FABRICIA NAYARA OLIVEIRA LIMEIRA SMS APARECIDA DE GOIÂNIA
  • NATANAEL MOREIRA CUNHA SMS GOIÂNIA
  • MARTHYNA PEREIRA DE MELLO COLOPLAST
  • HELENA DOS SANTOS CASTRO GOMES CRER
  • CLEIRE SOCORRO ALVES MARIANO CRER
  • GUTEMBERG MELO COELHO CRER
  • PRISCILA MARTINS PEREIRA CRER

Resumo

A Lesão Medular (LM) é um comprometimento neurológico derivado de alguma injúria nas porções da medula, que poderá ocasionar alterações sensoriais, motoras e fisiológicas em maior ou menor grau. Uma das principais complicações da lesão medular é a Disfunção Neurogênica do Trato Urinário Inferior (DNTUI), tornando-a flácida ou espástica, e caracteriza-se pelos sintomas de incontinência por transbordamento, frequência miccional, urgência urinária e retenção. Dentro deste contexto, este estudo teve como objetivo avaliar a satisfação e autoconfiança da pessoa com disfunção neurogênica do trato urinário inferior decorrente de lesão medular, na utilização do cateter com revestimento hidrofílico e o cateter de polivinila no autocateterismo intermitente limpo. Assim, foi desenvolvido um estudo de campo com natureza quantitativa, experimental e comparativo, com indivíduos com lesão medular que tenham o diagnóstico de disfunção neurogênica do trato urinário inferior decorrente de lesão medular traumática, na fase adulta, de ambos os sexos. A coleta de dados se desenvolveu em um Centro de Reabilitação do Centro-Oeste do país, entre o período de abril a junho de 2023, no setor ambulatorial que assistem pacientes com LM. Para a coleta, foram utilizados três instrumentos, um sociodemográfico, um para validação da satisfação dos cateteres e o último para avaliação da autoconfiança na realização do autocateterismo, estes últimos validados em outros estudos. A presente pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em pesquisa do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr.Henrique Santillo- Crer e foi aprovada sob número de Parecer n. 6.162.986. Foram entrevistados 40 lesados medulares, com idade superior a 18 anos, que possuíam diagnóstico de DNTUI e que realizavam o autocateterismo com o cateter de PVC. Foi entregue a cada participante, um kit com 60 cateteres hidrofílicos, um livro orientativo sobre DNTUI e cateterismo intermitente, sacos coletores e gazes. Foram realizados dois encontros, com duas pesquisadoras responsáveis para a coleta de dados. O primeiro encontro feito presencialmente foi direcionado para aplicação dos instrumentos relativos à experiência de autoconfiança e satisfação do cateter de PVC. Após, foi realizado o treinamento do uso do cateter hidrofílico e explicado que após o uso dos 60 cateteres entregues teríamos novo contato com a aplicação dos mesmos questionários, presencialmente ou via contato telefônico. Os dados foram analisados no SPSS versão 23.0 por meio de estatística descritiva e analítica. Foi realizado o teste de Wilcoxon para investigar em que medida os escores eram equivalentes entre o pré e o pós-teste, com tamanho de efeito avaliado por meio do D e Cohen. Dos 40 participantes, 33 (82,5%) eram do sexo masculino e 7 (17,5%) do sexo feminino. O estado civil prevalente neste estudo foi solteiro, com 35% dos casos, seguido de casado/união estável com 57,5%, viúvo com 5% e divorciado com 2,5%. A escolaridade prevalente foi o 2°grau completo, representando 32,5% da população estudada, seguida de 2°grau incompleto e 1º grau incompleto, respectivamente. O nível da lesão foi prevalente em lesão torácica/dorsal com 72,5% da população, seguido de lesão cervical com 12,5% e lesão lombar com 10%. A etiologia da lesão foi prevalente por acidente motociclístico com 32,5% dos lesados medulares, seguido de queda com representação de 25% dos casos.O tipo de lesão AIS foi prevalente em lesão completa tipo AIS A (com 45%), seguido de lesão incompleta tipo AIS B com 20%, e AIS C com 17,5%. Foi evidenciado que 97,5% dos casos, o treino de autocateterismo foi realizado por um profissional enfermeiro, seguido de 2,5% por profissional médico. Foi realizado o teste de Wilcoxon k com o objetivo de investigar em que medida os escores 1 eram equivalentes entre o pré e o pós-teste. Os resultados foram estatisticamente significativos (z = -5,295, p= 0,000), demonstrando que a satisfação das pessoas que utilizaram o cateter hidrofílico no pós-teste foi significativamente maior do que no pré-teste, em que foi avaliado a satisfação com cateter convencional de PVC (Assim, a satisfação em relação ao cateter de PVC foi em média 21,35 com desvio padrão de 3,77 e a satisfação do cateter hidrofílico foi em média 29,39, com desvio padrão de 8,71), com alto tamanho de efeito (r = -0,84). Os escores da escala de autoconfiança demonstraram também que a autoconfiança dos indivíduos do estudo aumentaram de acordo com dados no pós-teste do que os escores do pré-teste, com valores estatisticamente significantes (z = -5,323, p= 0,000) (em que a autoconfiança em relação ao cateter de PVC era em média 43,60, com desvio padrão de 9,17 e após uso do cateter hidrofílico a autoconfiança foi em média 58,22, com desvio padrão de 12,2), também com alto tamanho de efeito (r = -0,84).Os dados deste estudo evidenciam a prevalência do sexo masculino nas lesões medulares, corraborando com dados nacionais e internacionais. Para além disso, foi evidente o importante papel do profissional enfermeiro para o alcance da autonomia destes indíviduos no processo de reeducação vesical. Foi evidente que a satisfação e autoconfiança dos indíviduos foi maior com o uso do cateter hidrofílico, em comparação com o cateter de uso rotineiro, de PVC. Salienta-se que os indíviduos deste estudo foram incluídos apenas se não tinham experimentado este cateter lubrificado anteriormente, sendo seu primeiro contato. Dentro desta perspectiva, novas abordagens para aumentar o conforto do paciente, como o uso de cateteres com revestimento hidrofílicos em detrimento de cateteres de polivinila (PVC) tradicionalmente utilizados, já têm sido abordadas na literatura, tendo em vista que esse tipo de cateter quando em contato com a água tornam-se mais escorregadios, devido suas propriedades absortivas, reduzindo o atrito entre o cateter e a uretra do paciente (JEONG; OH,2019). Estudos com indivíduos com alguma disfunção urinária que realizam cateterização intermitente evidenciaram que a maioria refere maior satisfação em utilizar o cateter hidrofílico em detrimento do de PVC (BONELLO; FACI; PEREIRA DE MELLO, 2021). O cateter hidrofílico é um produto de saúde aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e sua indicação em detrimento ao cateter convencional, justifica-se pelo seu alto poder de absorção de fluidos que por consequência tornam-se mais lisos e escorregadios quando em contato com a água, diminuindo assim, o atrito entre a superfície do cateter e a uretra durante a inserção, bem como a facilidade e rapidez no procedimento, reduzindo as possibilidades de traumas uretrais e a possibilidade de maior autonomia a este público (BRASIL, 2020). Assim, este estudo evidenciou que a satisfação e autoconfiança está relacionada ao cateter hidrofílico, o que pode trazer mais qualidade de vida e autonomia, bem como evidenciou que o profissional enfermeiro teve papel ativo no alcance da independência funcional relacionado à reeducação vesical destes indivíduos, reforçando o papel fundamental do enfermeiro no processo de reabilitação do lesado medular. Salienta-se que a distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS) esta ainda não é uma realidade de muitas cidades brasileiras, apesar das diversas indicações da Sociedade Brasileira de Urologia e ANVISA, o que torna estudos como este, necessários para o alcance da qualidade de vida, satisfação e autonomia dos lesados medulares. Este estudo teve como patrocinador a Coloplast dentro do Programa Ativa, programa educacional a pacientes que necessitam de cateterismo intermitente e estomizados e os autores declaram ausência de conflito de interesses.

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Publicado

2023-10-21

Como Citar

BRAZ DE OLIVEIRA ALVES, V. ., NAYARA OLIVEIRA LIMEIRA, F. ., MOREIRA CUNHA, N. ., PEREIRA DE MELLO, M. ., DOS SANTOS CASTRO GOMES, H. ., SOCORRO ALVES MARIANO, C. ., MELO COELHO, G. ., & MARTINS PEREIRA, P. . (2023). SATISFAÇÃO E AUTOCONFIANÇA EM REFERÊNCIA A REALIZAÇÃO DO AUTOCATETERISMO INTERMITENTE. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/893