TÉCNICAS DE CURATIVO: ATUALIDADES E CONTROVÉRSIAS
Resumo
Introdução: As feridas crônicas de difícil cicatrização representam um desafio tanto na esfera da saúde, quanto social e econômica; o envelhecimento populacional, aumento do número de pessoas com doenças crônicas e a persistência de infecções em feridas continuam a impactar os sistemas de saúde, profissionais, especialmente enfermagem e as pessoas afetadas.1 As técnicas de curativos variam amplamente, havendo divergências e controvérsias, dificultando a escolha da técnica a ser utilizada.2-5 Objetivo: apresentar reflexão teórica acerca das técnicas de curativo, recomendações e evidências. Método: Estudo teórico reflexivo realizado a partir de documentos que discutem a temática, tais como artigos científicos, guidelines e consensos.2-5 Realizada leitura analítica dos documentos identificados, seguido de leitura comparativa. Resultados: Na literatura científica encontramos descritos as seguintes técnicas para curativo: técnica limpa, estéril e asséptica non-touch/sem tocar; a técnica limpa envolve o uso de luvas limpas e materiais/instrumentos não estéreis, porém existe a discussão acerca do uso da luva limpa tocando diretamente a lesão no cuidado a ferida, pois alguns autores defendem o uso de materiais estéreis no contato direto a lesão para reduzir o risco de infecção. A técnica estéril envolve o uso de luva estéril, materiais/instrumentos e produtos estéreis, e rigor na execução da técnica minimizando riscos de infecção. A técnica asséptica sem tocar, introduzida recentemente, pode ser realizada com luvas limpas e/ou estéreis, porém a mão do profissional não deve tocar diretamente a ferida. A técnica asséptica sem tocar é recomendada por instituições internacionais que regulam e orientam serviços de saúde, como o National Institute for Health and Care Excellence (Reino Unido) e o Australian National Safety and Quality Health Service Standards (Austrália). O Wound, Ostomy and Continence Nurses Society recomenda avaliação criteriosa do paciente, ambiente e lesão para escolha da técnica de curativo, da mesma forma que orienta a técnica estéril na realização de desbridamento instrumental conservador. O International Wound Infection Institute recomenda como critérios para escolha da técnica limpa: pessoas sem imunocomprometimento, cuidado com objetivo de manutenção ou paliativo, procedimentos simples, feridas menores e procedimentos com tempo de duração menor que 20 minutos; para a técnica estéril, recomenda: pessoas imunocomprometidas, procedimentos complexos, feridas extensas, procedimentos com tempo de duração superior a 20 minutos e lesões cavitarias. Conclusão: Não há consenso quanto a uma técnica de curativo a ser seguida, e ainda são escassos os estudos sobre as técnicas de curativo e o risco de infecção. Recomenda-se a avaliação criteriosa quanto ao risco de infecção na escolha da técnica a ser utilizada. Assim, cabe ao profissional responsável, realizar avaliação minuciosa do ambiente, habilidades requeridas para o procedimento, insumos disponíveis, políticas e procedimentos da instituição, fatores de risco relacionados a pessoa (comorbidades, imunidade), fatores relacionados a ferida (tecidos acometidos, localização) e fatores relacionados ao procedimento (desbridamento, complexidade). Contribuições para a Estomaterapia: Visando oferecer cuidado seguro e que favoreça o processo de restauração tecidual em menor tempo, bem como melhores resultados funcionais e estéticos, estomaterapeutas devem analisar criticamente cada situação clínica, e decidir pela técnica de curativo que tenha maior potencial de resultados satisfatórios.