USO DA PAPAÍNA EM FERIDAS: REVISÃO INTEGRATIVA
Palavras-chave:
ferimentos e lesões, papaína, terapêutica, EstomaterapiaResumo
Introdução: O manejo de feridas é um desafio aos profissionais da saúde e o uso da papaína é uma das estratégias de tratamento por sua ação desbridante e cicatrizante. Objetivo: Avaliar a eficácia da papaína no tratamento de feridas por meio de revisão integrativa da literatura. Método: Revisão integrativa da literatura nos idiomas português, inglês e espanhol, sem restrição de período, nas bases de dados MEDLINE, LILACS e CENTRAL. Resultados: Foram selecionados 17 estudos no período de 1953 a 2021. A papaína é um complexo enzimático extraído do látex do fruto não maduro da Carica papaya, o mamão. Estudos apontam que esta enzima possui ação desbridante, cicatrizante e antimicrobiana em feridas cutâneas. A ação desbridante da papaína ocorre por possuir alto teor de proteases capazes de clivar ligações proteicas que contenham resíduos de cisteína, desprendendo-os do leito da ferida. A papaína não tem influência sobre tecidos sadios pela ação da ?-1 antitripsina que é uma globulina humana presente nos tecidos viáveis que inativa estas proteases. O colágeno também não sofre alterações na presença de papaína por não conter resíduos de cisteína em sua estrutura. Estudo in vitro constatou que a papaína não tem ação desbridante sobre a pele. A papaína pode ser manipulada em diferentes concentrações e, para o desbridamento de feridas com necrose é recomendado o uso de concentrações mais altas como a 8% e 10%. Encontrado na literatura alguns ensaios clínicos randomizados (ECR) e foi observado que a papaína com uréia apresentou melhor ação desbridante que a colagenase (p?0,043) em dois ECR; a papaína 2% e o hidrogel apresentaram capacidade desbridante semelhantes em dois ECR (p>0,05); a papaína 8% apresentou capacidade desbridante semelhante ao gel de carbapol em um ECR. Com relação à ação cicatrizante, pesquisas informaram que a papaína na concentração de 2 e 4% foram efetivas na cicatrização de feridas com tecido de granulação e esfacelo. Com relação aos ECRs quatro estudos apresentaram redução de área de ferida semelhante entre os grupos (p>0,05) após 3 a 16 semanas de tratamento de papaína versus outros produtos desbridantes e duas pesquisas observaram maior redução na área nas feridas tratadas com produtos com papaína versus o hidrogel após 12 e 16 semanas de seguimento (p?0,03).
Estudos in vitro e em animais informaram ação antimicrobiana da papaína 10% e da papaína com uréia. Há relatos na literatura de que o uso de papaína com ureia provocou desconforto na primeira hora de aplicação. Autores sugerem que pacientes com alergia ao látex também poderiam apresentar reação alérgica a papaína, não incentivando o seu uso nestes pacientes. A literatura é heterogênea e não foi localizado revisões sistemáticas com metanálise que evidenciasse a eficácia clínica da papaína em comparação a outros produtos tópicos e pesquisas sobre custo-efetividade com o uso desta enzima em feridas cutâneas. Conclusão: O uso da papaína apresentou ação benéfica no tratamento de feridas cutâneas, mas não existe evidência suficiente para se determinar a eficácia desta enzima no desbridamento e cicatrização de feridas.
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Referências
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