GESTÃO DO CUIDADO DE UMA PESSOA COM NEURO-OSTEOARTROPATIA DE CHARCOT NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: PAPEL DO ENFERMEIRO ESTOMATERAPEUTA HABILITADO EM PODIATRIA CLÍNICA
Resumo
Introdução: A Neuro-osteoartropatia de Charcot é uma condição inflamatória aguda que acomete os pés das pessoas com diabetes associada a neuropatia, localizada, com pele intacta, que produz destruição óssea, luxações e deformidades. Pode haver história de trauma recente, é habitualmente unilateral, apresenta edema, eritema, calor local (há diferença de mais de 2°C com membro contralateral), frequentemente indolor, pulsos do membro estão presentes e a radiografia inicial pode estar normal. Faz parte do fenômeno “ataque do pé diabético”, que são situações que ameaçam o membro e a vida da pessoa com diabetes em curto prazo.1 O diagnóstico é clínico após exclusão de outras causas e deve ser corroborado por exame de imagem (radiografia e ressonância magnética).2 O diagnóstico precoce é difícil e, caso não tratado na fase inicial, pode evoluir para a fase de coalescência (estágio III), quando há consolidação óssea com queda do arco plantar. Neste cenário, o enfermeiro tem importante papel que se inicia nas orientações acerca do controle das doenças de base e é contínuo nas avaliações periódicas, na educação em saúde, gestão dos fatores de risco e também na condução do tratamento de Neuro-osteoartropatia de Charcot.3 Para que a equipe da Atenção Primária esteja amparada no cuidado e consiga prosseguir com tomadas de decisão assertivas para cada caso, o atendimento especializado com profissionais de referência pode ser otimizado através do apoio matricial.4 Objetivo: relatar a experiência sobre a gestão do cuidado de uma pessoa com Neuro-osteoartropatia de Charcot em estágio III com úlcera plantar em acompanhamento conjunto entre atenção primária e secundária. Desenvolvimento: A enfermeira da equipe da atenção primária acionou o matriciamento de feridas pedindo auxílio na avaliação e conduta pelo enfermeiro estomaterapeuta habilitado em podiatria de uma pessoa com diabetes e feridas nos pés. Na primeira avaliação foi possível constatar neuropatia, Neuro- osteoartropatia de Charcot estágio III, queda do arco plantar e úlcera em região do antepé e retropé direito. Em pé esquerdo, dedos em garra, martelo e com hiperqueratose. A conduta inicial do estomaterapeuta, após avaliação e diagnóstico clínico de Neuro-osteoartropatia de Charcot, foi desbastamento das hiperqueratoses, desbridamento da ferida, prescrição de terapia tópica, indicação de calçado adequado, descarga de peso e seguimento duas vezes na semana, uma com enfermeira da equipe, uma com estomaterapeuta. Orientou-se a necessidade de encaminhamento às especialidades (vascular, ortopedia, endocrinologia e infectologia, visto histórico de osteomielite) e solicitação de exames laboratoriais e de imagem, realizadas pela médica da equipe. O trabalho do estomaterapeuta aconteceu de maneira longitudinal, através de consultas semanais, gerindo o cuidado e servindo de apoio à equipe da atenção primária. Ao longo do tempo foram identificadas condições como perda do equilíbrio, hipoacusia, disfunção renal e diminuição da acuidade visual, também relatados à equipe, que fizeram os encaminhamentos necessários. Considerações Finais: A gestão do cuidado pelo estomaterapeuta possibilitou melhor evolução clínica e encaminhamentos mais assertivos. Contribuições para a Estomaterapia: Destacar o estomaterapeuta habilitado em podiatria como referência para gerir casos complexos e a importância do cuidado especializado para melhores resultados nos tratamentos instituídos.