EFEITOS DA TERAPIA POR PRESSÃO NEGATIVA EM FERIDA OPERATÓRIA COM DEISCÊNCIA DE SUTURA:

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores

  • RICSON ROMÁRIO NASCIMENTO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
  • LUCIANE LACHOUSKI UFPR
  • INGRID CAMILI GELINSKI STACHERA UFPR
  • LIRIAN VAZ DE OLIVEIRA UFPR
  • EDERSON BORGES FRANCISCO UFPR
  • FERNANDA BEZ BIROLO UFPR
  • YASMIN DANDARA XIMENES MENEZES UFPR
  • SHIRLEY BOLLER UFPR

Resumo

INTRODUÇÃO O carcinoma espinocelular (CEC) é o segundo câncer de pele não melanoma mais comum1. Manifesta-se nas células escamosas da pele, gerando replicação celular atípica. Entre os fatores de risco estão: aumento da idade, radiação Ultravioleta, infecção por ?-papilomavírus humano (HPV), sexo masculino, tabagismo, fatores genéticos e imunossupressão1. O principal tratamento da CEC é a exérese, cujo procedimento consiste na remoção do tecido invadido pelo tumor e uma margem de segurança de tecido saudável2. Após a exérese inicia-se o processo de cicatrização por primeira intenção, demandando um curativo local para proteger a ferida operatória. Contudo, este procedimento traz risco ao paciente, uma vez que rompe a barreira epitelial e acarreta reações sistêmicas que podem evoluir para complicações como a infecção e deiscência de sutura. Este último é caracterizado pelo rompimento da sutura com separação das bordas, resultando em exposição das camadas da pele e ativação de fatores sistêmicos e locais que são traduzidos por infecção, seroma, isquemia e tensão na ferida. Esses aspectos em conjunto se agravam conforme a idade, nutrição inadequada e comorbidades, tornando o processo de cicatrização ainda mais complexo. Para prevenir as complicações supracitadas, a terapia por pressão negativa por incisão fechada (ciNPWT) tem-se mostrado uma estratégia eficaz, uma vez que mantém a ferida selada após a sutura em condições estéreis. Essa prerrogativa reduz as forças de cisalhamento nas bordas da ferida, aumenta o fluxo sanguíneo melhorando o aporte de oxigênio no sítio cirúrgico propiciando a viabilidade celular para o processo de cicatrização. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de estudantes de enfermagem no acompanhamento do atendimento a paciente com deiscência de sutura que teve a lesão cicatrizada após o uso da ciNPWT. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, sobre as práticas vivenciadas por estudantes de Graduação em Enfermagem e integrantes da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (LAENFE) de uma Universidade Pública. A experiência foi com a ciNPWT em ferida operatória (FO) com deiscência de sutura originada de exérese de CEC. A FO estava presente na região medial do dorso do tórax com extensão aproximada de 10 cm. O exsudato caracterizava-se como purulento em média quantidade. O paciente foi acompanhado pelo enfermeiro dermatológico do Ambulatório de Transição de um Hospital público de ensino. Apresentou sinais de ansiedade, manifestando prejuízo no bem estar e na sua qualidade de vida. Relatou ainda que não conhecia a ciNPWT, mas por se tratar de uma terapia portátil e auto compreensível , não demonstrou dificuldades sobre os cuidados e manuseio. Os estudantes participaram das consultas de Enfermagem e discutiram os benefícios dessa terapia, abordando o mecanismo de ação e as respostas esperadas e desejadas para a FO. Durante as discussões, as dúvidas do paciente também foram sanadas As atividades foram realizadas entre fevereiro e abril de 2023 e, por se tratar de um relato de experiência sem uso de dados do paciente, o estudo não exigiu a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP). Cabe destacar que no ambulatório em que foi realizado os curativos, o enfermeiro tem por função avaliar as lesões e prescrever a conduta terapêutica. Assim sendo, a avaliação inicial da FO ocorreu na presença das estudantes com o consentimento da pessoa com a lesão. Foi discutido e estabelecido a aplicação do dispositivo portátil PICO 7 da Smith & Nephew, com pressão negativa de 80 mmHg, contínuo por sete dias. O paciente foi reavaliado a cada três dias para a realização da troca do curativo oclusivo. Ao final de sete dias, a ciNPWT foi retirada e instituída a utilização de hidrofibra com prata associada ao uso de espuma de silicone, para continuidade do processo de cicatrização. Em todas as consultas, o paciente recebeu as orientações necessárias para a manutenção da integridade das coberturas. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ciNPWT apresenta amplo uso em feridas complexas de difícil cicatrização e tem a finalidade de promover uma contínua sucção de exsudato. Um dos critérios para utilização dessa tecnologia é a deiscência total de suturas com tecido de epitelização em bordas, drenagem de exsudato purulento e tratamento concomitante da infecção com medicamento antimicrobiano. Trata-se de um sistema portátil que promove a cicatrização por meio de uma pressão subatmosférica controlada e localizada. Consistiu em uma espuma hidrofóbica de poliuretanto e uma espuma hidrofílica aplicadas diretamente na FO. O exsudato é gerido pelo curativo mediante uma combinação de absorção e evaporação da umidade através da película externa, posteriormente o sistema foi programado para produzir uma pressão negativa no leito da lesão. Os principais efeitos da ciNPWT na FO foram: redução da colonização de bactérias, analgesia e redução do processo inflamatório. Por meio da avaliação criteriosa do enfermeiro ao implementar a ciNPWT, evidenciou-se o desenvolvimento de tecido de granulação, confirmando que a tecnologia participa do processo de cicatrização ao estimular a síntese de colágeno, fibroblastos e células inflamatórias3 . Adicionalmente a esse resultado, a ciNPWT promoveu a aproximação das bordas da incisão cirúrgica com vista à restauração da função de barreira da pele. Com o término da ciNPWT o enfermeiro ressaltou acerca da importância do uso das coberturas de hidrofibra com prata e da espuma de silicone até o fechamento total da FO. Sendo assim, as estudantes compreenderam que a ciNPWT combinada com outros recursos foram eficientes na cicatrização e acima de tudo, puderam apreender que a tecnologia isolada, sem critério de uso e sem o conhecimento científico do enfermeiro se torna superficial podendo aumentar o tempo de cicatrização e os custos do tratamento. O conhecimento científico é essencial para a construção de um ambiente de aprendizado seguro e eficiente. A ciência oferece informações acuradas, baseadas em evidências, que podem ser utilizadas para melhorar a qualidade da educação e garantir que os estudantes tenham experiências de aprendizagem positivas e enriquecedoras. Nesse sentido, o enfermeiro alertou e reforçou sobre a existência de complicações geradas pela ciNPWT. Ou seja, olhar a tecnologia sem levar em consideração os potenciais efeitos adversos como hemorragias, hematomas, lesões e infecções estacionárias podem levar a condutas equivocadas, como por exemplo, a realização de enxertos4. Por outro lado, entender que a tecnologia pode ser utilizada para além do tratamento, como também na prevenção de infecção e/ou deiscência, uma vez que há o selamento da FO sob condições estéreis, despertaram nas estudantes a relevância da difusão de conhecimentos sobre o uso da ciNPWT no planejamento da assistência de enfermagem a pacientes pós cirúrgicos, sobretudo àqueles com potencial de complicações. Por fim, a expertise do enfermeiro no tratamento de feridas com a ciNPWT promoveu a cicatrização da FO infectada com deiscência após exérese de CEC, sendo observado a redução do tempo de tratamento e riscos de complicações. O desfecho da vivência das estudantes no ambulatório, somado às discussões com o enfermeiro e com o paciente foi incentivador na busca constante pelo conhecimento científico com o propósito de fundamentar a prática assistencial de enfermagem baseada em evidência. CONCLUSÃO Este relato de experiência possibilitou ampliar o conhecimento dos integrantes da LAENFE sobre a ciNPWT em FO infectada com deiscência após exérese de CEC. A possibilidade de ter contato com essa tecnologia foi enriquecedora, uma vez que não é abordado no conteúdo teórico e prático do currículo do curso de enfermagem. Foi perceptível os benefícios da ciNPWT, sendo relevante disseminá-la aos profissionais de saúde para que seja oferecida uma assistência de qualidade ao paciente, com respaldo científico e com conhecimento sobre as novas tecnologias utilizadas em feridas. Ao acompanhar a aplicação da ciNPWT e as consultas para reavaliação da FO, foi possível constatar que seu uso acelera a cicatrização, reduzindo o tempo de tratamento e o risco de infecção, assim como melhora o bem-estar do paciente. Ter o conhecimento de técnicas e condutas terapêuticas eficazes para o tratamento de CEC, reflete diretamente na qualidade do cuidado prestado e o exercício profissional da enfermagem. Sendo assim, a vivência dos estudantes no ambulatório reforçou que o enfermeiro, como responsável pelo cuidado direto e contínuo ao paciente, deve alcançar uma assistência de qualidade, possuindo o conhecimento baseado em evidências científicas, para prevenir e tratar as complicações pós cirúrgicas relacionadas à FO de exérese de CEC.

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Publicado

2023-10-21

Como Citar

ROMÁRIO NASCIMENTO, R. ., LACHOUSKI, L. ., CAMILI GELINSKI STACHERA, I. ., VAZ DE OLIVEIRA, L. ., BORGES FRANCISCO, E. ., BEZ BIROLO, F. ., DANDARA XIMENES MENEZES, Y. ., & BOLLER, S. . (2023). EFEITOS DA TERAPIA POR PRESSÃO NEGATIVA EM FERIDA OPERATÓRIA COM DEISCÊNCIA DE SUTURA:: RELATO DE EXPERIÊNCIA. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/659