EFEITOS DA TERAPIA POR PRESSÃO NEGATIVA EM FERIDA OPERATÓRIA COM DEISCÊNCIA DE SUTURA:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo
INTRODUÇÃO O carcinoma espinocelular (CEC) é o segundo câncer de pele não melanoma mais comum1. Manifesta-se nas células escamosas da pele, gerando replicação celular atípica. Entre os fatores de risco estão: aumento da idade, radiação Ultravioleta, infecção por ?-papilomavírus humano (HPV), sexo masculino, tabagismo, fatores genéticos e imunossupressão1. O principal tratamento da CEC é a exérese, cujo procedimento consiste na remoção do tecido invadido pelo tumor e uma margem de segurança de tecido saudável2. Após a exérese inicia-se o processo de cicatrização por primeira intenção, demandando um curativo local para proteger a ferida operatória. Contudo, este procedimento traz risco ao paciente, uma vez que rompe a barreira epitelial e acarreta reações sistêmicas que podem evoluir para complicações como a infecção e deiscência de sutura. Este último é caracterizado pelo rompimento da sutura com separação das bordas, resultando em exposição das camadas da pele e ativação de fatores sistêmicos e locais que são traduzidos por infecção, seroma, isquemia e tensão na ferida. Esses aspectos em conjunto se agravam conforme a idade, nutrição inadequada e comorbidades, tornando o processo de cicatrização ainda mais complexo. Para prevenir as complicações supracitadas, a terapia por pressão negativa por incisão fechada (ciNPWT) tem-se mostrado uma estratégia eficaz, uma vez que mantém a ferida selada após a sutura em condições estéreis. Essa prerrogativa reduz as forças de cisalhamento nas bordas da ferida, aumenta o fluxo sanguíneo melhorando o aporte de oxigênio no sítio cirúrgico propiciando a viabilidade celular para o processo de cicatrização. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de estudantes de enfermagem no acompanhamento do atendimento a paciente com deiscência de sutura que teve a lesão cicatrizada após o uso da ciNPWT. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, sobre as práticas vivenciadas por estudantes de Graduação em Enfermagem e integrantes da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (LAENFE) de uma Universidade Pública. A experiência foi com a ciNPWT em ferida operatória (FO) com deiscência de sutura originada de exérese de CEC. A FO estava presente na região medial do dorso do tórax com extensão aproximada de 10 cm. O exsudato caracterizava-se como purulento em média quantidade. O paciente foi acompanhado pelo enfermeiro dermatológico do Ambulatório de Transição de um Hospital público de ensino. Apresentou sinais de ansiedade, manifestando prejuízo no bem estar e na sua qualidade de vida. Relatou ainda que não conhecia a ciNPWT, mas por se tratar de uma terapia portátil e auto compreensível , não demonstrou dificuldades sobre os cuidados e manuseio. Os estudantes participaram das consultas de Enfermagem e discutiram os benefícios dessa terapia, abordando o mecanismo de ação e as respostas esperadas e desejadas para a FO. Durante as discussões, as dúvidas do paciente também foram sanadas As atividades foram realizadas entre fevereiro e abril de 2023 e, por se tratar de um relato de experiência sem uso de dados do paciente, o estudo não exigiu a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP). Cabe destacar que no ambulatório em que foi realizado os curativos, o enfermeiro tem por função avaliar as lesões e prescrever a conduta terapêutica. Assim sendo, a avaliação inicial da FO ocorreu na presença das estudantes com o consentimento da pessoa com a lesão. Foi discutido e estabelecido a aplicação do dispositivo portátil PICO 7 da Smith & Nephew, com pressão negativa de 80 mmHg, contínuo por sete dias. O paciente foi reavaliado a cada três dias para a realização da troca do curativo oclusivo. Ao final de sete dias, a ciNPWT foi retirada e instituída a utilização de hidrofibra com prata associada ao uso de espuma de silicone, para continuidade do processo de cicatrização. Em todas as consultas, o paciente recebeu as orientações necessárias para a manutenção da integridade das coberturas. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ciNPWT apresenta amplo uso em feridas complexas de difícil cicatrização e tem a finalidade de promover uma contínua sucção de exsudato. Um dos critérios para utilização dessa tecnologia é a deiscência total de suturas com tecido de epitelização em bordas, drenagem de exsudato purulento e tratamento concomitante da infecção com medicamento antimicrobiano. Trata-se de um sistema portátil que promove a cicatrização por meio de uma pressão subatmosférica controlada e localizada. Consistiu em uma espuma hidrofóbica de poliuretanto e uma espuma hidrofílica aplicadas diretamente na FO. O exsudato é gerido pelo curativo mediante uma combinação de absorção e evaporação da umidade através da película externa, posteriormente o sistema foi programado para produzir uma pressão negativa no leito da lesão. Os principais efeitos da ciNPWT na FO foram: redução da colonização de bactérias, analgesia e redução do processo inflamatório. Por meio da avaliação criteriosa do enfermeiro ao implementar a ciNPWT, evidenciou-se o desenvolvimento de tecido de granulação, confirmando que a tecnologia participa do processo de cicatrização ao estimular a síntese de colágeno, fibroblastos e células inflamatórias3 . Adicionalmente a esse resultado, a ciNPWT promoveu a aproximação das bordas da incisão cirúrgica com vista à restauração da função de barreira da pele. Com o término da ciNPWT o enfermeiro ressaltou acerca da importância do uso das coberturas de hidrofibra com prata e da espuma de silicone até o fechamento total da FO. Sendo assim, as estudantes compreenderam que a ciNPWT combinada com outros recursos foram eficientes na cicatrização e acima de tudo, puderam apreender que a tecnologia isolada, sem critério de uso e sem o conhecimento científico do enfermeiro se torna superficial podendo aumentar o tempo de cicatrização e os custos do tratamento. O conhecimento científico é essencial para a construção de um ambiente de aprendizado seguro e eficiente. A ciência oferece informações acuradas, baseadas em evidências, que podem ser utilizadas para melhorar a qualidade da educação e garantir que os estudantes tenham experiências de aprendizagem positivas e enriquecedoras. Nesse sentido, o enfermeiro alertou e reforçou sobre a existência de complicações geradas pela ciNPWT. Ou seja, olhar a tecnologia sem levar em consideração os potenciais efeitos adversos como hemorragias, hematomas, lesões e infecções estacionárias podem levar a condutas equivocadas, como por exemplo, a realização de enxertos4. Por outro lado, entender que a tecnologia pode ser utilizada para além do tratamento, como também na prevenção de infecção e/ou deiscência, uma vez que há o selamento da FO sob condições estéreis, despertaram nas estudantes a relevância da difusão de conhecimentos sobre o uso da ciNPWT no planejamento da assistência de enfermagem a pacientes pós cirúrgicos, sobretudo àqueles com potencial de complicações. Por fim, a expertise do enfermeiro no tratamento de feridas com a ciNPWT promoveu a cicatrização da FO infectada com deiscência após exérese de CEC, sendo observado a redução do tempo de tratamento e riscos de complicações. O desfecho da vivência das estudantes no ambulatório, somado às discussões com o enfermeiro e com o paciente foi incentivador na busca constante pelo conhecimento científico com o propósito de fundamentar a prática assistencial de enfermagem baseada em evidência. CONCLUSÃO Este relato de experiência possibilitou ampliar o conhecimento dos integrantes da LAENFE sobre a ciNPWT em FO infectada com deiscência após exérese de CEC. A possibilidade de ter contato com essa tecnologia foi enriquecedora, uma vez que não é abordado no conteúdo teórico e prático do currículo do curso de enfermagem. Foi perceptível os benefícios da ciNPWT, sendo relevante disseminá-la aos profissionais de saúde para que seja oferecida uma assistência de qualidade ao paciente, com respaldo científico e com conhecimento sobre as novas tecnologias utilizadas em feridas. Ao acompanhar a aplicação da ciNPWT e as consultas para reavaliação da FO, foi possível constatar que seu uso acelera a cicatrização, reduzindo o tempo de tratamento e o risco de infecção, assim como melhora o bem-estar do paciente. Ter o conhecimento de técnicas e condutas terapêuticas eficazes para o tratamento de CEC, reflete diretamente na qualidade do cuidado prestado e o exercício profissional da enfermagem. Sendo assim, a vivência dos estudantes no ambulatório reforçou que o enfermeiro, como responsável pelo cuidado direto e contínuo ao paciente, deve alcançar uma assistência de qualidade, possuindo o conhecimento baseado em evidências científicas, para prevenir e tratar as complicações pós cirúrgicas relacionadas à FO de exérese de CEC.