AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CUIDADO AUTORREFERIDA DA PESSOA COM ESTOMIA NO CENTRO OESTE MINEIRO
Abstract
Introdução: A qualidade do cuidado em saúde, entendida como a capacidade dos serviços em promover resultados desejáveis com base em evidências e centrados no usuário, é um elemento essencial para a efetividade das ações no Sistema Único de Saúde (SUS). No contexto das pessoas com estomia, essa qualidade está diretamente relacionada à promoção da dignidade, da autonomia e da inclusão. No Brasil, embora faltem dados consolidados, estima-se que cerca de 207 mil pessoas vivam com estomias. Desde 1993, o SUS regulamenta a assistência a essa população, reconhecendo-a, inclusive, como pessoa com deficiência física. Contudo, persistem lacunas importantes na qualidade da atenção ofertada, especialmente no que diz respeito à percepção dos próprios usuários. Estudos evidenciam a escassez de investigações que incluam a perspectiva da pessoa com deficiência, muitas vezes desconsiderada ou mediada por práticas capacitistas, o que pode comprometer a humanização e a efetividade do cuidado. Diante disso, torna-se relevante compreender como as pessoas com estomia percebem os cuidados oferecidos pelos Serviços de Atenção à Pessoa com Estomia (SASPO), especialmente na região Centro- Oeste de Minas Gerais. Essa escuta qualificada pode subsidiar ações mais inclusivas, humanizadas e coerentes com os princípios do SUS. Objetivo: avaliar a qualidade do cuidado autorreferida nos serviços de atenção à pessoa com estomia na região Centro-Oeste de Minas Gerais. Método: Trata-se de um estudo analítico, transversal, exploratório e com abordagem quantitativa, realizado com amostra por conveniência, formada por 81 pessoas com estomia e 60 acompanhantes cadastrados nos SASPO da região Centro-Oeste de Minas Gerais, composta por 53 municípios e 7 regiões de saúde. Foram estudadas as pessoas com estomia cadastradas em cinco SASPO e dois Centros Especializados em Reabilitação (CER) implantados nos municípios sede regionais da região Oeste de MG, no período de 2023 a 2025, com um total de 708 pessoas cadastradas. De acordo com o cálculo amostral, a partir da população total de cada região, esperava-se obter 253 respondentes, no entanto, após contatar todos os indivíduos da lista telefônica, foram obtidas 141 respostas, considerando tanto as pessoas com estomia atendidas no SASPO quanto seus acompanhantes. No entanto, apesar de a amostra coletada ser menor que a planejada, o poder estatístico calculado é de 99%, indicando alta probabilidade de detectar um efeito real, caso ele esteja presente. Isso sugere que, mesmo com uma amostra reduzida, a pesquisa ainda mantém uma alta capacidade de identificar diferenças estatisticamente significativas. Para a coleta formou-se uma equipe composta por três alunos de iniciação científica e três alunos voluntários, todos capacitados. Além disso, foram disponibilizados por via WhatsApp ou por ligações telefônicas os questionários autoaplicáveis e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido . Para a escolha do instrumento de pesquisa, foi realizada uma revisão de escopo para mapear os principais instrumentos de avaliação da qualidade do cuidado,identificando quatro principais instrumentos, com destaque para o Quality of Care Scale. Diante disso, no instrumento de pesquisa foram aplicados o questionário de características sociodemográficas e clínicas e posteriormente, o questionário Quality of Care Scale, validado no Brasil, que avalia a qualidade do cuidado referida por pessoas com incapacidades. Os dados coletados foram armazenados a partir da construção de uma base de dados no Excel®. Por fim, a pesquisa obteve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São João del-Rei/Campus Centro-Oeste, sob o parecer número 6.882.68. Resultados: A scoping review realizada como parte da dissertação identificou 17 estudos internacionais voltados à avaliação da qualidade do cuidado em estomaterapia. Desses, apenas sete utilizaram instrumentos validados especificamente para pessoas com estomia. Os mais recorrentes foram o Quality of Care Scale, o SERVQUAL e o Quality of Care from the Patient’s Perspective. Essa diversidade metodológica reforça a urgência de validar instrumentos nacionais adaptados ao contexto sociocultural brasileiro e à realidade do SUS. Paralelamente, a análise dos dados obtidos por meio da aplicação da Quality of Care Scale evidenciou que, entre os respondentes, 85,2% avaliaram os profissionais como capacitados, e 84% relataram confiança no atendimento recebido. No entanto, desafios importantes foram observados no eixo “acesso”, especialmente relacionados à localização dos serviços, ausência de transporte público adequado, barreiras arquitetônicas e tempos prolongados de espera. O domínio das “necessidades sociais” apresentou os escores mais baixos, sendo que 55,6% dos participantes relataram não receber apoio para participar de atividades sociais ou de lazer, o que impacta negativamente a qualidade de vida e está associado a sentimentos de isolamento e solidão. Além disso, apenas 33,3% tinham conhecimento sobre seus direitos legais e benefícios financeiros, o que demonstra lacunas na educação em saúde. No perfil clínico, a maioria apresentava colostomia (54%), tendo o câncer como principal etiologia (44%). Observou-se, ainda, que apenas 29,1% reconheciam a estomia como uma deficiência, o que pode limitar o acesso a políticas públicas voltadas a esse público. A análise estatística revelou que mulheres e pessoas com maior escolaridade atribuíram melhores escores à qualidade do cuidado. Conclusão: A scoping review identificou diversos instrumentos internacionais voltados à avaliação da qualidade do cuidado,o que reforça a importância de incorporar a perspectiva do paciente na análise dos serviços. A análise dos dados obtidos por meio do instrumento Quality of Care evidenciou que, apesar de avaliações positivas, persistem desafios na assistência às pessoas com estomia, como barreiras de acesso, dificuldades socioeconômicas e limitações no suporte oferecido. Diante disso, torna-se essencial fortalecer os serviços especializados, garantir acessibilidade, ampliar o suporte clínico e psicossocial e assegurar o acesso a informações claras sobre direitos e benefícios, promovendo, assim, o autocuidado, a equidade e a melhoria da qualidade de vida.Downloads
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Published
2025-10-01
How to Cite
Castro, L. C. D., Silva, L. O., Custodio, L. B., Braga, P. P., Dázio, E. M. R., & Moraes, J. T. (2025). AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CUIDADO AUTORREFERIDA DA PESSOA COM ESTOMIA NO CENTRO OESTE MINEIRO. Brazilian Congress of Stomatherapy. Retrieved from https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/2311
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Artigos
