ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM UM AMBULATORIO DE UROGINECOLOGIA: ESTUDO TRANSVERSAL
Abstract
Introdução: A incontinência urinária (IU) impacta negativamente a qualidade de vida, porém poucas mulheres buscam ajuda para esse problema. A escassez de literatura sobre itinerário terapêutico (IT) vivenciado por mulheres com IU contribui para a negligência no cuidado.Dento do contexto da IU, tais estudos poderiam oferecer uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão dos fatores subjacentes ao diagnóstico tardio e para explorar as diversas dimensões da experiência da condição de saúde.Torna-se importante, portanto, identificar e analisar o IT de mulheres com IU em um ambulatório de uroginecologia, visando à compreensão dos motivos para a busca por tratamento, às vezes, tardia e não prioritária. Para tanto, o presente estudo busca responder o seguinte questionamento:Qual é o itinerário terapêutico que mulheres com IU percorrem, desde o início dos sintomas até o acesso a um ambulatório de uroginecologia? Objetivo: Analisar o IT de mulheres com IU acompanhadasem um ambulatório de uroginecologia. Método: Estudo observacional, transversal desenvolvido em ambulatório de uroginecologia em hospital público de grande porte no munícipio de São Paulo após a aprovação dos comitês de ética. A população do estudo foi composta por mulheres adultas com queixa de IU que estavam no ambulatório durante a coleta de dados sem cirurgia prévia nos últimos quatro anos. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com os seguintes instrumentos: dados sociodemográficos e clínicos, International Consultation Incontinence Questionnaire ? Short Form (ICIQ-SF), escala de conhecimento, atitude e prática (CAP) e instrumento construido para o estudo de IT. As análises estatísticas descritiva e inferencial foram realizadas utilizando pacote estatístico R 4.1.1 Resultados: Participaram do estudo 145 mulheres, com média de idade de 57,83 anos (DP 11,40), média de 2,8 gestações (DP 1,73), média de 1,89 (DP 1,85) partos vaginais, e a maioria menopausada (98/67,59%). Segundo o ICIQ-SF, a maioria apresentava perdas várias vezes ao dia (97/66,90%), em quantidade moderada (61/42,07%) e em situações como tossir ou espirrar (121/83,45%); 91,03% (n = 132) das participantes não sabiam que a perda de urina era IU. O IT foi caracterizado pelo surgimento dos primeiros sintomas, em média, 12,53 anos (DP 9,05) antes da consulta atual no ambulatório; com média de 5,71 anos (DP 5,53) até a conscientização do problema; o principal motivo para não buscar ajuda foi considerar os sintomas "normais" (99/68,28%); o tempo médio para buscar ajuda foi de 8,96 anos (DP 8,74); a principal barreira enfrentada foi a dificuldade de acesso ao serviço de saúde (112/77,24%), e o tempo de espera para a primeira consulta com o especialista foi de 14,66 meses (DP 15,11). A principal abordagem de tratamento foi cirúrgica (78/53,79%), e 76,55% (n = 111) relataram estar satisfeitas com a proposta de tratamento. Segundo o CAP, os escores de conhecimento apresentaram média de 76,26 (DP 14,82) pontos, e os de atitude, 91,23 (DP 7,55). Nas associações entre o IT e dados sociodemográficos e clínicos, mulheres que moravam com os filhos apresentaram maior atitude no arranjo familiar (p<0,003); aquelas que reconheciam a perda como IU apresentaram menor tempo de evolução dos sintomas (p = 0,005); buscaram ajuda mais precocemente (p = 0,013) e procuraram assistência logo no início dos sintomas (p = 0,026). A interferência da perda urinária na vida diária teve correlação fraca com o tempo para buscar ajuda (r = 0,197; p = 0,020). Mulheres com maior IMC tenderam a apresentar maiores escores de atitude e prática de tratamento. Conclusão: Estudar o Itinerário terapêutico no contexto da mulher com sintomas de incontinência, evidenciou um panorama desolador, marcado por uma longa trajetória de mais de 12 anos de convívio com sintomas, que muitas vezes são ignorados ou normalizados. As mulheres, em sua maioria, não reconhecem a incontinência como um problema, acreditando que a perda de urina faz parte do envelhecimento ou algo "normal". Isso na?o apenas agrava os sintomas, como também as priva de opções de tratamentos conservadores, que poderiam ser a primeira escolha. Além dessa normalização equivocada, o estudo também expôs barreiras institucionais, como as longas filas de espera em serviços especializados, dificultando ainda mais o acesso ao diagnóstico e ao tratamento precoce. Por fim, este estudo ressaltou que a falta de conhecimento é, sem dúvida, a raiz desse longo e penoso caminho. Sem conhecimento, as mulheres não se percebem como participantes ativas no seu próprio cuidado. O conhecimento é o que capacita o ser humano a identificar o que não está certo e, a partir desse ponto, a reescrever sua própria jornada.Downloads
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Published
2025-10-01
How to Cite
Goulart, M. L., Assis, G., & Santos, V. L. C. D. G. (2025). ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM UM AMBULATORIO DE UROGINECOLOGIA: ESTUDO TRANSVERSAL. Brazilian Congress of Stomatherapy. Retrieved from https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/2345
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Artigos
