ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E VALIDAÇÃO DO CONTEÚDO DO “FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA DE AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM OSTOMIAS DE ELIMINAÇÃO INTESTINAL” PARA O CONTEXTO BRASILEIRO

Autores

  • PATRÍCIA ROSA DA SILVA PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
  • CLAUDIOMIRO DA SILVA ALONSO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
  • ELINE LIMA BORGES UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
  • TAYSA FÁTIMA GARCIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Resumo

Introdução: O cuidado à pessoa com estomia intestinal consolida-se como um processo complexo, pois gera mudanças em todos os níveis da vida, em especial na necessidade de realização do autocuidado1. O autocuidado de pessoas com estomias intestinais ainda é desafio para os pacientes e profissionais de saúde2. Quando as competências para o autocuidado não são desenvolvidas de maneira correta e temporal, complicações podem surgir, aumentar os custos para serviços de saúde e diminuir a qualidade de vida das pessoas com estomias intestinais3,4. No Brasil, ainda não dispomos de um instrumento validado que avalie as competências para o autocuidado dessas pessoas. No cenário internacional, existem alguns instrumentos para avaliação do autocuidado das pessoas com estomias, os quais possuem diversas limitações e barreiras para sua utilização no Brasil, as quais residem na língua, perspectiva teórica do autocuidado e diferenças culturais3. O “formulário de avaliação do desenvolvimento da competência de autocuidado de pessoas com ostomias de eliminação intestinal (CAO-EI: ESEP)”, criado em Portugal por pesquisadores da Escola de Enfermagem do Porto é um dos instrumentos com potencial uso no Brasil, o qual pode ser considerado como uma tecnologia coerente, pertinente e específica para pessoas com estomias de eliminação intestinal. O CAO-EI: ESEP é uma tecnologia desenvolvida no ano de 2011 por pesquisadores da Escola Superior de Enfermagem do Porto, no idioma português europeu. O conteúdo do formulário foi construído com base nos fundamentos da Teoria do Déficit do Autocuidado e taxonomias universais da Nursing Outcomes Classification – NOC. Possui 59 itens subdivididos em duas partes: caracterização sociodemográfica e clínica e competência para o autocuidado. A segunda parte versa sobre a competência para o autocuidado, abordada em seis domínios, sendo eles: conhecimento, autovigilância, interpretação, tomada de decisão, execução, negociação e utilização dos recursos de saúde. Para medir os indicadores dos domínios supracitados, utiliza-se uma escala Likert com cinco opções, atribuindo-se mais pontos a um maior nível de competência3. A escolha do CAO-EI: ESEP justifica-se no conteúdo do formulário, o qual possui similaridades com a cultura brasileira, uma vez que a concepção filosófica de autocuidado e os referenciais utilizados na construção do formulário são os mais difundidos na cultura brasileira. Desse modo, a adaptação e a validação do CAO-EI: ESEP para o contexto brasileiro, além de permitir identificação das necessidades de autocuidado das pessoas com estomia de eliminação intestinal, poderá contribuir para a avaliação dos processos e resultados dos serviços especializados, subsidiando políticas públicas efetivas destinadas a esse grupo populacional em ascendência5. Estabeleceu-se como pergunta de pesquisa: O CAO:EI – ESEP pode ser adaptado para uso fácil e preciso entre enfermeiros na avaliação da competência para o autocuidado de pessoas com estomias de eliminação intestinal no Brasil? Objetivo: realizar adaptação transcultural e a validação do conteúdo do “formulário de avaliação do desenvolvimento da competência de autocuidado de pessoas com ostomias de eliminação intestinal (CAO-EI: ESEP)” para o contexto brasileiro. Método: trata-se de estudo metodológico conduzido por meio da abordagem quantitativa, que realizou a adaptação transcultural e a validação do conteúdo do CAO- EI:ESEP. Preliminarmente, a autorização dos autores e da instituição detentora dos direitos autorais foi solicitada. O estudo seguiu as etapas de tradução, síntese, retrotradução, análise por comitê de juízes, pré-teste e comitê de revisão de adaptação. A coleta de dados foi realizada por meio da plataforma digital Google forms no periodo de janeiro a abril de 2021 . O comitê de juízes foi dividido em dois núcleos: especialistas e peritos. O núcleo especialista interdisciplinar foi composto de nove membros (dois doutores com experiência na condução de estudos metodológicos, dois estomaterapeutas e todos os 5 tradutores e retrotradutores), os quais avaliaram o formulário em busca de equivalência idiomática, conceitual, semântica e experiencial. O comitê de peritos foi composto de 20 estomaterapeutas titulados, oriundos das cinco regiões do país, os quais foram previamente selecionados e deveriam ter experiência na avaliação de pessoas com estomias, produção científica, técnica e tecnológica sobre estomias e autocuidado, os quais avaliaram a propriedade de validade do conteúdo, pautado nos critérios comportamental, simplicidade, clareza, relevância e tipicidade. O pré-teste foi realizado em uma amostra de 40 enfermeiros que atuavam nos três níveis de atenção à saúde (11 profissionais da Atenção Primária à Saúde, 13 profissionais do Serviço de Atenção à Saúde da Pessoa Ostomizada e 16 profissionais de Unidades Hospitalares), os quais avaliaram a versão traduzida do formulário quanto a clareza dos itens, relevância para o contexto e pertinência conceitual. O encerramento do processo de adaptação transcultural ocorreu após submissão de todos os relatórios ao Comitê de Revisão de Adaptação, que foi representado pela autora principal, que foi indicada pela Direção da Escola Superior de Enfermagem do Porto. Utilizaram-se as frequências e porcentagens de concordância e o índice de validade de conteúdo como modelos analíticos. A anuência dos participantes foi confirmada por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da sob parecer de número: 4.518.911. Resultados: Foram necessárias substituições, inserções, modificações e exclusões de termos e expressões. Nas fases de tradução e síntese, foram modificados os termos português lusitano “ união de fato, ostomia e ostomizada”. Na fase de validação pelo comitê de especialistas e peritos foram realizadas as seguintes modificações: inserção do variável gênero e suas submodalidades, considerando a pluralidade do Brasil; modificação dos termos: habilidades literárias por escolaridade; emprego ativo por emprego formal; profissão por ocupação. Os domínios do formulário não foram alvo de discordâncias no comitê de especialistas, tendo seus conteúdos integralmente preservados e posteriormente avaliados pelo comitê de peritos. Com base nas recomendações do comitê de peritos foram realizadas a seguintes substituições: estomizado por pessoa com estomia, dispositivos por equipamentos coletores; saco de ostomia por bolsa coletora; periestomal por periestomia; penso por base adesiva. Após dois ciclos de avaliação pelo comitê de especialistas e peritos, o conteúdo foi considerado adequado, obtendo IVC próximo de 1,0 na maioria dos itens avaliados, ratificando equivalência nos domínios semântico, idiomático, conceitual e experiencial. No pré-teste, todos os itens apresentaram concordância adequada, obtendo 97,2 % de concordância na clareza de linguagem; 98,9% de pertinência para a prática clínica e 98,3% na relevância teórica. Ao final do comitê de revisão, emitiu-se parecer favorável à lisura do processo de adaptação. Conclusão: A adaptação transcultural foi o processo utilizado para obter equivalência cultural entre a versão portuguesa e a brasileira do CAO: EI – ESEP, a qual foi confirmada pelas recorrentes frequências de concordância adequadas. A propriedade psicométrica de validade do conteúdo foi alcançada após dois ciclos de avaliação protagonizados por peritos que representavam as cinco regiões do Brasil, o que permitiu a construção de um conteúdo que respeita a pluralidade cultural originária da regionalidade do território brasileiro. Este estudo contribui para transformação na forma de avaliar pessoas com estomias de eliminação intestinal, uma vez que, em seu escopo, enaltece a avaliação sistematizada e individualizada do autocuidado, oferecendo conteúdo representativo e compreensível para enfermeiros que futuramente poderão utilizar o instrumento no desenvolvimento de cuidados.

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Publicado

2024-01-02

Como Citar

ROSA DA SILVA, P. ., DA SILVA ALONSO, C. ., LIMA BORGES, E. ., & FÁTIMA GARCIA, T. . (2024). ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E VALIDAÇÃO DO CONTEÚDO DO “FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA DE AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM OSTOMIAS DE ELIMINAÇÃO INTESTINAL” PARA O CONTEXTO BRASILEIRO. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/502