ASSISTÊNCIA DA(O) ENFERMEIRA(O) ESTOMATERAPEUTA NA PERSPECTIVA DA PESSOA COM ESTOMIA
Resumo
INTRODUÇÃO: Sabe-se que a estomia impacta na qualidade de vida de uma pessoa devido às alterações ocorridas no corpo. Além disso, estudos têm apontado que além da estomia, outros aspectos influenciam na qualidade de vida da pessa com estomia1. Os determinantes que podem afetar negativa ou positivamente são os aspectos demográficos, o acesso ao serviço de saúde, relações com a família, comorbidades, complicação do estoma, imobilidade, conhecimento, gerenciamento do autocuidado e qualidade do cuidado2. A relação entre as pessoas que vivem com estomia e a(o) enfermeira(o) estomaterapeuta apresenta-se como um importante determinante da satisfação dos pacientes relacionada à melhora da qualidade de vida. Padrões de atendimento especializado têm sido discutidos e, consequentemente, os benefícios de um atendimento especializado têm sido evidenciados. Portanto, o cuidado da(o) enfermeira(o) estomaterapeuta tem sido comprovado em muitos estudos como um fator que impacta positivamente na qualidade de vida da pessoa com estomia. Em contrapartida, aspesar dos avanços quanto à qualidade da assistência prestada, aos procedimentos hospitalares e do aumento da eficiência das cirurgias de confecção de estomia, as complicações pós-operatórias ainda estão presentes em um número considerável de pacientes. Segundo a Wound Ostomy and Continence Nurses Society WOCN, o avanço das técnicas cirúrgicas está alterando o tempo de internação e reduzindo os dias de internação3. Consequentemente, o tempo para os profissionais de saúde fornecerem educação para a saúde antes da alta dos pacientes está cada vez mais desafiador. Devido aos pacientes não terem tempo suficiente para treinamento relacionado ao manejo do estoma durante a internação, a necessidade de cuidados especializados após a alta hospitalar tem sido cada vez mais intensa. A American Society of Colon and Rectal Surgeons enfatiza a importância da continuidade do tratamento após a cirurgia com uma enfermeira especialista em estomaterapia3. As ações da(o) enfermeira(o) estomaterapeuta envolvem atividades relacionadas à educação em saúde, acompanhamento e assistência nas fases pré, trans e pós-operatória, em todos os cenários de assistência à saúde, incluindo ambulatório, internação e atendimento domiciliar. São inúmeras as complicações pós-operatórias que a confecção de uma estomia pode apresentar, portanto, pessoas que vivem com uma estomia precisam de cuidados especiais e avaliar qualidade da assistência prestada por esses profissionais especialistas trará contribuições para a área, evidenciando estratégias, desafios e ações presentes na assistência da(o) estomaterapeuta3. Assim, este estudo traz uma abordagem significativa para a área de Enfermagem a fim de proporcionar uma melhor assistência às pessoas com estomias e possibilitar a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem em estomaterapia4. OBJETIVO: Avaliar a assistência da(o) enfermeira(o) estomaterapeuta na perspetiva da pessoa com estomia e indicar o impacto dessa assitência na qualidade de vida. MÉTODO: Trata-se de pesquisa qualitativa, realizada nos Estados Unidos, durante o período de dezembro de 2019 e Agosto de 2020. A coleta de dados foi por meio de entrevistas semi-estruturadas de forma remota (online). Os critérios de inclusão foram: ter estomia de eliminação há pelo menos 2 meses, ter tido atendimento ambulatorial, ter 18 anos ou mais e ser atendido por enfermeira(o) estomaterapeuta ao menos uma vez. O recrutamento ocorreu por meio de sites de grupos de apoio à estomia, sites de mídia social gerais e privados (Facebook). Após aprovação de seus administradores, foram publicados convites informativos nos sites convidando as pessoas com estomia a participarem do estudo. As entrevistas foram realizadas por meio do link zoom após aceitarem a participar da entrevista. As entrevistas foram gravadas em áudio com o consentimento dos participantes. Todas as informações foram guardadas de forma anônima e protegidas em um arquivo com senha. Os dados das entrevistas foram analisados usando o software NVivo da International Qualitative Solutions Research5. As entrevistas foram norteadas pelas questões: 1. Descreva suas principais experiências, necessidades, desafios e/ou sucessos em viver com uma estomia? 3. Como os cuidados prestados pela(o) enfermeira(o) estomaterapeuta afetaram sua capacidade de lidar com seu estoma e de se adaptar a uma nova vida? O que você mudaria na assistência prestada pela enfermeira estomaterapeuta para melhorar sua qualidade de vida? A participação foi anônima e voluntária após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa seguindo normas da Rutgers IRB número do protocolo Pro2019002123. RESULTADOS: Foram contactados 20 participantes voluntários. Entretanto, a partir da técnica de saturação, quando nenhuma informação nova foi fornecida, foram realizadas onze entrevistas durante o período de abril a julho de 2020. A análise identificou os temas: 1) Desafios de viver com uma estomia; 2) Sucessos vivendo com uma estomia; 3) A percepção da Qualidade de Vida da pessoa com estomia; 4) Impacto dos cuidados da(a) Enfermeira(o) Estomaterapeuta na qualidade de vida da pessoa com estomia. Os principais desafios apontados pelos participantes foram: vazamentos, equilíbrio na alimentação e hidratação, complicação da pele, adaptação a uma nova vida, local onde foi feito o estoma e encontrar os produtos adequados para o estoma. Ter uma alimentação balanceada e manter uma boa hidratação foi um dos principais desafios principalmente no pós-operatório imediato. Finalmente, encontrar os produtos adequados para o estoma, ficar sem suprimentos e encontrar a melhor roupa para vestir são questões menos evidenciadas pelos participantes, embora representem desafios importantes. No geral, os desafios compartilhados pelos entrevistados ilustram os problemas mais frequentes para pessoas que vivem com estomia na literatura. Em relação ao sucesso alcançado após a inserção da estomia, os participantes apontaram a possibilidade de fazer tudo que faziam antes, ter zero ou diminuição da dor, ter uma alimentação balanceada e sentir-se com mais energia, aprender a manusear o estoma e ter uma boa rotina, reconhecendo quando tem algum problema com o estoma. Quanto à qualidade de vida após a confecção do estoma, todos os participantes apontaram melhora significativa. Eles consideraram ter uma boa qualidade de vida, apesar das dificuldades que vivenciam por terem um estoma. O cuidado da (o) estomaterapeuta de maior impacto apresentado pelos participantes foi ensinar como manusear a bolsa. Eles tiveram que aprender como trocar a bolsa, como cuidar do estoma, a importância de prevenir problemas de pele, entender os aspectos comuns e incomuns da pele, também manusear os aparelhos corretamente. Os desafios e sucessos dos entrevistados orientaram comparativamente, como o cuidado da(o) enfermeira(o) estomaterapeuta impactou a vida dos participantes com foco em uma melhor qualidade de vida. Contudo, os participantes apontaram a necessidade de uma melhor comunicação entre a equipe, a fim de dar uma assitência com mais qualidade. Alguns perceberam divergências nas informações da equipe médica durante a internação. Os resultados deste estudo corroboram com pesquisas anteriores considerando a falta de informação como uma realidade ainda presente no contexto hospitalar e entendida como um cuidado necessário que precisa ser melhorado. CONCLUSÃO: A assistência realizada pela(o) enfermeira(o) estomaterapeuta às pessoas que vivem com estomia é evidenciada como um cuidado com impactos positivos em suas vidas. No entanto, alguns fatores negativos presentes na assistência emergiram nas falas, como a falta de comunicação e informação, especialmente no período de internação hospitalar. A percepção do cuidado prestado pelos estomaterapeutas foi caracterizada como um importante papel que desempenham na adaptação à nova condição de vida experienciada pelos participantes. Sendo assim, estudos onde a estratégia educativa e informativa estejam presentes na assistência da(o) estomaterapeuta antes e durante o período de internação, assim como após a alta para casa, são necessários para garantir a continuidade da melhora da assistência de enfermagem à pessoa com estomia, proporcionando o aumento da qualidade de vida do paciente.