CONSTRUÇÃO DE UM VÍDEO DE ANIMAÇÃO SOBRE ADAPTAÇÃO SOCIAL DE PESSOAS COM ESTOMIAS INTESTINAIS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo
INTRODUÇÃO: O cenário mundial passou por transformações, sobretudo diante da nova era proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico. A área da saúde não ficou de fora desse panorama e se adequou à nova realidade, incorporando aos seus saberes um novo meio de propagá-los com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Assim, as TICs, recursos tecnológicos e computacionais relacionados ao processamento e comunicação da informação, proporcionam novas ferramentas para disponibilizar meios, métodos e processos das ciências da saúde1. As TICs podem ser observadas como facilitadoras e potencializadoras do processo de educação em saúde, em que os profissionais da área, sobretudo enfermeiros, podem desenvolver novos produtos e caminhar para a melhora dos atendimentos e para inovação. Dessa forma, um meio de subsidiar esse processo, são os vídeos de animação, os quais se utilizam de áudio e vídeo para compor as narrativas com personagens, legendas e imagens, tornando o processo educativo mais lúdico e dinâmico2,3. Esse tipo de tecnologia tem potencial na educação em saúde de pacientes com condições crônicas, sobretudo as pessoas com estomias intestinais, que após a cirurgia necessitam aprender novas habilidades de cuidado com o corpo, em razão da perda da continência fecal e uso da bolsa coletora, os quais promovem novo estilo de vida4. Assim, os vídeos de animação permitem o compartilhamento de informações, bem como a aprendizagem do público alvo e pode ser uma ferramenta positiva no aprendizado das pessoas com estomias intestinais possibilitando, por meio de um processo lúdico, dinâmico e com imagens, contribuir para a implementação e planejamento do cuidado, uma vez que possibilita uma forma de educar acerca da nova circunstância e promover a reintegração social por meio de orientações de autocuidado e adaptação3,4. OBJETIVO: Relatar a experiência na construção do vídeo de animação sobre adaptação social para as pessoas com estomias intestinais. MÉTODO: Estudo do tipo relato de experiência, delineado a partir das etapas operacionais padronizadas para o desenvolvimento de filmes educativos (pré-produção, produção e pós-produção) utilizadas para produção de um vídeo de educação em saúde para pessoas com estomias intestinais no formato de animação audiovisual, como também, para nortear o relato de experiência. A produção do vídeo iniciou durante a pandemia de COVID-19, a partir de uma experiência prévia dos pesquisadores na construção de um outro vídeo de animação para crianças sobre o novo vírus durante este período. O estudo foi construído durante um mestrado acadêmico e participaram, além do mestrando, estudantes da graduação e da pós-graduação, profissionais da área audiovisual e enfermeiros. O vídeo de animação foi intitulado de “A vida depois da estomia intestinal - um vídeo de animação” e aborda os temas de nutrição, autoimagem, sexualidade e autocuidado e retrata esses tópicos de forma simples e cotidiana, a fim de gerar no público alvo a sensação de pertencimento e naturalidade diante da nova condição após a confecção da estomia intestinal. O vídeo possui 12min22seg e se passa durante a reunião de um grupo de apoio para pessoas com estomias liderado por um enfermeiro. RESULTADOS Iniciou-se a primeira etapa, a pré-produção, na qual realizou-se uma Scoping Review para identificar vídeos de animação sobre estomias. Assim, foi possível perceber a escassez desse material, sobretudo na literatura. Os vídeos encontrados na Scoping foram analisados quanto aos temas abordados e adaptação social para pessoas com estomias foi escolhida para subsidiar o vídeo a ser construído, pois assuntos como sexualidade, interação com a sociedade, roupas adequadas, prática de exercício físico e entretenimento foram pouco abordados na amostra analisada. Para os personagens, foi realizada uma pesquisa epidemiológica para identificar, na sociedade, os grupos de pessoas que mais possuíam estomias intestinais e também foi levado em consideração o caráter inclusivo, para garantir que haja a identificação do público alvo com o conteúdo do vídeo. A animação possui cinco personagens: Luiz, enfermeiro e coordenador do grupo; Emilly, mulher de 26 anos, branca, heterossexual, casada, com ensino superior completo e com estomia há apenas um mês; Rita, mulher, negra, 59 anos, heterossexual, aposentada, casada, ensino superior completo e com estomia há 5 anos; João, homem, branco, 50 anos, heterossexual, aposentado, ensnino fundamental incompleto, aposentado e com estomia há 10 anos; Roberto, homem, negro, 51 anos, heterossexual, divorciado, ensino fundamental completo, porteiro e com estomia há 4 anos. A segunda etapa, após os comentários e avaliações dos juízes acerca do roteiro do vídeo, a história da animação foi definida e retrata o encontro das pessoas com estomias, onde elas conversam sobre os desafios que surgem a partir da confecção da estomia e o que fizeram para superá-los, além de tirar dúvidas entre si e receber o apoio daqueles que passam e entendem a nova realidade delas. Esse formato foi inspirado em um projeto de extensão durante a graduação de um dos pesquisadores, em que os discentes promoviam grupos de apoio para pessoas com estomia para discutir acerca de autonomia, autocuidado e adaptação durante o ano de 2019 em um centro de referência para pessoas com estomias. Assim, foi possível resgatar as memórias dessas vivências e pô-las nos personagens, nas suas histórias e nos seus relatos, tanto para os “pacientes” quanto na figura do “enfermeiro”. Para esta etapa, foram realizadas reuniões com a equipe do audiovisual para definir o tipo de desenho, realizar modificações e discutir acerca do desenvolvimento. Além da gravação das vozes, realizada na universidade dos pesquisadores, pelos membros do grupo de pesquisa e outras pessoas interessadas em participar. Na última etapa, a pós produção, ocorreu a edição e organização das cenas do vídeo, realizada em conjunto com especialistas de mídia e editores de vídeo. A divulgação do vídeo foi realizada na plataforma de vídeos YouTube, na qual qualquer pessoa do mundo pode ter acesso livre e gratuito ao vídeo, podendo ser acessada por pessoas com estomias, familiares e profissionais da área da saúde para realizarem suas ações de educação em saúde, acrescentando à tecnologia a possibilidade de promover autonomia, mudança e transformação social. A experiência no desenvolvimento de vídeos de animação sobre adaptação social de pessoas com estomas intestinais permitiu a ampliação do conhecimento sobre as vivências e dificuldades da pessoa com estomia e a aproximação da saúde com a tecnologia, contribuindo para uma formação acadêmica com vivência multiprofissional e mais compreensiva diante das dificuldades que essa condição impõe aos seus portadores. Além de permitir o aprofundamento na temática. CONCLUSÃO A construção de um vídeo de animação demanda a contribuição de diversos profissionais da área da saúde e do audiovisual, no qual a experiência e os conhecimentos de cada um são pertinentes para o desenvolvimento de um bom material. Assim, o vídeo “A vida depois da estomia intestinal – um vídeo de animação” é um importante apoio para enfermeiros e pessoas com estomia quando se fala em educação em saúde e adaptação. Assim, mediante uma era de tanta desinformação, produzir um material com embasamento teórico e científico capaz de contribuir para a qualidade de vida das pessoas com estomia é bastante recompensador. Trabalhos como esse podem contribuir para a transformação social e gerar autonomia no público alvo.