FATORES ASSOCIADOS AO ISOLAMENTO SOCIAL E DESEMPENHO SEXUAL EM PESSOAS COM ESTOMIAS
Resumo
Introdução A criação de uma estomia é um procedimento cirúrgico realizado em parte do sistema gastrointestinal ou urinário para permitir que o fluxo fecal ou urinário seja desviado das vias excretoras normais1. A cirurgia de ostomia afeta negativamente a atividade física, o desempenho psicológico e as relações sociais da pessoa com estomia, o que pode levar à redução da qualidade de vida1,2. As pessoas com estomias podem apresentar maior insatisfação com a aparência, gerando sofrimento da imagem corporal e os prejuízos na qualidade de vida sexual, resultando em uma piora nos resultados psicossociais2. Os problemas físicos, sexuais e de imagem corporal podem ter um grande impacto no relacionamento das pessoas com estomias com um parceiro íntimo. Além disso, durante o processo de transição do hospital para a vida social, essas pessoas apresentam emoções negativas graves ou isolamento social, afetando a sua qualidade de vida3. Ao mesmo tempo, os pacientes podem ser acompanhados após a alta, e sua adaptação psicossocial pode ser avaliada regularmente, de modo a atingir o objetivo de gerenciamento do isolamento social e desempenho sexual4. A enfermagem individualizada de alta qualidade tem alto valor de aplicação na prevenção dos impactos causados pela presença do estoma, através de atividades educativas durante todo o perioperatório, desde o pré- operatório até a inserção desse paciente a sua rotina diária5. Apesar do consenso crescente acerca dos efeitos colaterais das estomias, é crucial a obtenção de informações relevantes sobre a experiência das pessoas que convivem com um estoma5. Dessa forma, espera-se que o presente estudo forneça dados relevantes para os profissionais de saúde na compreensão dos fatores que influenciam o isolamento social e o desempenho sexual comprometido, incentivando, dessa forma, o desenvolvimento de intervenções capazes de aliviar o sofrimento vivido por essa população. Objetivo Avaliar os fatores associados ao isolamento social e desempenho sexual em pessoas com estomias. Metodologia Trata-se de um estudo transversal analítico, conduzido em um ambulatório tipo II, de referência municipal que presta assistência a pessoas com estomias em todo o estado do Piauí. A coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a março de 2023 e a amostra foi escolhida por conveniência, com 153 participantes com estomia de eliminação que concordaram em participar do estudo. Foram incluídos no estudo todas as pessoas com estomias de eliminação, com idade igual ou superior a 18 anos e em acompanhamento regular no ambulatório de referência. Foram excluídos os pacientes com síndromes, demências e/ou outras condições que limitavam a cognição e impediam o preenchimento dos questionários, além das pessoas com 60 anos ou mais que não atingiram a pontuação mínima (sete) no questionário de avaliação mental, utilizado para investigação de prejuízo cognitivo e demência de idosos. Para a coleta de dados, utilizou-se um formulário semiestruturado do ambulatório e adaptado pelos pesquisadores para contemplar alguns dados demográficos acerca do autocuidado. Os dados do estudo foram inseridos em bancos de dados no Microsoft Excel e, posteriormente, processados no software Statistical Package for the Social Sciences. Realizou-se análise descritiva dos dados relativos às variáveis sociodemográficas e clínicas (frequência absoluta, percentuais, média e desvio-padrão). Na análise inferencial, foi aplicado o teste estatístico Qui-quadrado de Pearson. Os valores de p<0,05 foram considerados significativos. Ressalta-se que todos os preceitos éticos previstos no Brasil para pesquisas com seres humanos foram respeitados. Nessa perspectiva, este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição envolvida, em conformidade com a Resolução no 466, de 2012, e a Resolução no 510, de 2016, do Conselho Nacional de Saúde. Resultados Dos 153 participantes do estudo, a maioria eram do sexo masculino (53,6%), com uma média de idade de 56 anos (DP 17,0), casados (46,4%), com ensino fundamental (43,8%), aposentados (44,4%) e com renda mensal de até dois salários-mínimos (50,3%). Além disso, prevaleceram as pessoas que se identificaram como responsáveis financeiros da família (50,3%). Quanto às características dos estomas, houve predomínio do câncer colorretal (45,1%), da colostomia (68,3%), estomas temporários (51,6%), sendo a maioria com estoma de exteriorização terminal (74,5%). Observou-se, ainda que 86,9% afirmaram não ter sido realizada demarcação no pré- operatório. Com relação às mudanças psicossociais, evidenciou-se que após a confecção do estoma houve o aumento do isolamento social (56,9%) e o comprometimento do desempenho sexual em 62 participantes do estudo (40,5%). Quanto ao aumento isolamento social, os fatores associados que apresentaram associação significativa foram o estado civil (p=0,036), o recebimento de materiais (p=0,020), a doença de base (p=0,029), a execução do autocuidado (p=0,020), a medição do estoma (p=0,004) e a realização do molde (p=0,006). Ainda a respeito dos fatores associados com o aumento do isolamento social, dentre os 81 participantes do estudo que apresentaram esse comprometimento, predominaram as pessoas casadas (43%), sendo mais comum o familiar das pessoas com estomias receberem os materiais com mais frequência (64%), prevalecendo o câncer colorretal (41%), destacando- se os que dependiam de ajuda para o autocuidado (57%), com a medição do estoma (47%) e o recorte do molde (46%) sendo realizada em sua maioria pelo cuidador. Em relação ao comprometimento do desempenho sexual, os fatores associados significativamente foram doença de base (p=0,049), o modo de exteriorização do estoma (p=0,047), tipo de estoma (p=0,025), a forma do estoma (p=0,016), e o sistema do equipamento coletor utilizado (p=0,045). Dentre os 62 participantes do estudo com desempenho sexual prejudicado e as variáveis associados, destacou-se as neoplasias (26%), o modo de exteriorização terminal (66%), o estoma protuso (65%), a forma do estoma regular (61%), e o sistema de uma peça como o mais utilizado (64%). Conclusão Os resultados do estudo evidenciaram que o isolamento social e o comprometimento do desempenho sexual podem ser influenciados por determinados fatores. Ainda sob essa perspectiva, chegou-se à conclusão de que as características sociais, clínicas e relacionadas aos estomas também podem ser consideradas fatores determinantes que podem afetar a vida social e sexual das pessoas com estomias e, consequentemente, prejudicar sua qualidade de vida. Com base nesses dados, é recomendável que os enfermeiros que prestam assistência a essa população promovam um maior aconselhamento sobre as alterações corporais após a cirurgia de ostomia, auxiliando no enfrentamento e suporte emocional, visando prevenir e reabilitar as pessoas com estomias e melhorar o bem-estar emocional, social e sexual dessa população.