PROTOCOLO ASSISTENCIAL DE ENFERMAGEM PARA PREVENÇÃO DE LESÃO POR PRESSÃO
UM ESTUDO METODOLÓGICO
Resumo
Introdução: As Lesões por Pressão (LP) podem ser definidas como um dano localizado na pele e/ou tecidos moles subjacentes resultado da pressão prolongada, geralmente sobre área de proeminência óssea ou relacionada ao uso de dispositivo médico1. Além de representar um sofrimento para o paciente e para a família, está relacionada a um prolongamento no tempo de internação hospitalar, maior quantidade de recursos financeiros do sistema de saúde, mais horas de assistência e aumento da sobrecarga da equipe de enfermagem2. Estima-se que 95% das LP são evitáveis, sendo considerada um dos indicadores de qualidade de assistência dos serviços de saúde2. As medidas de prevenção de LP ganharam visibilidade a nível nacional a partir do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), que a reconhece como evento adverso, sendo os estágios 3, 4 e não classificável considerados never events passíveis de notificação compulsória ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária3. Embora seja responsabilidade de toda a equipe multiprofissional, a enfermagem, por estar envolvida com cuidados diretos ao paciente, tem um papel essencial na prevenção de LP, devendo estar capacitada para identificar fatores de risco, planejar e implementar medidas preventivas e tratamento assertivo2. Dessa forma, a criação de um protocolo de prevenção de LP pode contribuir para direcionar a assistência de forma organizada, além de possibilitar a incorporação de evidências à prática. Os protocolos assistenciais, além de serem instrumentos legais, conduzem os profissionais na tomada de decisão, trazem maior segurança à equipe, favorecem a incorporação de novas tecnologias e uso racional de recursos, contribuindo para a manutenção da qualidade dos serviços4. Objetivo: Descrever a construção de um protocolo para prevenção de lesão por pressão em pacientes internados em um hospital público de atenção quaternária de referência em cardiopneumologia. Método: Trata-se de um estudo metodológico direcionado para a elaboração de um protocolo assistencial de enfermagem para a prevenção de LP. A pesquisa metodológica tem por finalidade utilizar de forma sistemática os conhecimentos já existentes para a construção, adaptação ou validação de instrumentos5. O protocolo foi revisado no mês de fevereiro de 2023 pelo Serviço de Estomaterapia (SE) de um hospital referência em cardiopneumologia, localizado no município de Fortaleza-Ceará, em conjunto com o escritório da qualidade, o núcleo de segurança do paciente e a educação permanente da instituição. O estudo foi subdividido em duas etapas. A primeira foi a definição do conteúdo a partir do Guideline Internacional de Prática Clínica, documento que abrange as melhores evidências científicas para a prevenção e tratamento de LP. Foi desenvolvido pelo Painel Europeu Consultivo de Úlcera por Pressão (European Pressure Ulcer Advisory Panel - EPUAP), Painel Nacional Consultivo de Lesão por Pressão (National Pressure Injury Advisory Panel) e a Aliança Pan-Pacífica de Lesão por Pressão (Pan Pacific Pressure Injury Alliance - PPPIA), além de 14 Organizações Profissionais na área de feridas de 12 países que contribuíram com o projeto como Organizações Associadas1. A segunda etapa foi desenvolvida a partir das informações contidas no Guideline somados à vivência clínica dos estomaterapeutas que compõem o SE, sendo formulada com base nas normas institucionais para construção de protocolos assistenciais. Resultados: A síntese do conteúdo e a experiência profissional nas particularidades da instituição possibilitaram a definição do protocolo de cuidados. Esse foi dividido em cinco tópicos, sendo eles: 1) Finalidade; 2) Justificativa; 3) Abrangência; 4) Fatores de risco para o desenvolvimento de LP, e 5) Medidas preventivas. O tópico 4 abrangeu os fatores intrínsecos, sendo eles idade, mobilidade reduzida, vasoconstrição periférica, nutrição/desidratação e nível de consciência. Já os fatores extrínsecos explorados foram forças físicas e umidade excessiva. O tópico 5 também teve subdivisões, sendo: 5.1) Avaliação da pele na admissão; 5.2) Reavaliação periódica do risco de desenvolvimento de LP, em que apresenta os parâmetros da escala de Braden (percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição, fricção e cisalhamento); 5.3) Inspeção diária da pele, com destaque para a diferenciação das hiperemias branqueáveis e não branqueáveis; 5.4) Manejo da umidade - manutenção do usuário seco e com a pele hidratada, apresentando oito medidas sugeridas; 5.5) Otimização da nutrição e da hidratação; 5.6) Minimizar a pressão, contemplando sete intervenções a serem aplicadas no reposicionamento no leito, instrução sobre as medidas de suporte, sua indicação e práticas não recomendadas para o alívio; e as tecnologias disponíveis na instituição em questão. No que concerne às tecnologias, foi abordado o descritivo, as indicações e as recomendações de uso. Logo em seguida, foram apresentadas as referências bibliográficas que foram utilizadas para construção do protocolo. Além disso, o protocolo conta com três apêndices (escala de Braden, medidas preventivas para LP conforme classificação de risco e fluxograma de prevenção e assistência a pessoa com lesão de pele) e dois anexos (escala de Braden Q e sistema de notificação compulsória a segurança do paciente da instituição). O protocolo foi elaborado utilizando linguagem simples e objetiva, além de imagens e fluxogramas a fim de ilustrar, facilitar o entendimento e otimizar o processo de tomada de decisão dos enfermeiros na prática assistencial. Após a elaboração, o instrumento foi direcionado ao escritório da qualidade, ao núcleo de segurança do paciente e à educação permanente do hospital para avaliação e formatação de acordo com normas da instituição, bem como para inclusão no acervo online para acesso dos profissionais. Além disso, o SE realiza rotineiramente treinamentos sobre lesões de pele para facilitar o entendimento dos profissionais e garantir a continuidade do processo, sendo incluso nesses momentos de educação as orientações acerca da importância da prevenção da LP, da participação da equipe multiprofissional e do impacto de medidas preventivas para a pessoa, família, equipe e instituição. Conclusão: A elaboração do protocolo assistencial de enfermagem para prevenção de LP contribui para um modelo de cuidado assistencial que garante maior segurança aos pacientes e profissionais, por reduzir a variabilidade de ações de cuidado. Além disso, melhora a qualificação dos profissionais para a tomada de decisão, respaldando-os nas suas atividades da prática clínica e aumentando a qualidade da assistência prestada. No que concerne à enfermagem, contribui para o avanço da categoria por fortalecer a união entre a prática e a teoria sob a ótica das evidências científicas.