INCONTINÊNCIA URINÁRIA E COVID-19 EM UMA POPULAÇÃO DO INTERIOR DO ESTADO DO AMAZONAS
Resumo
Introdução: A doença de coronavírus 2019 (COVID-19) tem sido comumente relatada como Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus-2 (SARS-CoV-2), no entanto, ela também pode resultar em sintomas do trato urinário inferior (STUI). Tem sido relatado STUI em homens, mulheres e crianças em fase aguda e pós remissão da COVID-19(1–3). O número de estudos sobre o tema é limitado e há heterogeneidade metodológica, mas o conhecimento atual parece apontar para alterações inflamatórias e miopáticas determinadas pela COVID-19, gerando atrofia e necrose no tecido muscular(4), assim como sintomas secundários à cistite viral determinados pela expressão do receptor da enzima conversora de angiotensina, receptor da proteína spike viral no urotélio da bexiga e do rim(5–6) . Objetivo: Analisar a relação entre a condição de continência urinária e COVID-19 em uma população urbana do Estado do Amazonas. Método: Estudo transversal, populacional, realizado na zona urbana do município de Coari, Amazonas. A pesquisa foi aprovada pelo CEP/UFAM parecer 5.192.737. O consentimento livre e esclarecido foi obtido. A coleta de dados foi realizada na residência de cidadãos por agentes comunitários de saúde voluntários, capacitados. Foi utilizado o International Consultation on Incontinence Questionnaire-Short Form (ICIQ-SF) versão português-BR para identificar a incontinência urinária (IU) e um questionário por resposta sim ou não para as condições: ter recebido diagnóstico de COVID-19 em algum momento e, internação hospitalar necessária para o tratamento da doença. Dados foram analisados por estatística descritiva. A presença de qualquer tipo de IU foi definida conforme critérios do ICIQ-SF e amostra categorizada em com IU e sem IU. A associação das variáveis (diagnóstico de COVID- 19 e internação hospitalar -IH) entre grupos (com e sem IU) foi verificada pelo teste qui-quadrado de Pearson considerado nível de significância 5% (p<0,05) e intervalo de confiança 95%. Resultados: A amostra foi composta por 283 participantes (205/ xx% mulheres), idade média 41,14 (16,58) anos. Qualquer tipo de IU foi encontrada em 72 (25,44%) participantes - IU de esforço 44 (61,11%), de urgência 19 (26,39%), mista 12 (11,11%) e sexual 1 (1,39%). O acometimento por COVID-19 foi confirmado por 98 (34,63%) pessoas, destas 26 (26,53%) no grupo com IU. A internação hospitalar foi confirmada por 14 (4,95%) participantes, sendo 8 (57,14%) no grupo com IU. Não foi encontrada associação significativa entre ter sido acometido por COVID-19 e qualquer tipo de IU [ ?2=0,348, df=1 (p=0,556)]. Houve uma associação significativa entre necessidade de IH para tratar COVID-19 e qualquer tipo de IU [ ?2=7,939, df=1, (p=0,005)], coeficiente de Phi=0,201. Baseado no risco relativo, participantes com IH tiveram 4,44 mais chances de ter IU em relação aos que não necessitaram de IH. Conclusão: A IU foi encontrada associada a necessidade de IH para tratamento de manifestações graves da COVID-19. Os dados encontrados parecem suficientes para alertar para a necessidade de atenção à função urinária e reabilitação dos músculos do assoalho pélvico em pessoas acometidas e hospitalizadas pela COVID-19. Este estudo apresenta limitação quanto ao delineamento transversal, o qual não consegue estabelecer causalidade, mas permite uma extensão de hipóteses para detalhar futuros estudos longitudinais.