CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO BIOFILME EM FERIDAS COMPLEXAS
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo
Introdução: O trauma é responsável por 5,8 milhões de óbitos por ano no mundo. As vítimas hospitalizadas podem desenvolver feridas traumáticas complexas de difícil cicatrização. As lesões de difícil cicatrização acometem 5% da população adulta no mundo ocidental e, comumente, apresentam microorganismos.1 Tal fato se deve ao surgimento de biofilmes no leito da ferida, que não são suficientemente controlados pelo sistema imunológico, havendo o prejuízo no processo cicatricial.2 Os biofilmes são definidos por microrganismos ligados uns aos outros ou a uma superfície, reclusos em uma matriz de substância polimérica extracelular, formando um mecanismo de resistência e sobrevivência.3 Consensualmente o cuidado com feridas e a execução de curativos são práticas rotineiras, sendo uma competência reconhecida do enfermeiro, porém este carece de conhecimentos teóricos baseados em evidências científicas para assegurar a qualidade assistencial, bem como intervenções preventivas.4 Atendendo em um hospital terciário da rede pública que é referência Norte e Nordeste no socorro às vítimas de traumas de alta complexidade, como fraturas múltiplas, lesões vasculares e neurológicas graves, enfermeiros estomaterapeutas, pertencentes a Comissão Interdisciplinar de Tratamento de Feridas do referido hospital, atuantes no cuidado de pessoas com feridas extensas agudas e crônicas e ainda preparando as lesões juntamente com as equipes para procedimentos como enxerto de pele e retalho realizados pela equipe da cirurgia plástica assim como acelerando o processo cicatricial para intervenção da equipe da traumatologia no reparo ósseo, observaram em seus atendimentos, índices elevados de feridas complexas com biofilmes. Outra atribuição realizada pela estomaterapia é a promoção de atividades educativas executando treinamentos dos profissionais que prestam assistência aos pacientes com lesões. Desta forma, buscando atender a necessidade de um cuidado sistematizado na assistência prestada nas unidades de internação, evitando assim, o uso inadequado dos produtos aplicados e ampliando a compreensão para a realização de uma abordagem mais direcionada durante a intervenção, criaram um protocolo específico para a instituição no qual por meio deste foram elencadas intervenções para a prevenção e tratamento de biofilme em feridas. A inquietação dos estomaterapeutas levou a capacitação em serviço que por meio da utilização da tecnologia leve dura sensibilizou a equipe de enfermagem quanto as ações propostas pelo protocolo para a limpeza, higienização, uso de coberturas e o desenvolvimento de um olhar criterioso para o melhor manejo durante o cuidado prestado. Assim, o estudo justifica-se pela necessidade de atualização das equipes no manuseio das feridas com biofilme, pois entende-se que a redução microbiana na superfície otimiza o processo de cicatrização. Portanto, torna-se relevante para o profissional por desenvolver um trabalho de qualidade e aperfeiçoar o cuidado com o paciente, além de transmitir o conhecimento da utilização consciente das tecnologias trazendo benefícios quanto a compreensão dos envolvidos afim de alcançar resultados positivos em todo o processo. Objetivo: Relatar a experiência da capacitação realizada in loco com os profissionais de Enfermagem para o manejo adequado no tratamento do biofilme em feridas. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, que consiste na descrição que um autor ou uma equipe fazem de uma vivência profissional tida como exitosa ou não, mas que contribua com a discussão, a troca e a proposição de ideias para a melhoria do cuidado na saúde,5 acerca da capacitação in loco dos profissionais de enfermagem nas unidades selecionadas, traumatológica e clínica cirúrgica, que são as que apresentam o maior quantitativo de feridas complexas com biofilme, em um hospital de urgência e emergência referência em trauma em Fortaleza-Ceará-Brasil. O treinamento foi realizado no período de junho a setembro de 2022, sendo incluídos os profissionais das unidades escolhidas que atuam no manejo de feridas e trabalham no período diurno. A capacitação foi feita de acordo com o quantitativo e disponibilidade em escala do plantão do dia sendo a discussão com duração em torno de uma hora cada encontro não interferindo no horário de trabalho dos partícipes. Foram excluídos aqueles com licença, férias e os que trabalham somente aos finais de semana. Como preparativo de todo o processo, foi realizado um estudo bibliográfico para atualização das condutas diante das lesões identificadas com o biofilme, assim sendo criado o Protocolo de Gerenciamento do Biofilme em Feridas Complexas, que se encontra disponível em meio eletrônico interno da referida instituição para consultas enquanto dúvidas das ações a serem desenvolvidas pelos habilitados. Utilizou-se como abordagem a tecnologia leve-dura com exposição por meio de slides que serviu como guia do conteúdo a ser apresentado, trazendo a conceituação e as orientações para o manejo das lesões com biofilme. Os presentes previamente responderam questões alusivas ao tema e as respostas nortearam e conduziram no desenvolvimento do palestrante quanto ao avanço do conteúdo programático que foi embasado no protocolo Institucional para prevenção e tratamento de biofilme. Ao longo da explanação teórica, foram demonstradas imagens de lesões para que pudessem identificar no leito a presença da biopelícula, assim como diferenciar alguma anormalidade que possa retardar a cicatrização. Resultado: Em dois meses foram capacitados trinta e quatro profissionais. As aulas aconteceram in loco e a cada explanação foram aplicadas questões alusivas ao assunto o que levou os participantes a dúvidas e a necessidade de entendimento quanto as condutas na abordagem do cuidado em cada ação. As principais dúvidas relacionavam-se ao reconhecimento das características do biofilme, a realização da higienização no leito da ferida, desbridamento, gerenciamento do espaço morto e utilização dos antimicrobianos disponíveis. Ao longo da explanação teórica foram esclarecidas as dúvidas e ao finalizar a aula os profissionais foram reavaliados e constatou-se entendimento e aproveitamento em 90% dos participantes. O treinamento foi de grande importância devido a notória melhoria na qualidade da assistência aos pacientes do referido hospital. Conclusão: Os dados revelaram que a capacitação in loco se torna mais proveitosa assegurando uma maior atenção dos envolvidos, que satisfeitos por ampliarem seus conhecimentos sobre um tema tão atual no cuidado com as feridas, ajudou a desenvolvê-los para um raciocínio clínico e uma autonomia na assistência com empoderamento para discussão junto da equipe multidisciplinar por identificar precocemente as infecções nas lesões e evitar complicações que possam levar a cronificação da lesão, o que trouxe benefícios ao paciente em seu tratamento durante a sua hospitalização.