ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DO INSTRUMENTO DIABETIC FOOT ULCER ASSESSMENT SCALE (DFUAS) EM ADULTOS BRASILEIROS
Resumo
Introdução: Úlceras em pé diabético são as principais complicações da Diabetes Mellitus afetando aproximadamente 18,6 milhões de pessoas no mundo. Avaliar as úlceras em pé diabético considerando o grau de perda tecidual, isquemia e presença de sinais de infecção(1), que podem ajudar a identificar precocemente prioridades, planejar o tratamento, prescrever a terapia tópica ideal e acompanhar a evolução da lesão, evitando complicações futuras. Nessa perspectiva, observa-se a importância de acompanhamento especializado, sistemático e contínuo realizado pelo enfermeiro a pessoas com úlcera em pé diabético por meio de tecnologias e instrumentos validados. Esses instrumentos dão suporte para melhor acompanhamento dos resultados da evolução e tratamento da ferida, além de auxiliar a identificação da necessidade de mudanças no plano de cuidados para alcançar a cicatrização da ferida. Em uma revisão de escopo(2), foram identificados dez instrumentos para avaliação de úlcera em pé diabético, destas, apenas três eram específicas para úlcera em pé diabético, sendo a Diabetic Foot Ulcer Assessment Scale (DFUAS) a primeira escala desenvolvida especificadamente para avaliar úlceras em pé diabético com finalidade de monitorar a evolução da sua cicatrização dentre um intervalo de quatro semanas e a sua relação com os fatores externos(3), o que motivou a escolha deste. Objetivo: Objetivou- se adaptar e validar para a cultura brasileira a Diabetic Foot Ulcer Assessment Scale. Método: Trata-se de uma pesquisa metodológica dividida em três fases, multicêntrica, realizada via online e presencial em Centros Especializados de Atenção ao Diabético e Hipertenso (CEADH) em Fortaleza, Ceará, de janeiro a maio de 2022. Todo o processo de tradução e adaptação cultural do instrumento foi fundamento em Beaton e colaboradores(4). Durante a Fase 1 foi realizada tradução da escala da língua original (inglês) para a língua-alvo (português brasileiro) por dois tradutores. Na fase 2, procedeu-se a avaliação da tradução por um comitê de 16 juízes na área da enfermagem; e na fase 3, foi efetuada a avaliação por nove enfermeiros no pré-teste, aplicando o instrumento em 45 pessoas com úlcera em pé diabético. Os dados foram analisados por meio do índice de validade de conteúdo e confiabilidade. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará sob parecer: 4.915.515 e Certificado de Apresentação de Apreciação Ética: 47863821.2.0000.5534, além de autorização dos autores da versão DFUAS e anuência dos serviços de saúde que serviram como cenário. Resultados: As etapas de tradução e adaptação cultural permitiram a realização de ajustes linguísticos para melhor compreensão e aplicabilidade prática dos itens do instrumento para uso no Brasil, nomeando o instrumento de avaliação de úlcera em pé diabético “Diabetic foot ulcer assessment scale” (DFUAS) para o Brasil, abreviado por DFUAS-BR. O DFUAS foi avaliado por um comitê de juízes, especialistas na temática, recebendo aprovação total de 92%, demonstrando-se útil para avaliar e acompanhar as úlceras em pé diabético. Para certificação de que o instrumento era compreensível para o público-alvo, o conteúdo foi avaliado por enfermeiros experientes no cuidado a pessoas com úlceras em pé diabético, recebendo a aprovação total de 82%. Ressalta que o índice de validade de conteúdo da versão brasileira foi de 0,98 e para a análise de consistência interna pelo Alfa de Cronbach com 0,87. O instrumento original (DFUAS) é composto por 11 domínios (profundidade, tamanho, pontuação de tamanho, inflamação/infecção, proporção de tecido de granulação, tipo de tecido necrótico, proporção de tecido necrótico, proporção de descamação, maceração, tipo de borda da ferida, tunelamento) e sua pontuação varia de 0 a 98 pontos, no qual pontuações mais altas correspondem a lesões mais graves. O DFUAS-BR apresenta 10 itens (profundidade, tamanho, pontuação de tamanho, inflamação/infecção, proporção do tecido de granulação, tecido necrótico, proporção do tecido necrótico, maceração, tipo de borda da ferida e tunelamento) e sua pontuação total varia de 0 a 93 pontos. Além disso, elaborou-se instrução de uso com descrições dos itens que compõem o instrumento para deixar no instrumento apenas os 10 itens e as alternativas correspondentes a cada item; acrescentou na pontuação do tamanho um item explicando como pontuar a lesão em caso de amputação; e sobre a classificação da complexidade da lesão com base na pontuação do tamanho adotou-se uma escala de percentil que varia de 0 a 100%, sendo classificada como simples a lesão com pontuação total < 50%, de 50 a 75% como mediana e > 75% como complexa. As principais sugestões dos enfermeiros sobre a versão final da DFUAS para o Brasil referiram-se ao layout, a fim de deixar o instrumento mais sucinto para maior praticidade na prática clínica; classificar a complexidade da lesão com base na pontuação total do instrumento; e definir como pontuar o tamanho da lesão em situações de lesão no local de amputação no pé. A avaliação das úlceras em pé diabético por meio da Diabetic Foot Ulcer Assessment Scale-BR (DFUAS-BR), além de caracterizar as úlceras em pé diabético mostrou que o instrumento contempla as principais variáveis que os profissionais de saúde devem avaliar. Na caracterização das úlceras em pé diabético destaca-se que as variáveis pontuação de tamanho, inflamação/infecção, tecido necrótico, proporção do tecido necrótico, tipo de borda da ferida e complexidade tiveram associação significante com a pontuação total da escala, influenciando sua complexidade. O emprego de instrumentos específicos para manejo clínico de úlceras em pé diabético permite a classificação e identificação de sua complexidade e um algoritmo de tratamento para cada grau de úlcera em pé diabético. Isso pode contribuir com tratamentos mais efetivos, diminuição de custos e de amputações, muitas vezes, evitáveis. Conclusão: Considera-se que a escala está adaptada para a cultura brasileira, podendo ser utilizada na prática clínica para avaliação de úlceras em pé diabético em adultos com Diabetes Mellitus em diversos cenários de saúde. Ademais, acredita-se que o DFUAS-BR poderá impactar positivamente na diminuição de hospitalizações devido às complicações, especialmente, às infecções das feridas e evolução para amputação do membro. Assim, consequentemente, há melhora da qualidade de vida da pessoa com diabetes, uma vez que terão cicatrização mais rápida e menor chance de infecção e amputação em detrimento do acompanhamento sistemático. Ressalta-se que o seguimento de etapas de acordo com o referencial metodológico escolhido foi importante para garantir a qualidade no resultado final.