PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DO ENFERMEIRO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE PARA ATENDIMENTO DA PESSOA COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA
Resumo
Introdução: A Incontinência Urinária (IU) atinge 35% da população e impacta gravemente a qualidade de vida. A primeira linha de tratamento é comportamental com 70% de efetividade, porém, não é oferecido no Sistema de Saúde brasileiro, limitando-se a procedimentos cirúrgicos e medicamentosos. O enfermeiro tem respaldo legal para implementar tal tratamento na Atenção Primária à Saúde (APS), porém precisa de capacitação, uma vez que o tema não é contemplado na formação curricular. Objetivo: Construir um programa de capacitação para enfermeiros da APS para atendimento da pessoa com IU. Método: Pesquisa aplicada, com abordagem mista. Para composição da amostra, foi desenvolvida uma oficina on-line síncrona, divulgada nacionalmente para enfermeiros atuantes na APS. Os enfermeiros inscritos foram organizados em cinco grupos de mensagens instantâneas de acordo com a região do país onde atuavam. No primeiro dia de aula, todos foram informados sobre a pesquisa e convidados a participar por meio do preenchimento de um formulário digital. Para a etapa qualitativa, realizou-se Grupo Focal. A amostra foi extraída dos participantes da fase anterior. Vinte enfermeiros (quatro de cada grupo regional) foram randomizados para compor o grupo. A questão norteadora da discussão foi: “Quais são os componentes necessários em um curso de capacitação para tornar o enfermeiro da APS seguro no atendimento da pessoa com IU? ” As sessões foram transcritas e analisadas pelo método de Análise Temática. Resultados: 145 enfermeiros participaram da etapa quantitativa. A média de idade foi de 37,5 anos (DP 7,4). 89,7% eram mulheres. Participaram enfermeiros de 20 estados. O tempo médio de formação foi de 11,8 anos (DP 7,1), 89% possuíam pós-graduação. Predominantemente em saúde coletiva (55,8%). 93,1% já havia atendido pessoas com IU, 54,4% ofereceu alguma orientação, mesmo sem conhecimento consistente, com predominância de Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico - TMAP (75,8%). Questionados sobre o que os impediria de atuar se tivessem acesso ao conhecimento, 36,1% respondeu que nada os impediria, 20,2% que poderiam se sentir inseguros e 20,2% indicou falta de tempo. Os temas recorrentes na análise temática como componentes necessários para o programa foram: aulas gravadas, demonstrações práticas, atendimento real a pacientes, conteúdo escrito e suporte posterior para condução dos casos. Assim, o programa contempla: 30 dias de acesso a aulas gravadas divididas em quatro módulos referentes a fundamentação; instrumentos de avaliação e modificações comportamentais; avaliação funcional e programas de TMAP; avaliação de resíduo e Cateterismo Intermitente Limpo; uma semana de atividades presenciais que incluem revisão do conteúdo teórico, prática em manequins, simulação clínica, três dias de atendimento à população, discussão dos casos e programação de seguimento e entrega do protocolo clínico. Além de quatro meses de suporte remoto e encontros síncronos remotos e doze meses de coleta dos dados referentes aos desfechos clínicos. Conclusão: O estudo permitiu a construção de um programa que vai ao encontro das necessidades verbalizadas pelos agentes de mudança, tornando-se um meio para implementar o atendimento da pessoa com IU na APS.