HOMENS COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA NO TRABALHO: REFLEXÃO PELA TEORIA DAS MASCULINIDADES DE RAEWYN CONNELL
Resumo
Introdução: O objeto deste estudo trata-se da análise das implicações da incontinência urinária (IU) masculina no mercado de trabalho, sob a ótica da teoria das masculinidades de Raewyn Connell. A IU masculina, caracterizada pela perda involuntária de urina, manifesta-se clinicamente como IU de esforço, frequentemente observada após prostatectomia, IU de urgência ou IU mista(1). Este fenômeno em questão direciona o foco para uma dimensão frequentemente negligenciada: a intersecção entre a experiência da IU masculina e os processos de inserção e permanência no mercado de trabalho. Ressalta-se que a IU constitui um fator de risco independente para ansiedade, depressão e limitações laborais, como a redução da produtividade no trabalho. Contudo, muitos homens não buscam tratamento para a IU ou outros sintomas do trato urinário inferior(2), e há uma lacuna na literatura sobre as experiências laborais desses indivíduos. Diante da complexidade do tema, impõe-se uma análise que transcenda o modelo biomédico, incorporando dimensões socioculturais. Objetivo: Correlacionar os conceitos centrais de Connell (masculinidade hegemônica, hierarquia das masculinidades, ordem de gênero) com as barreiras, facilitadores e estratégias de manejo de homens com IU no trabalho, investigando como as expectativas sociais de gênero influenciam a percepção da condição, o acesso ao cuidado e as interações profissionais. Método: Trata-se de um ensaio de reflexão teórica que explora as intersecções entre a condição da IU masculina, as experiências no mercado de trabalho e as construções sociais de gênero, utilizando como lente analítica Raewyn Connell. Resultados: Um ponto central de tensão emerge do confronto entre a masculinidade hegemônica e a experiência da IU. O ideal culturalmente dominante de masculinidade, frequentemente associado ao controle do corpo, das emoções e das situações, à força física, à autonomia e à invulnerabilidade(3), entra em conflito direto com a natureza involuntária e imprevisível da perda urinária. Assim, vivenciar a IU pode, nesse contexto, ser interpretado não apenas como um problema de saúde, mas também como uma falha na performance da masculinidade esperada. Essa dissonância pode alimentar sentimentos de vergonha, inadequação e ansiedade(2). A própria necessidade de gerenciar a IU (idas frequentes ao banheiro, uso de absorventes, preocupação com odores ou vazamentos) pode ser interpretada, pelo indivíduo ou por terceiros, como um obstáculo ao desempenho ou como uma forma de "desengajamento", desalinhando-se da figura idealizada do trabalhador produtivo e do modelo masculino hegemônico(3). Diante disso, homens com IU podem desenvolver estratégias de negociação identitária e de manejo da condição no trabalho, refletindo diferentes posicionamentos em relação às expectativas de gênero e às capacidades valorizadas no mundo profissional. Connell(3) salienta que uma condição crônica pode desestabilizar as normas hegemônicas, gerando questionamentos sobre a própria masculinidade, especialmente diante da fragilidade física e da dependência geradas por sua condição. Conclusão: A reflexão teórica permitiu analisar as implicações socioculturais da IU masculina na esfera profissional, evidenciando que os desafios transcendem a dimensão fisiológica. A pressão para performar uma masculinidade hegemônica, a hierarquia de gênero no trabalho e a ordem de gênero contribuem para o estigma, silêncio e dificuldades enfrentadas por essa população.Downloads
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Publicado
2025-10-01
Como Citar
Santos, J. C. D., Costa, C. C. P. D., & Souza, N. V. D. D. O. (2025). HOMENS COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA NO TRABALHO: REFLEXÃO PELA TEORIA DAS MASCULINIDADES DE RAEWYN CONNELL. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/2281
Edição
Seção
Artigos
