SERIA POSSÍVEL MODIFICAR O MICROAMBIENTE DA ÚLCERA VENOSA? EVIDÊNCIAS IN VITRO COM ORC/COLÁGENO/PRATA
Resumen
Introdução: Úlceras de perna por hipertensão venosa acometem cerca de 1% da população mundial, representando aproximadamente 80% de todas as feridas crônicas. Essas lesões constituem um desafio terapêutico, caracterizado por longos períodos de cicatrização, alta taxa de recidiva e impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes e nos custos dos sistemas de saúde. A fisiopatologia envolve uma resposta inflamatória crônica, promovendo desequilíbrios bioquímicos locais, especialmente na matriz extracelular. Dentre os principais elementos envolvidos nesse desequilíbrio estão atividade exacerbada das metaloproteinases da matriz (MMPs), associada à redução dos níveis de seus inibidores endógenos, os inibidores teciduais de metaloproteinases (TIMPs). Essa desregulação compromete a síntese e a remodelação do colágeno, induz senescência em fibroblastos dérmicos e interfere na sinalização de fatores de crescimento como o TGF-? (transforming growth factor-beta), fundamentais para o reparo tecidual ordenado. Diante desse cenário, estratégias terapêuticas que busquem modular o microambiente da ferida vêm sendo amplamente investigadas. Curativos bioativos compostos por celulose oxidada regenerada (ORC) e colágeno, com ou sem a adição de prata, têm se destacado como promissores moduladores desse ambiente. Acredita-se que esses materiais sejam capazes de interagir diretamente com proteases e outras moléculas sinalizadoras presentes no exsudato, reduzindo a carga inflamatória local. Objetivo: Avaliar, in vitro, os efeitos de curativos compostos por ORC/Colágeno e ORC/Colágeno/Prata na expressão de MMPs, TIMPs, isoformas de TGF-? e colágeno I e III em fibroblastos derivados de úlceras venosas (VUFs). Método: Trata-se de um estudo in vitro, prospectivo, controlado e não randomizado com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 21868413.5.0000.0068). Amostras de tecido de granulação foram obtidas por punch de 12 mulheres com úlceras venosas dos membros inferiores (classificação CEAP C6), sem comorbidades. Os fibroblastos foram cultivados e caracterizados por imunofluorescência utilizando anticorpos para colágeno I e III. Foram testadas diferentes concentrações de ORC/Colágeno (1,4; 2,8; 4,2 e 8,4 mg/mL) e ORC/Colágeno/Ag. Após 72h de exposição, avaliou-se a expressão de MMP-1, MMP-2, MMP-3, MMP- 10, MMP-13, TIMP-1, TIMP-2, TIMP-3, TGF-?1, ?2 e ?3, além dos colágenos I e III, por ensaios multiplex bead-based e imunofluorescência. A análise estatística foi realizada pelo teste de Wilcoxon, com significância estabelecida em p<0,05. A análise estatística foi realizada pelo teste de Wilcoxon, com significância p<0,05. Resultados: A concentração de 2,8 mg/mL de ORC/Colágeno e 4,2 mg/mL de ORC/Colágeno/Ag promoveram aumento na proliferação celular sem evidência de citotoxicidade. O tratamento com ORC/Colágeno não alterou significativamente os níveis de MMPs, TIMPs ou colágeno, sugerindo ação localizada. Em contrapartida, o uso de ORC/Colágeno/Ag resultou em aumento da expressão de MMP-1 (1,9x) e redução de MMP-13 (1,6x), TIMP-2 (1,65x) e TIMP-3 (6x). A expressão de TGF-?1, ?2 e ?3 não apresentou variações significativas em nenhum dos tratamentos. Já os níveis de colágeno I e III não se alteraram significativamente, embora tenha sido observada uma leve tendência ao aumento do colágeno III com ORC/Colágeno/Ag. Conclusão: Os resultados deste estudo in vitro demonstram que o curativo composto por ORC/Colágeno associado à prata possui potencial modulador significativo sobre o microambiente de úlceras venosas. A combinação com prata se mostrou capaz de interferir na expressão de enzimas proteolíticas e seus inibidores, promovendo um ambiente mais equilibrado e propício à reparação tecidual indicando um possível efeito anti-inflamatório e antiprotease da formulação. Esses achados reforçam a relevância de estratégias terapêuticas que vão além da simples cobertura da lesão, propondo uma atuação ativa sobre os fatores que perpetuam a cronicidade da ferida. A modulação da atividade proteolítica, a preservação dos fatores de crescimento e o estímulo à síntese de colágeno são mecanismos centrais no processo de reparação tecidual e foram positivamente influenciados pela presença de prata na formulação testada. Além disso, a manutenção da expressão dos fatores TGF-? e dos colágenos I e III, sem evidência de citotoxicidade, indica segurança e compatibilidade celular dos curativos avaliados. Dessa forma, a utilização de matrizes bioativas como ORC/Colágeno/Ag pode representar uma alternativa valiosa no arsenal terapêutico de feridas de difícil cicatrização. O entendimento das interações moleculares que ocorrem entre os componentes do curativo e as células do leito da ferida contribui para uma abordagem mais direcionada, baseada em evidências e com maior potencial de sucesso clínico. A escolha de curativos que atuem de maneira específica sobre o microambiente das úlceras venosas pode acelerar a cicatrização, reduzir complicações, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e otimizar os recursos do sistema de saúde. É importante destacar que, embora os resultados obtidos neste estudo in vitro sejam promissores, eles representam apenas uma etapa inicial na validação da eficácia desses curativos. Ensaios clínicos randomizados, controlados e com acompanhamento longitudinal são necessários para confirmar os efeitos observados em ambiente laboratorial e estabelecer protocolos terapêuticos padronizados.Descargas
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Publicado
2025-10-01
Cómo citar
Nicolosi, J. T., Altran, S. C., Scorzoni, L., Paggiaro, A. O., Carvalho, V. F. D., Levy, D., Gemperli, R., & Isaac, C. (2025). SERIA POSSÍVEL MODIFICAR O MICROAMBIENTE DA ÚLCERA VENOSA? EVIDÊNCIAS IN VITRO COM ORC/COLÁGENO/PRATA. Congreso Brasileño De Terapia Estomal. Recuperado a partir de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/2339
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Sección
Artigos
