INTERFACE DE RAYON COM ÓXIDO DE ZINCO MICRONIZADO, ASSOCIADO AO AGE NO TRATAMENTO DE PÊNFIGO VULGAR:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo
INTRODUÇÃO O termo pênfigo descreve um grupo de doenças bolhosas autoimunes envolvendo a pele e mucosas¹. É uma patologia rara, não contagiosa, de natureza autoimune, com tendência à cronicidade. Essa dermatose é resultado da produção de autoanticorpos contra as desmogleínas, o que causa acantólise e consequentemente bolhas, iniciando com erosões na mucosa oral, podendo haver lesões em outros locais1. A fisiopatologia básica do pênfigo é a produção de autoanticorpos contra as desmogleínas, proteínas presentes nos desmossomos com função de adesão das células do epitélio estratificado escamoso da epiderme, fator fundamental para a integridade dos tecidos. Esses anticorpos, geralmente da classe IgG, inibem a adesividade das desmogleínas e levam à formação das bolhas, processo conhecido como acantólise2. Os antígenos envolvidos nesta patología (DSG 1 e DSG 3) estão presentes nas camadas superficiais da epiderme e nas camadas basais respectivamente, sendo assim, as bolhas formadas no Pênfigo Vulgar estão localizadas no nível suprabasal3. Aponta-se que a causa para o desenvolvimento da patologia deriva de fatores imunológicos e genéticos e não hereditários, todavia fatores ambientais e estilo de vida do paciente podem influenciar e/ou induzir a patologia. Essa dermatose autoimune crônica, não possui predileção por nenhum sexo. A baixa incidência e prevalência do Pênfigo Vulgar, porém com mortalidade de até 75% na falta de tratamento adequado2. Desse modo, objetiva-se analisar o desempenho da interface de rayon composta por óxido de zinco micronizado e AGE, utilizando como método de tratamento em um caso de Pênfigo Vulgar, acompanhado pela comissão de curativos de um Hospital Universitário na região nordeste do Brasil. OBJETIVO Analisar o desempenho da interface de rayon composta por óxido de zinco micronizado e AGE, utilizando como método de tratamento em um caso de Pênfigo Vulgar. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência acerca do desempenho da interface de rayon composta por óxido de zinco micronizado e AGE para tratamento de lesões de uma paciente acometida por Pênfigo Vulgar (PV) realizado e acompanhado pela comissão de curativos de um Hospital Universitário, localizado na cidade de Natal-RN, no período de junho a julho de 2022. Foi submetido previamente ao comitê de ética e pesquisa cujo o número de identificação é 61761922.1.0000.5537 e aprovado sob o parecer número 5.693.518. RESULTADOS Tratou-se de uma paciente do sexo femino, de sessenta e dois anos, proveniente de uma unidade hospitalar especialista no tratamento de doenças infectocontagiosa, possuindo diagnóstico de doença penfigóide e como comorbidade Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), sendo admitida no Hospital Universitario no dia 09/06/2022. Apresentando como sintomatologia inicial um quadro de estomatite há cerca de oito meses e lesões bolhosas tensas e flácidas há cerca de três meses antes da internação. Na admissão apresentava-se consciente, orientada, O2 ambiente, sinais vitais dentro da normalidade, com acesso venoso periférico em membro superior esquerdo. Dieta via oral com aceitação prejudicada em decorrência de estomatite, evacuação e diurese espontâneos no banheiro, deambulando com auxílio. No dia posterior, a paciente foi avaliada pela comissão de curativos da unidade, onde, constatou- se a presença de múltiplos flictenas rotas e dolorosos evidenciando exposição de derme em região cervical anterior e posterior, região axilar, em membro superior (MMSS) distal dorsal, lombar, nádegas e face posterior e interna de coxas. Em dorso e lombar apresentam formato circular que obedecem ao padrão regular. Na ocasião, identificou-se ainda a presença de cobertura de alginato de cálcio (aplicado na unidade de origem), firmemente aderido ao leito da maioria das lesões, principalmente em nádegas e coxas. Durante a avaliação foi possível observar a presença abundante de retalho dérmico desvitalizado parcialmente aderidos às lesões. A pele perilesional encontrava-se ressecada e frágil. A porção distal de membros inferiores escurecida, sugerindo necrose de epiderme. Lesões sangrantes ao manuseio, principalmente em nádegas com exsudato moderado e com odor característico, reduzido após a limpeza. Após avaliação prévia, foi realizado banho de aspersão com uso de sabonete de polyhexametileno biguanida (PHMB) em pele íntegra, limpeza perilesional e das áreas lesionadas com espuma a base do mesmo princípio, e realizada a remoção parcial de retalhos dérmicos desvitalizados com auxílio de pinça anatômica. Para remoção do alginato de cálcio aderido ao leito das lesões, utilizou- se soro fisiológico (SF) 0,9% morno e desbridamento com instrumental cirúrgico, não sendo possível a conclusão devido a queixa álgica intensa relatado pela paciente, mesmo com uso de analgésico endovenoso. Após limpeza foi aplicada hidrogel nos leitos das lesões, seguido de gaze de rayon umedecida com SF 0,9%, compressa de algodão estéril, filme de PVC e malha tubular elástica para fixação em membros superiores e inferiores. Em lesões cervicais aposta cobertura de poliéster impregnado com PHMB (TELFA). Em 13 de junho de 2022 a paciente foi levada ao centro cirúrgico para realização do curativo sob anestesia. O procedimento durou aproximadamente 3 horas, sendo realizada a remoção de muitos debris, restos de alginato provenientes de curativos anteriores. Em seguida, foi utilizado polietileno revestido com gel de silicone no pescoço e posterior de coxa esquerda. Nas demais regiões, aplicada uma camada de hidrogel no leito das lesões, seguido de gaze rayon umedecida com SF 0,9%, compressa de algodão estéril, atadura, malha tubular elástica, mefix, esparadrapo e fita microporosa, variando as áreas pois o serviço não dispõe de material adequado para fixação. Nos dias 14 e 15 de junho de 2022 foi mantida a conduta anterior. No dia 16 de junho de 2022 iniciou-se o uso da interface em tecido de rayon impregnada com pasta contendo óxido de zinco micronizado e Ácidos Graxos Essenciais (AGE), utilizando 2 unidades devido à extensão das lesões. A paciente apresentava novas flictenas rotas, dolorosas, evidenciando exposição de derme em região cervical anterior e posterior, axilar, membros superiores, distal, dorsal, lombar, nádegas, face posterior e interna de coxas e pé esquerdo. Em dorso e lombar apresentava formato circular obedecendo ao padrão regular. Devido a quantidade de exsudato e o odor característico da patologia foi necessário troca diária de curativos secundários e ocasionalmente troca total da cobertura anterior. Em 22 de junho de 2022 não foi observado o surgimento de novas bolhas, realizado a troca total das coberturas e definindo nova troca a cada três dias, sendo uma vez por semana pela comissão de curativo. Quando necessário era realizada a limpeza das partes íntimas e reaplicado as coberturas. As demais avaliações foram realizadas nos dias 29/06, 06/07, 11/07, 21/07 e no dia 28/07/2022 foi prescrita a alta hospitalar. CONCLUSÃO Dado o exposto, o Pênfigo Vulgar é uma doença autoimune rara com baixa incidência e prevalência, quando não tratada devidamente, apresenta uma taxa de mortalidade considerável4. A paciente acompanhada no presente estudo obteve alta quarenta e dois dias após início do uso da interface de rayon impregnada com pasta de óxido de zinco micronizado e cinquenta dias após internação hospitalar, retornando periodicamente para consulta com a dermatologista. O uso da interface em gaze rayon com óxido de zinco micronizado e AGE, bem como o trabalho efetuado pela comissão de curativo e equipe do Hospital Universitário, foi fundamental para rápida evolução e consequentemente alta da paciente. O óxido de zinco micronizado é uma substância adstringente com ação secativa, seu uso na interface de rayon mantém o ambiente úmido para promover cicatrização, revitalização e reduz a irritação da pele. O sabonete de PHMB é um antisséptico que combina um largo espectro antimicrobiano com baixa toxicidade, limpa, descontamina, hidrata e remove biofilme e como foi constatado após a limpeza das lesões, age reduzindo odor. É função da equipe de enfermagem observar o paciente como um ser holístico no tratamento de lesões e raciocinar clinicamente acerca dos problemas expostos, visando, sempre, a melhora clínica do usuário.