SIMULAÇÃO REALÍSTICA PARA PREVENÇÃO DE LESÃO POR PRESSÃO
Resumo
INTRODUÇÃO De acordo com a National Pressure Ulcer Advisory Panel- NPUAP (2019), as lesões por pressão (LP) são danos localizados na pele e/ou tecidos subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea e/ou relacionada ao uso de dispositivos médicos. Geralmente ocorrem em pessoas que sofrem redução de sua percepção sensorial associada ou não a um rebaixamento do nível de consciência, associado a fatores intrínsecos (estado nutricional, idade, perfusão tecidual, uso de medicamentos) e extrínsecos (fricção, umidade e cisalhamento). 1 No período de 2014 a 2017, segundo a Anvisa (2017) foram notificados no SNVS (Sistema Nacional de Vigilância Sanitária) , 134.501 incidentes correspondentes a LP's, além de ser o terceiro tipo de evento mais frequentemente notificado pelos serviços de saúde do país. 2 Logo, percebe-se o quão necessário são o domínio e a prática da equipe de enfermagem na prevenção destas lesões já que tem papel protagonista nessa situação. É fundamental que os profissionais envolvidos tenham conhecimento sobre a temática para um bom resultado na abordagem dessas lesões. Nesse contexto, a simulação clínica pode ser empregada como estratégia metodológica educacional em diversos cenários, incluindo a prevenção de lesão por pressão por possibilitar um espelho da prática clínica. Dessa forma, contribui para o aprendizado baseado em problemas e feedbacks sobre as intervenções realizadas. Com esse recurso, o participante é o centro do aprendizado, e o mediador guia seus passos para a construção do cuidado 3. Portanto, torna-se indispensável a criação e utilização de estratégias de ensino e iniciativas que proporcionem a integração na prática de uma assistência qualificada. Pode-se fazer uso de diversos meios, como: treinamentos e capacitações, com a utilização de simulação clínica para prevenção de lesões por pressão. Isso favorecerá a autonomia e segurança dos profissionais a fim de realizar a avaliação e classificação da pele e dos tecidos, diagnóstico de enfermagem e tomada de decisão com vistas a um cuidado seguro e livre de danos. OBJETIVO Identificar cenários de simulação realística para a prevenção de lesão por pressão segundo a literatura. MÉTODO Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que foi efetuada as seguintes etapas: definição da questão norteadora e objetivos da pesquisa; estabelecimento da seleção da amostra; busca na literatura; análise e categorização dos estudos, apresentação e discussão dos resultados Utilizou-se a estratégia PICO, com População (profissionais/ estudantes da saúde), I (simulação clínica), C (não se aplica) e O (prevenção de lesão por pressão); para a construção da questão de pesquisa: Quais os cenários sobre simulação clínica para prevenção de lesão por pressão existem na literatura? Foi realizada busca nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Cinhal, utilizando os descritores “simulação realística, enfermagem, estomaterapia e lesão por pressão”, combinadas com os operadores boleanos AND e OR. Incluíram-se artigos nos idiomas inglês, português e espanhol disponíveis na íntegra entre os anos de 2013 e 2023, e foram retirados do estudo aqueles que não atendiam a questão de pesquisa, além de teses, dissertações e editoriais. Realizou-se a revisão pareada por dois revisores independentes. A busca nas bases de dados ocorreu entre maio de junho de 2023 e resultou em 244 artigos. A seleção inicial considerando os critérios de inclusão e exclusão definiu-se 11 artigos para análise, especialmente, pelo o objetivo do presente estudo. Para coleta de dados foi elaborado um quadro sintético composto pelos seguintes itens: autor/ano, título, país, população e tipo de estudo. A análise dos dados foi executada de forma descritiva, por meio da categorização e síntese das temáticas. Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, os dados obtidos por meio dessa seguiram as normas da NBR 10520, a NBR 6023 e a Lei dos direitos autorais 12.853/13. RESULTADOS Após a definição dos critérios de elegibilidade, foram identificados 244 títulos, removidos 173 duplicados, restando 71 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, selecionaram-se 11 para a leitura do texto completo. Ao final, restaram sete artigos que contemplavam a questão de pesquisa. Ao fim da leitura do texto completo ainda foi excluído um manuscrito, pois não abordou cenários simulados e sim instrumentos para avaliações dos cenários, totalizando, assim, seis artigos para a revisão. Dos estudos incluídos na revisão foram publicados no período de 2013 a 2022, no Brasil (A1, A2, A4, A5, A6) e na China (A3). Destes, utilizaram como metodologias estudos quase-experimentais (A1, A2), ensaios controlados com avaliações simples-cegas (A3), relato de experiência (A4), estudos descritivos (A5) e metodológicos (A6). Em relação à população, predominaram os estudantes de enfermagem (A2, A3, A4, A5) e equipe de enfermagem (A1, A2), com exceção do estudo A6 que foi realizado com enfermeiros especializados e professores da universidade. Os cenários simulados identificados foram: prevenção de LP (A1), avaliação do risco de LP (A3, A5, A6) e tratamento de LP (A2, A4, A6). Como tecnologias envolvidas foram utilizados nos cenários manequins/ simuladores de média (A1) e alta (A5, A6) fidelidade, casos clínicos, feridas artificiais/moulages representando LP 's nos estágios 1, 3 e não classificável (A3.A6) e atores treinados (A2, A4) para simular os casos. Ainda foi encontrado um estudo que retratou o tempo de 15 minutos para a execução do cenário (A4). Em A1, uma simulação de média fidelidade realizada com a equipe de enfermagem, um manequim representou uma idosa de 80 anos com pneumonia e risco elevado para lesão por pressão. Houve a realização de teste antes e depois da capacitação. Ao fim da pesquisa percebeu-se que a simulação não foi suficiente para mudança de hábitos em relação à prevenção de LP. O uso de casos clínicos, manequins, feridas artificiais e atores previamente treinados para simular os casos clínicos tanto para a equipe de enfermagem como para estudantes foram efetivos na melhora do conhecimento e na mudança de comportamento (A2). No estudo comparativo A3, entre a didática tradicional e a simulação clínica com ambiente hospitalar de alta fidelidade e manequim feminino, concluiu-se que a simulação foi eficaz no aprendizado sobre prevenção de lesão por pressão. Já em A4 e A5, que utilizaram cenários de alta fidelidade para alunos de enfermagem, o primeiro, pontuou como item positivo o trabalho em equipe, já os itens a serem melhorados são os conhecimentos acerca das coberturas, classificação e os tipos de tecidos presentes nas LP. Tais pontos para aperfeiçoar corroboram com o segundo autor visto que também encontrou lacunas no conhecimento dos estudantes, apesar de ambos considerarem a experiência positiva para o aprendizado. DISCUSSÃO Pelos dados de caracterização dos artigos, nota-se que a simulação realística vem sendo utilizada como método de ensino tanto para estudantes quanto para profissionais de enfermagem, pois permite desenvolver e aplicar os conhecimentos e habilidades, bem como o raciocínio clínico. 3 Um estudo realizado em Ohio com 19 profissionais de enfermagem observou lacunas nos conhecimentos dos profissionais em relação à prevenção e tratamento de LP. Após realizarem um workshop de 7 oficinas com atividades interativas abordando anatomia da pele, terminologia, fatores de risco para a integridade da pele no final da vida, avaliação de risco, prevenção de LP, e entre outros, observou-se mudança no conhecimento e melhora no planejamento e assistência de enfermagem. 4 Percebe-se que a simulação apenas com o manequim não é suficiente para a mudança de hábitos dos profissionais para a prevenção e tratamento de LP. Todavia, a simulação clínica com maior número de recursos e de fidelidade/realismo contribuem para o aprendizado e mudança de comportamento. A fidelidade do cenário não está relacionada a alta complexidade dos recursos utilizados, mas a fidelidade de reprodução da realidade clínica. 5 Percebe-se, então, que o uso da simulação realística vem sendo utilizada como tecnologia educativa para a prevenção de lesão por pressão ainda no âmbito acadêmico. CONCLUSÃO Foi possível identificar, nessa revisão, cenários de simulação realística para a prevenção de lesão por pressão. Os cenários que combinaram recursos, como uso de manequins, casos clínicos, pacientes simulados tiveram melhores resultados no aprendizado das ações preventivas. Sugere-se que sejam realizados mais estudos, como os de validação e de avaliação de cenários desenvolvidos sobre lesão por pressão a fim de contribuir para práticas mais seguras e redução/mitigação desse evento adverso.