PÊNFIGO BOLHOSO, ANDIROBA E LASER DE BAIXA INTENSIDADE
RELATO DE CASO
Resumo
Introdução: O pênfigo bolhoso é uma doença autoimune que tem seu mecanismo mediado por auto anticorpos direcionados contra duas proteínas (BP180 e BP320) presentes no complexo de adesão entre a derme e a epiderme. [1]?Trata-se de uma condição com sinais e sintomas diversos e inespecíficos, incluindo lesões eczematosas, urticariformes, papulosas e pruridos. Comumente, o pênfigo manifesta-se por meio de bolhas grandes podendo ser de diâmetro de 1 a 4 cm, com conteúdo claro e em alguns casos, hemorrágico. Essas bolhas normalmente são tensas ao toque e podem causar alteração na sensibilidade, desconforto e dor ao paciente. Estão presentes, sobretudo, em áreas flexoras, na face interna das coxas, virilhas, axilas e na região inferior do abdome, porém pode se disseminar por toda extensão do corpo, além de acometer mucosas, geralmente a bucal. [2] O surgimento desta doença pode estar relacionado ao uso de determinados medicamentos como captopril, enalapril, furosemida, cefalexina, ciprofloxacino, além da associação do pênfigo bolhoso com doenças cerebrovasculares, demências, Parkinson, epilepsia e esclerose múltipla. A maior prevalência está entre idosos, porém observa-se casos em adultos e crianças.[3]? O diagnóstico é realizado através da biópsia da lesão e o tratamento costuma ser variado e de extenso uso de terapias tópicas e medicamentosas, desde corticóides tópicos ou sistêmicos, plasmaferese, antibióticos e drogas imunomoduladoras. A variação do uso de medicamentos e terapias tópicas depende da complexidade da doença, da faixa etária e de comorbidades associadas. [4] Cuidar de pacientes com esta doença é um desafio tanto para a equipe de enfermagem quanto para a equipe médica, pois trata-se de um cuidado complexo onde o processo de cura é demorado e sofrido. Uma vez que as lesões de pele são dolorosas, com odor fétido e com predisposição a infecções. Para gerenciar estes aspectos o enfermeiro dispõe da adjuvância do laser de baixa intensidade (LBI). Objetivo: Relatar caso sobre a utilização de andiroba e Laser de Baixa Intensidade no tratamento tópico de pênfigo bolhoso. Método: estudo de caso acompanhado de janeiro de 2022 a março de 2023, em um hospital público no sul do Brasil. Dados coletados através da anamnese da paciente, realizado a revisão do prontuário, anotações de enfermagem, escala visual numérica de dor e registros fotográficos. Todas as condutas foram compartilhadas com a equipe médica, preconizando pelo cuidado holístico e integral. Os dados foram analisados de forma descritiva e os achados discutidos mediante revisão narrativa da literatura. Estudo aprovado pelo Comitê de ética sob parecer 3.520.261 e CAAE 12212519.2.0000.0121. Paciente MJ, 78 anos, sexo feminino, proveniente de Biguaçu/Santa Catarina, com histórico de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo 2 insulinodependente. Em dezembro de 2022 foi diagnosticada com pênfigo bolhoso. Em uso de redutor de colesterol, hipoglicemiante oral, anti-hipertensivo, anti-agregante plaquetário, insulina de liberação longa e curta, ansiolítico, opióide forte e anti-histamínico. Aguardava início de terapia com rituximab.?Após alta hospitalar, em 8/2/2023 iniciou acompanhamento ambulatorial com equipe médica da dermatologia e com a enfermagem. No momento da primeira consulta de enfermagem ambulatorial apresentava-se gemente, com dor relatada como insuportável (escala: 10) e extensas lesões corporais fétidas, a maioria drenando grande quantidade de exsudato sanguinolento em todos os membros, especialmente em raiz de coxas, axilas e abdômen. Estava com a filha como cuidadora principal dos cuidados, que utilizava óleo de girassol com ácidos graxos essenciais como tratamento tópico. Após avaliação, foi acordado que a paciente receberia acompanhamento e orientação da equipe de enfermagem ambulatorial semanalmente, com a conduta: limpeza da área perilesional com solução fisiológica 0,9% e clorexidina degermante; após remoção total com amplo desbridamento instrumental e rompimento das flictenas maiores com agulha hipodérmica 0,45x13 mm, conforme tolerância da paciente; aplicação de polihexametileno biguanida (PHMB); fotobiomodulação; hidrogel com gaze alva e em áreas mais exsudativas espuma com prata. Fotobiomodulação realizada com laser vermelho (660nm) em regiões peri-flictenas (3 joules/ponto) e infravermelho (808nm) no leito das lesões (2 joules/ponto). Parâmetros: potência 0,1W, área de feixe 1 cm², irradiância 1,016W/cm², modo de pulsão contínua, método pontual, posologia semanal. No segundo atendimento (15/2/2023) foi observado a redução na exsudação, odor e quadro álgico (EVA 6), porém as lesões se apresentavam muito ressecadas, o que causava maior aderência da cobertura primária e consequente aumento da dor nas trocas de curativos. Foi optado por manter as mesmas condutas, exceto a cobertura de hidrogel que foi substituída por óleo de andiroba (Tegum ®). No domicílio, a filha realizava as trocas de curativos conforme saturação e a aplicação do óleo de andiroba em média duas vezes/dia. Em 22/3/2023 recebeu alta do acompanhamento com todas as lesões cicatrizadas. Resultados: Após a primeira sessão de laserterapia paciente apresentou redução significativa do quadro álgico, evoluindo para dor graduada em 2; da quantidade de exsudação e odor; o que ocasionou melhora na qualidade e quantidade de sono, mobilidade e dor. A ação anti-inflamatória e analgésica do laser provoca a liberação de substâncias que inibem a produção de prostaglandinas e com isso obteve-se uma diminuição nos efeitos de inflamação, e, por conseguinte, maior bem-estar da paciente. Além disso, o óleo de andiroba contém em seus componentes o?óleo de melaleuca, colágeno, vitaminas?A,?E e?B6,?ceras naturais e benzoato de sódio; que promovem o alívio da dor, eritema e odor. Em 15 dias as feridas começaram a apresentar tecido de granulação e epitelização, uma vez que a produção da bioestimulação acarreta no aumento do metabolismo e consequentemente a promoção da granulação nos tecidos, regenerando assim as fibras nervosas, estimulando a formação de novos vasos sanguíneos e a regeneração dos linfáticos. O reparo tecidual total se deu em 46 dias, após quatro sessões de Laserterapia. Além disso, destacou-se a qualidade da cicatrização. Conclusão: Devido ao desafio no manejo das lesões causadas pelo pênfigo bolhoso, o tratamento com a combinação de Laser de Baixa Intensidade (LBI) e andiroba como adjuvantes se mostrou altamente eficaz. Esse enfoque acelerou significativamente a cicatrização das lesões e proporcionou alívio dos sintomas dolorosos da paciente, diminuição da quantidade de exsudação das lesões, ao mesmo tempo que reduziu os riscos de infecção, graças às propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes da LBI. Portanto, o caso desempenhou um papel importante na geração de conhecimento, trazendo novas perspectivas para o tratamento desta doença sistêmica complexa.