AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DE APLICATIVO MÓVEL PARA O AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM ESTOMIAS INTESTINAIS
Resumo
Avaliação da satisfação de aplicativo móvel para o autocuidado de pessoas com estomias intestinais INTRODUÇÃO As tecnologias móveis de saúde, conhecidas mundialmente como Mobile Health (mHealth) têm se popularizado como ferramentas emergentes no apoio aos profissionais de saúde, instituições e pacientes com condições crônicas. Essas aplicações têm diversos objetivos relacionados ao cuidado de pacientes, que incluem o monitoramento, educação, gerenciamento da doença e adesão ao tratamento.1 Os aplicativos com função de fornecer informações e funcionalidades para pacientes, sobretudo com condições crônicas, têm apresentado resultados positivos na promoção da saúde e têm sido eficazes no estímulo às mudanças comportamentais.2 Dentre as populações em condições crônicas que demandam estratégias para educação em saúde e que podem se beneficiar do uso de tecnologias móveis, destaca-se as pessoas com estomias intestinais. Esses indivíduos convivem com a exteriorização cirúrgica de uma parte do intestino na parede abdominal para a saída de fezes em uma bolsa coletora, e que demanda cuidados específicos relacionados às mudanças físicas, psicológicas e sociais.3 O principal desafio para essas pessoas após a cirurgia consiste em se adaptar às mudanças, sobretudo relacionadas ao autocuidado, uma vez que a presença do estoma requer o aprendizado de novas habilidades para os cuidados com o corpo. O autocuidado dessas pessoas não envolve apenas as demandas de gestão física, mas também necessidades emocionais para lidar com a perda do controle da saída das fezes e todo o impacto que essa condição pode gerar.3 Diante disso, a rede de apoio multiprofissional é indispensável nesse processo de adaptação, tendo o enfermeiro um papel determinante na educação em saúde desses pacientes para apoiar o autocuidado e proporcionar meios para adaptação dessas pessoas.3 Assim, esses profissionais podem utilizar as tecnologias móveis a seu favor para facilitar a educação em saúde das pessoas com estomias, bem como incentivar o uso dessas ferramentas e apoiar o processo de aprendizagem sobre o autocuidado. Entretanto, diante da ampla disponibilidade de aplicativos de saúde nas lojas digitais, é necessário estabelecer avaliações centradas nos usuários para estabelecer melhorias e padrões de qualidade, que possam viabilizar aplicativos com boas evidências e úteis para os pacientes a que se destinam.4 Assim, pacientes e enfermeiros podem se beneficiar da avaliação de aplicativo voltado para apoiar o autocuidado de pessoas com estomias intestinais para o aperfeiçoamento das funções dessa tecnologia. OBJETIVO Avaliar a satisfação do uso de aplicativo móvel desenvolvido para o autocuidado de pessoas com estomias intestinais. MÉTODO Estudo descritivo e metodológico, com abordagem qualitativa e quantitativa, realizado entre fevereiro e abril de 2023. O local de realização foi o Centro Estadual de Reabilitação e Atenção Ambulatorial Especializada – CERAE-RN, que é referência no atendimento às pessoas com estomias intestinais no Rio Grande do Norte. O estudo foi realizado com o uso preliminar do aplicativo Ostocuide, desenvolvido em trabalho anterior a partir do referencial metodológico Design Science Research. O aplicativo baseado na Teoria do Autocuidado de Orem, possui 36 telas e menus que englobam diversos aspectos do autocuidado, como cuidados com a estomia, bolsa coletora e pele periestomal, complicações, atividades físicas e de lazer, direitos, associações e centros de reabilitação, diário de cuidados, opção de contato e quiz interativo. O intuito do aplicativo é apoiar, com informações e funcionalidades, o autocuidado da população com estomias. Os participantes do estudo foram 11 pessoas com estomias intestinais, conforme o mínimo de 8 recomendado para avaliação de softwares, cadastradas no CERAE-RN, selecionadas por conveniência, que obedeciam aos critérios de inclusão: ter 18 anos ou mais, possuir estomia intestinal, ser cadastrado no CRI/CRA e possuir capacidade visual e motora para o manuseio do aplicativo. Excluiu-se analfabetos ou que possuíam algum déficit diagnosticado em prontuário que impedia a compreensão e manuseio do aplicativo. O instrumento de coleta envolveu questionário sobre a caracterização sociodemográfica e clínica, perguntas fechadas adaptadas de instrumento validado5 sobre aspectos de satisfação e duas perguntas abertas: “você tem alguma crítica ou sugestão referente ao aplicativo?” e “a experiência em conhecer o aplicativo foi satisfatória?”. Os pacientes eram convidados a participar da pesquisa e, após aceite, assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os pesquisadores forneceram instruções padronizadas de uso do aplicativo e a pessoa com estomia, então, realizava o manuseio livre, com acompanhamento do pesquisador, para o caso de dúvidas, o qual não realizava interferências. Após esse procedimento, o paciente respondia aos instrumentos. Todas as sugestões de modificações foram acatadas pela pesquisadora e o aplicativo agora passa pelas mudanças sugeridas, em parceria com equipe de profissionais da Tecnologia da Informação. Os dados foram tabulados e o conteúdo das perguntas abertas foram analisadas qualitativamente a partir do conteúdo, nomeadas de P1 a P11. Para os dados das perguntas fechadas, analisou-se conforme estatística descritiva, com frequências absolutas e relativas. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, obtendo parecer favorável nº 5.393.947. RESULTADOS Participaram da pesquisa 11 pessoas com estomias intestinais, das quais a maior parte eram do sexo feminino 6 (54,5%), pardos 8 (72,7%), aposentados/beneficiários 5 (45,5%), com renda até 1 salário mínimo 7 (63,6%), ensino fundamental incompleto 4 (36,4%) e solteiros 5 (45,5%). A maioria possuía colostomia 8 (72,7%) e tiveram como causa principal para cirurgia o câncer colorretal 3 (27,3%) e câncer de útero 3 (27,3%), além disso, tinham como permanência estomias temporárias 7 (63,6%). Quanto aos aspectos avaliados após o uso do aplicativo, todos os usuários 11 (100,0%) afirmaram que gostariam de usar o aplicativo com mais frequência, 9 (81,8%) afirmam que não precisariam de apoio técnico para usar o software e 10 (90,9%) sentiram-se confiantes após o uso do aplicativo Ostocuide. Todos os participantes afirmaram que a experiência de conhecer o aplicativo foi satisfatória. Uma participante mencionou a importância do aplicativo para o período inicial após a cirurgia. “Coisas que no início tive que aprender na marra estão no aplicativo. Quando tiver como baixar no celular ajudará muito a gente” (P7) “Gostei bastante. Muito útil para a sociedade” (P10) “Estou muito satisfeito. Ajuda muito todos nós. Quero baixar depois no celular” (P9) Com relação às críticas e sugestões para melhoria do aplicativo. Os participantes em sua maioria mencionaram a necessidade de mais imagens e mais informações em determinados ícones. “Gostaria de mais figuras explicando melhor os cuidados com as estomias” (P2) “Queria mais informações sobre atividades físicas e sobre esportes na água. Também poderia ter mais explicações sobre os ícones e uma opção buscar dúvidas que a gente possa escrever a dúvida e o aplicativo mostrar a resposta” (P6) “Acho que precisa de mais esclarecimentos sobre os cuidados com a pele, a abertura da bolsa e limpeza. Melhorar as imagens de esvaziamento da bolsa” (P10) “Mais informações sobre alimentação. Indicar para cada pessoa os cuidados necessários”. (P11) A partir da avaliação realizada, solicitou-se as seguintes mudanças no aplicativo, conforme mostra o quadro 1. Quadro 1- Mudanças solicitadas após a avaliação da satisfação. MODIFICAÇÕES ÍCONE NO APLICATIVO Acrescentar ícone sobre sexualidade Menu principal Aumentar o tamanho da fonte. Todo o APP. Acrescentar imagens. Autocuidado> Alimentação> Autocuidado> Estomias intestinais Autocuidado> Curiosidades. Autocuidado> Sexualidade. Acrescentar barra de busca para dúvidas Menu principal Acrescentar novas imagens e textos de troca da bolsa e esvaziamento. Autocuidado> Troca da bolsa> duas peças. Autocuidado>Troca da bolsa> uma peça. Autocuidado>esvaziamento da bolsa. Acrescentar novos textos sobre atividades físicas e alimentação. Autocuidado >atividade física e lazer Autocuidado > alimentação. CONCLUSÃO Todos os participantes consideraram que a experiência de conhecer o aplicativo foi satisfatória. A maioria usaria com mais frequência, sem necessidade de apoio técnico e se sentiram confiantes com o uso da tecnologia. Quanto às sugestões de melhoria, os participantes sugeriram mais imagens e informações sobre alimentação, sexualidade, cuidados com a bolsa coletora e atividades físicas. A avaliação realizada contribuiu para saber quais as impressões iniciais e satisfação dos usuários ao conhecer o aplicativo Ostocuide. Tal pesquisa auxilia no aperfeiçoamento da tecnologia, para que o produto final possa atender às expectativas e necessidades da população com estomias. Destaca-se que o estudo ainda está em andamento e o aplicativo passará por mais avaliações para que seja disponibilizado, futuramente, com segurança e eficácia.