EFEITO DE INTERVENÇÃO EDUCATIVA NO CONHECIMENTO DE ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA SOBRE CUIDADOS COM ESTOMIAS DE ELIMINAÇÃO

Autores

  • SANDRA MARINA GONÇALVES BEZERRA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI - UESPI
  • DINARA RAQUEL ARAUJO SILVA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI - UESPI
  • ALINE COSTA DE OLIVEIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
  • VERA LÚCIA CONCEIÇÃO DE GOUVEIA SANTOS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

Resumo

Introdução Apesar da evolução das técnicas cirúrgicas e da assistência a pessoa com estomia ao longo dos anos, as complicações relacionadas às estomias intestinais podem surgir e e afetar negativamente a qualidade de vida do indivíduo. O acompanhamento sistematizado do paciente após a alta hospitalar demonstrou ser uma estratégia eficaz para a redução de complicações. O enfermeiro é responsável por uma grande parte das medidas de prevenção e tratamento das complicações em estomias de eliminação intestinal, seja ele Estomaterapeuta ou generalista habilitado(1). Em relação ao cuidado da pessoa com estomia, há insegurança e pouco conhecimento científico sobre a sua prática, relacionado a adoção de condutas empíricas e a delegação aos centros especializados toda a orientação e cuidado para essas pessoas. Essa fragilidade é evidenciada nos enfermeiros da Atenção Primária a Saúde (APS) que apontam não ter o conhecimento específico para realizar o cuidado a pessoa com estomia (2). Diante do papel do enfermeiro na APS é imprescindível a apropriação do conhecimento sobre os cuidados com estomias intestinais para identificar as necessidades e direcionar o autocuidado. Assim, o presente estudo torna-se relevante ao proporcionar intervenção educativa sobre a temática e possibilitar conhecer a indicação do tipo de equipamento coletor e adjuvantes, considerando o tipo de estomias, as necessidades individuais e a prevenção de complicações da estomia e pele periestomia. Objetivos Avaliar o efeito de intervenção educativa no conhecimento de enfermeiros da Atenção Primária a Saúde sobre cuidados com estomias intestinais de eliminação. Métodos Estudo do tipo prospectivo quase- experimental de grupo único, realizado em um município do nordeste brasileiro. A população do estudo compreendeu enfermeiros da APS, foram incluídos: enfermeiros com no mínimo seis meses de atuação no cargo. Foram critérios de exclusão: não ter participado de uma das etapas da intervenção educativa. A amostragem foi não probabilística, do tipo por conveniência. A amostra final foi composta por 19 participantes. Foi utilizado um formulário para caracterizar o perfil do enfermeiro quanto a aspectos sociodemográficos e formação profissional. Para avaliação dos saberes, foi utilizado o Instrumento de Avaliação do Conhecimento de Enfermeiros sobre Estomias (IACEE), elaborado no Brasil e cuja versão final obteve IVC global de 94% e Coeficiente Kappa de Fleiss perfeito 1,00 (3).O instrumento é composto por 39 itens, divididos em 7 domínios: Conceito (2 itens), Indicação (1 item), Classificação (1 item), Assistência de enfermagem no pré-operatório (11 itens), Assistência de enfermagem no pós-operatório imediato (15 itens), Assistência de enfermagem no pós-operatório mediato (3 itens), Assistência de enfermagem no pós-operatório tardio (5 itens). Cada item é respondido por meio de uma escala nominal com as opções “verdadeiro”, “falso” ou “não sei”. Para as respostas corretas, foi atribuído 1 (um) ponto e, para as respostas erradas ou ditas como “não sei”, foi atribuído 0 (zero). O escore de cada domínio é obtido a partir do somatório dos itens que o compõem, tendo como valor máximo a quantidade correspondente de itens. O escore global corresponde à soma dos escores dos domínios e pode variar de zero a 39 pontos. A coleta de dados foi realizada em etapas, a primeira foi o contato com os enfermeiros através da secretaria municipal de saúde com assinatura do TCLE e aplicação do pré-teste com o IACEE que foi respondido em uma única aplicação sem qualquer tipo de consulta a base de dados e entregue a pesquisadora logo após ser respondido. Seguiu-se com a aplicação da intervenção que consistiu em um minicurso de 30h sobre a assistência de enfermagem a pessoas com estomias intestinais de eliminação com foco na promoção do autocuidado e na prevenção de complicações. A metodologia utilizada foi aula expositiva dialogada, oficina prática e discussão de casos. Os participantes puderam manusear materiais utilizados para o cuidado com estomias, participar de prática no workshop com medição da estomia, recorte da base adesiva e adaptação de equipamento coletor, além de orientações sobre os cuidados básicos com a estomia. Após a última oficina, aplicou-se o primeiro pós- teste, também de forma única e sem consulta. No intuito de reduzir o risco de viés de memória, os participantes tiveram novo encontro presencial para aplicação de segundo pós-teste, nos mesmos moldes do pré-teste anterior, 30 dias após o término do curso. Os enfermeiros tiveram acesso livre a material de estudo, documentos e literatura para os enfermeiros no período entre o primeiro e o segundo teste. Os dados foram processados no IBM® SPSS®, versão 26.0, e, posteriormente, foram calculadas estatísticas descritivas e análise inferencial. Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para análise de normalidade dos dado, o teste de Friedman para comparação entre os três momentos, e o teste de correlação de Spearman para análise de correlação. O coeficiente de correlação foi classificado em: 0 (ausência de correlação), 0,1 a 0,39 (fraca), 0,4 a 0,69 (moderada), 7 a 0,99 (forte) e 1 (perfeita). Todas as análises foram realizadas ao nível de significância de 5%. Em todas as etapas do estudo foram respeitados os princípios éticos contidos na Resolução 466/12. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UESPI, via Plataforma Brasil, sob parecer nº 5.686.056/2022. Resultados A aplicação da intervenção educativa conferiu aumento na média de acertos no pós-teste, refletindo positivamente no conhecimento dos enfermeiros sobre estomias de eliminação intestinal. A amostra do estudo foi composta por enfermeiros, maioria do sexo feminino 14 (73,7%), com tempo médio de atuação na enfermagem de 11,5 anos e 16 (80,4%) com especialização, porém a maioria 12 (63,2%) não teve prática de cuidado a pessoa com estomias e nenhum fez curso de formação sobre a temática. O que gera fragmentação no cuidado essencial para prevenção de complicações. Em relação aos domínios: Conceito, Indicação e Classificação, a questão com menor taxa de acertos no pré-teste foi sobre indicação 3 (15,8%). O domínio 1 “Conceito” teve média crescente de 0,7 pontos no segundo pós-teste (p<0,001), com taxa de acerto inicial de 70%, e no segundo pós-teste de 93,3%. O domínio 2 Indicação, teve diferença de 0,8 pontos, com 20% no pré-teste e atingiu 100% de acerto após a intervenção (p<0,001). O domínio 3 “Classificação” teve diferença crescente de 0,5 pontos com taxa de acerto inicial de 30% no pré-teste e de 80% no segundo pós-teste (p<0,001). O domínio 4 Assistência de enfermagem no pré-operatório, teve aumento na média de 2,4 pontos com taxa de acerto no primeiro pós-teste de 72,7% e no segundo de 94,5% (p<0,001). Em relação ao domínio 5 “Assistência de enfermagem no período pós-operatório imediato”, que compreendeu 15 questões, houve um aumento de 3 pontos na média de acertos no segundo pós-teste (p<0,001). O domínio 6 “Assistência de enfermagem no pós- operatório mediato” teve taxa de acerto inicial de 76,6% e no segundo pós-teste de 93,3% e o domínio 7 “Assistência de enfermagem no pós-operatório tardio” com 92% no pré-teste e no segundo pós-teste 100% de acerto (p<0,001). Após a intervenção educativa os domínios que tiveram maior aumento no escore proporcionalmente foram os domínios 2 e 3, e, se mantiveram no segundo pós-teste. Os tópicos que esses domínios abordavam necessitavam de conhecimentos mais específicos, não sendo possível simplesmente inferir uma resposta. Já os domínios 6 e 7 obtiveram as maiores notas no pré-teste, por tratarem de questões que poderiam ser respondidas com conhecimentos gerais sobre a atuação da enfermagem. O que pode ter levado aos enfermeiros deduzirem as respostas corretas para a maioria das questões nesses domínios. Houve um aumento no escore global com diferença de 7,4 pontos (p>0,001) no primeiro pós-teste e de 8,3 pontos no segundo pós-teste (p<0,001) a taxa de acerto no pré-teste foi de 69,2% e no primeiro pós-teste 86,4% segundo pós-teste (30 dias após a intervenção) de 91,3%. A construção do conhecimento é dinâmica e no decorrer do intervalo entre o primeiro pós-teste e o segundo, outras variáveis podem ter interferido na retenção de conhecimento, como o contato com pacientes, tempo de estudar o material didático disponibilizado, dentre outros. As limitações do estudo foram o tamanho da amostra, tendo em vista que um número reduzido de participantes restringe a segurança em generalizar os resultados. Os fatores limitantes podem influenciar a quantificação dos dados diante da possibilidade de obter respostas diferentes no decorrer do tempo. O presente estudo contribuiu para demonstrar que intervenção educativa com oficinas didáticas pode melhorar o conhecimento e ter reflexos positivos na prática de enfermagem. Conclusão Conforme os resultados deste estudo, a utilização de estratégias educacionais com a junção de aula expositiva a oficina prática presencial é efetiva no processo de ensino-aprendizagem. Existem lacunas no conhecimento de enfermagem sobre o cuidado a pessoas com estomias, especialmente sobre a identificação, definição, demarcação do local para ser confeccionada a estomia, sobre as complicações imediatas e sobre o recorte da base adesiva do equipamento coletor. Verificou-se efeito positivo no conhecimento de enfermeiros da APS, sobre estomias intestinais de eliminação, após intervenção educativa.

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Publicado

2023-10-21

Como Citar

MARINA GONÇALVES BEZERRA, S. ., RAQUEL ARAUJO SILVA, D. ., COSTA DE OLIVEIRA, A. ., & LÚCIA CONCEIÇÃO DE GOUVEIA SANTOS, V. (2023). EFEITO DE INTERVENÇÃO EDUCATIVA NO CONHECIMENTO DE ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA SOBRE CUIDADOS COM ESTOMIAS DE ELIMINAÇÃO. Congresso Brasileiro De Estomaterapia. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/cbe/article/view/877