EFEITO DE INTERVENÇÃO EDUCATIVA NO CONHECIMENTO DE ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA SOBRE CUIDADOS COM ESTOMIAS DE ELIMINAÇÃO
Resumo
Introdução Apesar da evolução das técnicas cirúrgicas e da assistência a pessoa com estomia ao longo dos anos, as complicações relacionadas às estomias intestinais podem surgir e e afetar negativamente a qualidade de vida do indivíduo. O acompanhamento sistematizado do paciente após a alta hospitalar demonstrou ser uma estratégia eficaz para a redução de complicações. O enfermeiro é responsável por uma grande parte das medidas de prevenção e tratamento das complicações em estomias de eliminação intestinal, seja ele Estomaterapeuta ou generalista habilitado(1). Em relação ao cuidado da pessoa com estomia, há insegurança e pouco conhecimento científico sobre a sua prática, relacionado a adoção de condutas empíricas e a delegação aos centros especializados toda a orientação e cuidado para essas pessoas. Essa fragilidade é evidenciada nos enfermeiros da Atenção Primária a Saúde (APS) que apontam não ter o conhecimento específico para realizar o cuidado a pessoa com estomia (2). Diante do papel do enfermeiro na APS é imprescindível a apropriação do conhecimento sobre os cuidados com estomias intestinais para identificar as necessidades e direcionar o autocuidado. Assim, o presente estudo torna-se relevante ao proporcionar intervenção educativa sobre a temática e possibilitar conhecer a indicação do tipo de equipamento coletor e adjuvantes, considerando o tipo de estomias, as necessidades individuais e a prevenção de complicações da estomia e pele periestomia. Objetivos Avaliar o efeito de intervenção educativa no conhecimento de enfermeiros da Atenção Primária a Saúde sobre cuidados com estomias intestinais de eliminação. Métodos Estudo do tipo prospectivo quase- experimental de grupo único, realizado em um município do nordeste brasileiro. A população do estudo compreendeu enfermeiros da APS, foram incluídos: enfermeiros com no mínimo seis meses de atuação no cargo. Foram critérios de exclusão: não ter participado de uma das etapas da intervenção educativa. A amostragem foi não probabilística, do tipo por conveniência. A amostra final foi composta por 19 participantes. Foi utilizado um formulário para caracterizar o perfil do enfermeiro quanto a aspectos sociodemográficos e formação profissional. Para avaliação dos saberes, foi utilizado o Instrumento de Avaliação do Conhecimento de Enfermeiros sobre Estomias (IACEE), elaborado no Brasil e cuja versão final obteve IVC global de 94% e Coeficiente Kappa de Fleiss perfeito 1,00 (3).O instrumento é composto por 39 itens, divididos em 7 domínios: Conceito (2 itens), Indicação (1 item), Classificação (1 item), Assistência de enfermagem no pré-operatório (11 itens), Assistência de enfermagem no pós-operatório imediato (15 itens), Assistência de enfermagem no pós-operatório mediato (3 itens), Assistência de enfermagem no pós-operatório tardio (5 itens). Cada item é respondido por meio de uma escala nominal com as opções “verdadeiro”, “falso” ou “não sei”. Para as respostas corretas, foi atribuído 1 (um) ponto e, para as respostas erradas ou ditas como “não sei”, foi atribuído 0 (zero). O escore de cada domínio é obtido a partir do somatório dos itens que o compõem, tendo como valor máximo a quantidade correspondente de itens. O escore global corresponde à soma dos escores dos domínios e pode variar de zero a 39 pontos. A coleta de dados foi realizada em etapas, a primeira foi o contato com os enfermeiros através da secretaria municipal de saúde com assinatura do TCLE e aplicação do pré-teste com o IACEE que foi respondido em uma única aplicação sem qualquer tipo de consulta a base de dados e entregue a pesquisadora logo após ser respondido. Seguiu-se com a aplicação da intervenção que consistiu em um minicurso de 30h sobre a assistência de enfermagem a pessoas com estomias intestinais de eliminação com foco na promoção do autocuidado e na prevenção de complicações. A metodologia utilizada foi aula expositiva dialogada, oficina prática e discussão de casos. Os participantes puderam manusear materiais utilizados para o cuidado com estomias, participar de prática no workshop com medição da estomia, recorte da base adesiva e adaptação de equipamento coletor, além de orientações sobre os cuidados básicos com a estomia. Após a última oficina, aplicou-se o primeiro pós- teste, também de forma única e sem consulta. No intuito de reduzir o risco de viés de memória, os participantes tiveram novo encontro presencial para aplicação de segundo pós-teste, nos mesmos moldes do pré-teste anterior, 30 dias após o término do curso. Os enfermeiros tiveram acesso livre a material de estudo, documentos e literatura para os enfermeiros no período entre o primeiro e o segundo teste. Os dados foram processados no IBM® SPSS®, versão 26.0, e, posteriormente, foram calculadas estatísticas descritivas e análise inferencial. Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para análise de normalidade dos dado, o teste de Friedman para comparação entre os três momentos, e o teste de correlação de Spearman para análise de correlação. O coeficiente de correlação foi classificado em: 0 (ausência de correlação), 0,1 a 0,39 (fraca), 0,4 a 0,69 (moderada), 7 a 0,99 (forte) e 1 (perfeita). Todas as análises foram realizadas ao nível de significância de 5%. Em todas as etapas do estudo foram respeitados os princípios éticos contidos na Resolução 466/12. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UESPI, via Plataforma Brasil, sob parecer nº 5.686.056/2022. Resultados A aplicação da intervenção educativa conferiu aumento na média de acertos no pós-teste, refletindo positivamente no conhecimento dos enfermeiros sobre estomias de eliminação intestinal. A amostra do estudo foi composta por enfermeiros, maioria do sexo feminino 14 (73,7%), com tempo médio de atuação na enfermagem de 11,5 anos e 16 (80,4%) com especialização, porém a maioria 12 (63,2%) não teve prática de cuidado a pessoa com estomias e nenhum fez curso de formação sobre a temática. O que gera fragmentação no cuidado essencial para prevenção de complicações. Em relação aos domínios: Conceito, Indicação e Classificação, a questão com menor taxa de acertos no pré-teste foi sobre indicação 3 (15,8%). O domínio 1 “Conceito” teve média crescente de 0,7 pontos no segundo pós-teste (p<0,001), com taxa de acerto inicial de 70%, e no segundo pós-teste de 93,3%. O domínio 2 Indicação, teve diferença de 0,8 pontos, com 20% no pré-teste e atingiu 100% de acerto após a intervenção (p<0,001). O domínio 3 “Classificação” teve diferença crescente de 0,5 pontos com taxa de acerto inicial de 30% no pré-teste e de 80% no segundo pós-teste (p<0,001). O domínio 4 Assistência de enfermagem no pré-operatório, teve aumento na média de 2,4 pontos com taxa de acerto no primeiro pós-teste de 72,7% e no segundo de 94,5% (p<0,001). Em relação ao domínio 5 “Assistência de enfermagem no período pós-operatório imediato”, que compreendeu 15 questões, houve um aumento de 3 pontos na média de acertos no segundo pós-teste (p<0,001). O domínio 6 “Assistência de enfermagem no pós- operatório mediato” teve taxa de acerto inicial de 76,6% e no segundo pós-teste de 93,3% e o domínio 7 “Assistência de enfermagem no pós-operatório tardio” com 92% no pré-teste e no segundo pós-teste 100% de acerto (p<0,001). Após a intervenção educativa os domínios que tiveram maior aumento no escore proporcionalmente foram os domínios 2 e 3, e, se mantiveram no segundo pós-teste. Os tópicos que esses domínios abordavam necessitavam de conhecimentos mais específicos, não sendo possível simplesmente inferir uma resposta. Já os domínios 6 e 7 obtiveram as maiores notas no pré-teste, por tratarem de questões que poderiam ser respondidas com conhecimentos gerais sobre a atuação da enfermagem. O que pode ter levado aos enfermeiros deduzirem as respostas corretas para a maioria das questões nesses domínios. Houve um aumento no escore global com diferença de 7,4 pontos (p>0,001) no primeiro pós-teste e de 8,3 pontos no segundo pós-teste (p<0,001) a taxa de acerto no pré-teste foi de 69,2% e no primeiro pós-teste 86,4% segundo pós-teste (30 dias após a intervenção) de 91,3%. A construção do conhecimento é dinâmica e no decorrer do intervalo entre o primeiro pós-teste e o segundo, outras variáveis podem ter interferido na retenção de conhecimento, como o contato com pacientes, tempo de estudar o material didático disponibilizado, dentre outros. As limitações do estudo foram o tamanho da amostra, tendo em vista que um número reduzido de participantes restringe a segurança em generalizar os resultados. Os fatores limitantes podem influenciar a quantificação dos dados diante da possibilidade de obter respostas diferentes no decorrer do tempo. O presente estudo contribuiu para demonstrar que intervenção educativa com oficinas didáticas pode melhorar o conhecimento e ter reflexos positivos na prática de enfermagem. Conclusão Conforme os resultados deste estudo, a utilização de estratégias educacionais com a junção de aula expositiva a oficina prática presencial é efetiva no processo de ensino-aprendizagem. Existem lacunas no conhecimento de enfermagem sobre o cuidado a pessoas com estomias, especialmente sobre a identificação, definição, demarcação do local para ser confeccionada a estomia, sobre as complicações imediatas e sobre o recorte da base adesiva do equipamento coletor. Verificou-se efeito positivo no conhecimento de enfermeiros da APS, sobre estomias intestinais de eliminação, após intervenção educativa.